O Jornal do Algarve e a Democracia

A crise, afirma Marcelo Rebelo de Sousa, “É uma das debilidades da nossa Democracia”

Este é um jornal livre e independente, que dentro dos condicionalismos existentes, já bateu contra algumas paredes, mas nunca deixou, como desde os primórdios, prosseguir esta dádiva que nos deram, e mais florescentes a seguir ao 25 de Abril de 1974, como um jornal de Liberdade

Subimos esta muralha por vezes inatingível com o saudoso Fernando Reis, e continuamos com Luísa Travassos.

Sabemos das brechas económicas que se abrem à imprensa regional, mas isto é um problema que os Governos parecem estranhar em vez de entranhar, mas mesmo assim, continuaremos no mesmo rumo…

Sabemos também e temos a plena consciência disso e não nos zangamos se nos apelidarem por repetidores, de estarmos sempre a bater na mesma tecla, não na defesa do Jornal do Algarve, mas na defesa, cada vez mais URGENTE de uma imprensa regional livre e independente, que se vê afogada, pelo massacre de que está ser vítima, pelos chamados donos disto tudo e até começamos a pôr em causa o Sindicato dos Jornalistas, que nunca em tempo algum foram capazes de dar a cara pela imprensa regional que emprega tantos profissionais.

Existe um ciclo cada vez mais influenciador, sobretudo pelo silêncio amedrontado, de gente daqui que está no poder, que afinal nunca fez nada a não ser estar no poder, e que se confronta com os seus próprio medos, medo de perderem a corda por onde sobem, quando tinham tudo, para em liberdade. A liberdade que vomitam a toda a hora, para assumir os valores que persistem na defesa de uma imprensa regional tão livre como PRESENTE.

Dizia no outro dia ao Jornal do Algarve, Marcelo Rebelo de Sousa, – «A Imprensa regional é muito forte no Algarve. Já foi muito mais forte, mas toda a Imprensa passa por muita dificuldade. É uma das debilidades da nossa democracia. Com a queda da publicidade, que acompanhou a pandemia, nunca mais se recuperou. O que se passa é que se tem de fazer omeletes com menos ovos. Isso é um exemplo de resistência, coragem, determinação e luta pela liberdade de Imprensa.

Mas aqui nos órgãos de Imprensa regional e local existe uma grande tradição e têm uns ‘carolas’ que aguentam tudo. Que seja um ano bom.»

Marcelo Rebelo de Sousa. foto: Rui Ochoa/PR

Esqueceu-se o Senhor Presidente da República de dizer, que os «Carolas», não aguentam apenas isso tudo, enterram as suas vidas, as suas pequenas economias, na esperança que um novo dia aconteça.

É que ao contrário, do que afirma Marcelo Rebelo de Sousa, não foi a pandemia que arrefeceu os ânimos da publicidade.

Aliás o assunto é mais grave porque mexe com as próprias decisões do governo, como escreve a nossa Directora Luísa Travassos, quando afirma: “A imprensa algarvia é forte” mas falta-lhe reconhecimento Não é novidade para ninguém que tenha um mínimo de formação cultural, que a imprensa tem uma importância enorme, não só na (in)formação da população, como na luta pela defesa da democracia e pelas necessidades mais básicas da população. Marcelo Rebelo de Sousa, a férias num recanto que encontrou a sotavento – Monte Gordo – levanta um pouco (muito pouco, em boa verdade) o véu! Homem, desde sempre ligado a jornais, sabe que a imprensa algarvia é forte. Tem razão! A sul do Tejo/Sado talvez não haja jornais tão fortes e com tanta tradição quanto os algarvios. A sotavento, o tal recanto que ele agora reencontrou para desfrutar de alguma tranquilidade, com bom tempo e águas cálidas, está uma cidade com uma tradição ancestral no que diz respeito a gráficas e a jornais. Naturalmente refiro-me a Vila Real de Santo António, onde se publicaram diversos títulos, entre muitos deles o Ecos do Guadiana, Notícias do Algarve e por fim o JORNAL do ALGARVE que, contra ventos e marés, se publica ininterruptamente desde 30 de março de 1957.

E mais adiante acrescenta: Enquanto Presidente da República, pode e deve chamar a atenção a quem de direito para que se promova legislação que permita viabilizar financeiramente um trabalho que deverá ser considerado um serviço público! É isso que fazemos diariamente! Apesar dessas sérias dificuldades, acrescidas por uma legislação que não reconhece a sua verdadeira dimensão, que não permite o apoio publicitário estatal de que carece para dar continuidade a um trabalho isento e honesto, aqui continuamos com uma equipa de cinco estrelas que não olha a meios, a trabalhar para prestar esse serviço público que é informar e reivindicar o que mais importante é para o Algarve e para os algarvios de naturalidade ou por opção. Aos nossos resistentes colaboradores, atuais e de longa data, um bem haja e o mais profundo agradecimento por não desistirem! Agradecemos também àqueles que nos ajudaram a fazer História mas chegaram à conclusão que já não vale a pena passando a dedicar-se exclusivamente às redes sociais. Recordo que, para além da sua inequívoca qualidade, o que os, verdadeiramente, notabilizou foram os jornais impressos e aqui incluo este vetusto e reconhecido semanário».

Pensamos que os responsáveis algarvios e que têm mando nessas coisas, o tal poder, que utilizem como suas as palavres de Marcelo Rebelo de Sousa, não para que num repente exista uma mudança radical nos apoios à Imprensa Regional, mas antes, um aliviar do caminho, na retoma da justiça pela sua continuidade, na libertação das esferas burocráticas, pois joga-se tanto dinheiro fora, que daria uma boa mão à sobrevivência da imprensa regional, tendo por base a publicidade estatal e autárquica, mas que regras penosas, que só servem os mais fortes, têm minado todo o seu futuro.

É um facto que a crise, continua a minguar o potencial da região. Cinco dos maiores eventos que no Algarve, por esta ocasião, sobem ao palco da história e da memória, desde os Dias Medievais, em Castro Marim, até à Noite Branca, passando pelo Festival da Sardinha Assada, em Portimão, pelo Festival do Marisco, em Olhão e pela Fatacil, em Lagoa, diga-se cinco cartazes de tremenda qualidade, voltaram ou vão estar longe das expectativas e ouve até comerciantes, que nem ganharam para as despesas. Contudo, pela informação que nos chega, e por ser evento de características muito diferentes, apenas «uma noite», a Noite Branca, transbordou…

É preciso corrigir, juntando outras vozes, à voz o actual presidente da Região de Turismo do Algarve, André Gomes, que já deu alguns sinais, de que é preciso mudar, sem mandar paredes abaixo… mas são necessários mais financiamentos para a Região. Financiamentos visíveis, a não a habitual cosmética da rima e do batom…

Estava a ver que avançava a GNR.
Tudo por causa de uma barata…

São quatro horas da matina, dentro em pouco começa o vaivém do sobe e desce dos avisões que partem ou rumam ao aeroporto Gago Coutinho, em Faro.

Acordo sobressaltado, pois num repente o belo silêncio da noite é esmigalhado pela voz solta, desesperada da vizinha do andar de cima, que não são meros gemidos de protesto, antes de autêntica violência.

Já a pé, a minha Maria faz sinal para não intervirmos. Para esperar para ver se ambos não estaríamos a ter o mesmo sonho:

-Toma!

-Toma!

-Dá-lhe tu desse lado – responde uma segunda voz.
-Agarra-a. Não a deixes escapar. – Toma, toma…
O silêncio nunca mais se renovava, mas no prédio também ninguém reage. Até parece que nem ouviram o firme recado de Sua Santidade: NÃO TENHAM MEDO…

-Malvada. Não me vais escapar. Toma, toma

-Meu Deus, não conseguimos acabar com ela…
Num repente o ruido que nos amedronta, é interrompido por alguém a bater à porta. Mas no andar onde se espalha tamanha violência, apenas se ouve agora e num estranho falar baixinho, alguém a dizer:

-Não abras. Ninguém tem a ver com o que se passa na nossa casa.
Depois regressam os diálogos da violência.

-Toma, toma. Não lhe podemos dar descanso. Temos que acabar com ela…
Enchi-me de coragem, eu que até sou um tremendo medricas, desci as escadas e gritei:

-Vizinha! Vizinha! O que é que se passa?
A resposta leva alguns segundos, que parecem intermináveis.

-Vizinho! Está tudo bem, já matámos a barata…

-Ainda bem vizinha, nós já íamos ligar para a GNR…

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