Netanyahu forçou eleições em Israel. E corre o risco de as perder

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Que eleições são estas?

Exatamente 5.881.696 israelitas estão convocados para eleger, esta terça-feira, um novo Parlamento (Knesset). Regra geral, as legislativas em Israel decorrem de quatro em quatro anos – as últimas foram em 2013. Porém, estas são antecipadas, provocadas pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que, em dezembro, solicitou a dissolução do Knesset. Bibi despedira dois membros do seu Governo (o ministro das Finanças, Yair Lapid, e a da Justiça, Tzipi Livni) a quem acusou de fazerem oposição interna. Lapid e Livni tinham-se oposto à compra de um avião oficial. A maioria das assembleias de voto abre às 7 da manhã e encerra às 10 da noite (mais duas horas do que em Lisboa).

Há um vencedor antecipado?

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Durante largas semanas, as sondagens apontavam para um empate técnico entre o Likud (direita), de Netanyahu, e a União Sionista, nova coligação de centro-esquerda liderada pelo trabalhista Yitzhak Herzog e que engloba o Hatnua de Tzipi Livni. Na reta final da campanha, a União Sionista tomou a dianteira, sendo-lhe creditados 25 deputados, mais quatro do que o Likud. Ironicamente, a quebra do Likud seguiu-se ao polémico discurso do primeiro-ministro israelita no Congresso dos Estados Unidos, a 3 de março, à revelia da Casa Branca. Também não o ajudou vários escândalos relativos aos gastos do casal Netanyahu na residência oficial em Jerusalém. Várias ilegalidades têm sido apontadas, designadamente de que a primeira dama, Sara, terá ficado com o dinheiro do depósito de vasilhame das garrafas utilizadas na residência.

Quem será primeiro-ministro?

Netanyahu encabeça a lista do Likud. Yitzhak Herzog é o n.º 1 da União Sionista e, em caso de vitória, rodará com Tzipi Livni, a sua n.º 2, no cargo de primeiro-ministro. Porém, vencendo Likud ou União Sionista, isso não significa que os líderes serão automaticamente primeiro-ministro. Segundo a legislação, o Presidente israelita atribuirá a tarefa de formação de um novo governo ao membro do Knesset que considerar ter melhores condições para formar um governo de coligação viável. Até à data, nunca um partido conseguiu formar governo por si só. Nestas eleições não será exceção: o Knesset tem 120 membros, pelo que a maioria absoluta de 61 lugares está muito distante dos resultados atribuídos pelas sondagens aos dois principais partidos.

Que partidos podem eleger deputados?

Vinte e seis partidos submeteram uma lista de candidatos ao Comité Central de Eleições, mas para ter uma representação parlamentar cada partido terá de garantir 3,25% do total de votos expressos (até agora a fasquia estava nos 2%), o que corresponderá a quatro deputados. Segundo as sondagens, os partidos com hipótese de atingir essa fasquia são: Likud (direita) de Benjamin Netanyahu; União Sionista (centro-esquerda), de Yitzhak Herzog; Lista Árabe Unida, de Ayman Odeh; Yesh Atid (centro-esquerda), de Yair Lapid; Habayit Hayehudi (direita), de Naftali Bennett; Kulanu (centro), de Moshe Kahlon; Yisrael Beitenu (extrema-direita), de Avigdor Lieberman; Meretz (esquerda), de Zahava Gal-On; e três partidos ultra-ortodoxos: Shas, de Aryeh Deri, Judaismo da Torah Unida, de Yaakov Litzman, e Yahad, de Eli Yishai.

Os israelitas árabes podem votar?

Cerca de 20% da população israelita é de cultura árabe. Cidadãos do país, têm direito a votar como qualquer israelita judeu, desde que tenham 18 anos feitos. Os palestinianos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza não podem votar – o primeiro está ocupado por forças israelitas, o último é alvo de um bloqueiro israelita por terra, mar e ar. Já os colonos judeus da Cisjordânia têm direito a voto. Desde a criação de Israel, nunca um partido árabe integrou a coligação governamental, mas, nestas eleições, espera-se um forte aumento da participação dos eleitores árabes. Pela primeira vez, três formações árabes (Balad, Ta’al e Hadash, este um partido árabo-judaico) concorrem coligadas na Lista Árabe Unida, uma consequência da nova regra dos 3,25% que torna a formação de um grupo parlamentar mais difícil e os imulsionou para uma formação única. Segundo as sondagens, deverá ser a terceira maior representação no Knesset.

Quais os principais desafios internacionais do novo primeiro-ministro?

A nível internacional, surpreendentemente, a principal tarefa do futuro primeiro-ministro é recuperar a relação com o seu principal aliado. Seis anos de governação de Netanyahu degradaram como nunca a relação entre Israel e os Estados Unidos. Obama e Netanyahu veem-se, hoje, com grande desconfiança.
Uma segunda grande questão prende-se com o programa nuclear do Irão. Paralelamente ao distanciamento em relação a Telavive, Washington empenhou-se nas negociações com Teerão, que decorrem na Suíça, visando um primeiro acordo sobre o nuclear até ao final de março. Em Israel – potência nuclear não-oficial -, essa eventualidade causa calafrios. No recente discurso no Congresso norte-americano, Netanyahu disse a palavra “Irão” 107 vezes.

Que futuro para o processo de paz israelo-palestiniano?

Benjamin Netanyahu não abandonou a retórica oficial de “Dois Estados para dois povos”, mas na prática tudo fez para a inviabilizar, impulsionando a construção de colonatos na Cisjordânia e ordenando duas operações militares na Faixa de Gaza (2012 e 2014). O diálogo israelo-palestiniano é inexistente e as ações unilaterais dos palestinianos nas Nações Unidas são disso expressão. Tzipi Livni, a nº 2 da União Sionista é grande defensora da solução de dois Estados.

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