O estado da Nação, com vista para a Grécia

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Pedro Passos Coelho sabe que este ano o debate do estado da Nação vai ter um protagonista extra – a Grécia e o NÃO que mais de 60% dos gregos disseram à cartilha oficial do euro – e tentou prevenir-se. No encerramento das Jornadas Parlamentares conjuntas do PSD e do CDS, ontem, no distrito de Setúbal, Passos criticou a “cristalização de opiniões e argumentos a que nos habituámos nestes debates” e exprimiu um desejo: que a discussão de amanhã não seja piegas.

“Muitas vezes estes debates parecem-nos uma espécie de dejá vu. Pode ser que amanhã seja diferente e possamos falar da confiança que temos quando olhamos para a Zona Euro e para Portugal. Porque é com essa confiança que vamos construir o futuro todos os dias”, afirmou o primeiro-ministro. Mas os tempos não estão para debates fáceis.

A oposição vai cavalgar a incerteza instalada na zona euro e o murro que o povo grego desferiu no estômago de Bruxelas para acusar o Governo de Lisboa de ter imposto uma austeridade cega e injustificada no país. E a maioria esgrimirá a diferença entre a estabilidade política, financeira e económica de Portugal e a situação catastrófica de Atenas para insistir na tese de que a receita resultou.

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Foi isso que o primeiro-ministro antecipou hoje em Setúbal: “de todos os países que enfrentaram situações de desequilíbrio, Portugal era o que tinha uma situação mais difícil, elevada dívida pública e privada, hábito de exigir tudo ao Estado, uma cultura democrática ainda incipiente”. Além “da transformação estrutural da economia” o PM diz que houve também “uma transformação de mentalidades”. E tenta agora virar a página: “Nos próximos quatro anos temos desafios muito grandes pela frente, um caderno de encargos para apresentar aos portugueses”. Mas as oposições não vão querer mudar de página.

Ferro Rodrigues insistirá nos sete “pecados capitais” que António Costa já apontou ao Governo de Passos e Portas: além das “mentiras na campanha eleitoral de 2011”, “o aumento do desemprego, da precariedade e da emigração”, a “asfixia da classe média”, “o aumento da pobreza e das desigualdades”, o “abandono da aposta na ciência e na cultura”, o ataque aos serviços públicos”, e a “queda brutal do investimento”. No caso do PS, a Grécia não será esquecida mas também não será o principal trunfo – afinal, a relação do Partido Socialista com o Syriza também não é um caso bem resolvido e o PS não quererá pôr o grosso das suas fichas contra o Governo na jogada grega.

O Bloco de Esquerda (BE), sim. Catarina Martins e Mariana Mortágua vão apertar Passos Coelho com os olhos postos em Atenas. O BE é o partido que mais tenta ganhar votos com o NÃO grego a Bruxelas e aproveitar a brecha que o referendo abriu para novas reivindicações na zona euro e, sobretudo, para acusar o Governo português de seguidismo nas políticas de austeridade e de, com isso, só ter prejudicado o país.

Para Jerónimo de Sousa, do PCP, a Grécia é um argumento de excelência para pôr em causa a lógica da zona euro que os comunistas há muito contestam, e daí partir para a rejeição total das políticas de austeridade.

Conclusão: a menos que novos ventos cheguem da maratona negocial iniciada em Bruxelas, haverá, como Passos previu, um cheirinho a dejá vu.

RE

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