Ministério Público investiga 11 alegados erros médicos no CHUA

Estas acusações são feitas pela médica interna de Cirurgia Geral em Faro, Diana de Carvalho Pereira

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O Ministério Público e a Polícia Judiciária encontram-se a investigar 11 acusações de negligência médica que foram alegadamente praticadas por um médico e orientador de formação do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).

Estas acusações são feitas pela médica interna de Cirurgia Geral em Faro, Diana de Carvalho Pereira, depois de tornar públicos vários episódios decorridos no hospital entre janeiro e março deste ano.

Segundo a publicação, dos 11 doentes que fazem parte destes casos que estão agora a ser investigados, três deles morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios e “os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida”, além de um dos doentes ter estado “uma semana com compressas no abdómen”.

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Diana Pereira refere ainda que “é do conhecimento público de todos os elementos do serviço (médicos, enfermeiros, auxiliares) das competências do referido médico. Também é do conhecimento dos doentes, as competências do referido médico, uma vez que já contactei doentes que recusaram ser operados quando souberam que o cirurgião iria ser ele”.

Durante três meses, Diana Pereira sentiu “cansado e frustração em todos os sentidos”, sendo acompanhada em consultas de psicologia “desde a segunda semana do internato por não conseguir dormir bem e sentir níveis elevados de stress laboral”.

“Trabalhei sempre horas a mais, quer em dias de consultas/enfermaria, quer em dias de urgência, sendo que fui sempre escalada para turnos de 24 horas sem nunca me terem perguntado se concordava e quando por vezes pedia para fazer apenas 12 horas pelo cansaço, era alvo de discussão”, conta.

A médica acrescenta que é hiperativa e que esse facto “foi sempre alvo de chacota por parte dos meus superiores”.

“Cheguei a trabalhar 100 horas numa semana. Fui posta em causa vezes sem conta, tanto por chamar colega à telefonista como por gostar dos doentes e tentar ser empática com eles, porque nunca me senti superior a ninguém”, afirma.

Diana Pereira diz que é também alvo de chacota “quando tento arranjar cadeiras de rodas de uma senhora amputada que não saía da cama por ter o travão da cadeira avariado, fazer a barba a uma doente cujo barbeiro recusou fazer por ser mulher ou ir comprar café a uma doente desconsolada que está há um mês à espera de uma vaga numa unidade de reabilitação. Pus música para outro doente internado há quase um ano à espera de um lar, que estava deprimido e recusava comer”.

A médica, através de uma publicação nas redes sociais, conta que reuniu com a direção clínica, a direção do internato e a administração do CHUA para indicar que tinha feito a queixa na segunda-feira da semana passada.

“O diretor do serviço, também é chefe da minha ex-equipa. Não precisava de fazer uma queixa interna para ele me voltar a dizer (como aconteceu vezes sem conta) que sou uma interna do primeiro ano e não tenho que opinar. Ele conhece os casos das queixas e não decidiu fazer queixa ou afastar o cirurgião em causa. É portanto, conivente com os atos e foi também, pelo mesmo motivo, alvo das queixas”, explica.

Já no dia seguinte, a médica esteve a trabalhar nas urgências daquele hospital, com um turno de 12 horas, mas “não tinha autorização para praticar qualquer ato clínico sem supervisão”, segundo lhe disse um especialista com quem reuniu à porta fechada.

“Acatei a ordem, estive no serviço a existir e ajudar outros colegas. Mas não mereço tal tratamento nem ser apedrejada por ter feito uma queixa”, disse.

Posteriormente “inventaram uma história” difamatória alegando insanidade: “A minha queixa é referente a atos clínicos, baseada em provas com meios complementares de diagnóstico e relatos cirúrgicos. Alegam insanidade. Eu nunca fui um perigo para nenhum doente, ao contrário deles”.

Segundo a médica, o facto de alegarem insanidade servirá para que a sua queixa seja anulada, apesar de no dia seguinte “uma doente de 40 anos foi vítima de mais complicações pelas mãos deste cirurgião”.

As queixas desta médica foram também entregues à Ordem dos Médicos, à Entidade Reguladora da Saúde, à Administração Central do Sistema de Saúde, ao bastonário e ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro.

“Sei que todos conhecem a realidade do serviço de Cirurgia e todos têm medo de fazer queixa. Sei inclusivamente que há vários bons cirurgiões que se despediram há pouco tempo por não compactuarem com tais situações”, acrescenta.

Diana Pereira é natural do Porto, licenciou-se em Medicina em Coimbra, estagiou nos CHUC e frequentou os hospitais do norte, referindo que “as coisas lá também não funcionam assim. Sei que neste hospital se normalizam situações que noutro não seriam normalizadas”.

Este caso foi divulgado num fim de semana em que houve relatos das urgências do hospital de Faro estar sobrelotada com doentes em macas pelos corredores.

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1 COMENTÁRIO

  1. Quem sou eu para negar a veracidade destas declarações! Mas a pessoa que sou, foi assistida nesse hospital há uns anos (cerca de tres) e só posso dizer bem. Em todos os aspetos: simpatia, profissionalismo, atenção… da parte de médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar… custa me acreditar que, perante tanta incompetência, os profissionais e dirigentes dessa instituição não tivessem já tomado medidas. A sra doutora estagiária (?) há de ter motivos; espero que sejam apenas motivos pessoais. Sei lá, ressabiada com uma qualquer apreciação menos favorável, por mero exemplo. Fico sempre desconfiada destas notícias, penso que as soluções estão nos locais, não em praça pública. Mas talvez eu esteja completamente equivocada. E se assim for, desde já as minhas desculpas.

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