O poço Avô Quirino

Hélder Carrasqueira
Hélder Carrasqueira
Professor na Universidade do Algarve (Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo) e investigador do CiTUR (Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo), autor do livro “Hotelaria Internacional”

A estrada municipal M1334 é a linha divisória entre os concelhos de Tavira e Olhão, desde que se deixa a EN 125 e se vai até ao limite da beira-mar, já no Parque Natural da Ria Formosa. Ao longo da mesma, o elemento mais característico que se encontra é um velho poço, no lado que pertence a Tavira, no sítio de Arroteia de Baixo.

O dito poço, forrado a pedra desde o seu gargalo até ao fundo, terá entre 80 e 90 anos de existência, com a particularidade de nunca ter secado e sempre ter apresentado água de boa qualidade. O mesmo, foi uma referência para a população local até à década de setenta/oitenta, sendo que em anos de seca, quando os poços/noras próximos do mar ficavam com água salobra, a população vinha ali abastecer-se. Também os rebanhos que por ali passavam até à década de setenta, paravam para dessedentar os animais, tirando água do poço com o tradicional balde de zinco e enchendo uma pia esculpida numa pedra, colocada junto ao local (e que desapareceu nos anos oitenta).

Quando nestas décadas do século passado se recorria ao táxi como forma de transporte, os residentes davam como referência de localização para o taxista o poço, estrada acima ou abaixo, do mesmo.

Depois veio o progresso. A estrada, antes de terra/areia, foi asfaltada e o sítio da Arroteia de Baixo teve o benefício da rede de água pública. O velho poço perdeu utilidade. Porém, as coisas começaram verdadeiramente a correr mal quando lhe colocaram ao lado dois caixotes de lixo, iniciando a cobertura da recolha na zona.

Além do lixo, começou a acumular-se junto aos mesmos, os monos, ou seja, toda a classe de detritos, desde os de origem vegetal até restos de eletrodomésticos e afins, entre muitos outros elementos característicos dos designados monos. Como o espaço é exíguo e a recolha por vezes demora um mês, estes detritos chegaram a ser colocados por cima do poço, num desrespeito total pelo mesmo. Dai à degradação do seu gargalo, com perda de algumas pedras foi um pequeno paço.

E eis que finalmente foi tomada uma decisão que torna o velho poço notícia: a junta de freguesia da Luz de Tavira e Santo Estevão (União), com jurisdição na área, resolveu reparar o velho poço, voltando a dar-lhe a dignidade perdida. Acresce que lhe deu um nome: Poço avô Quirino, nome de um habitante local que contribuiu e trabalhou para a abertura do mesmo. Uma bonita homenagem.

O poço sito na Arroteia de Baixo faz parte da história e memória local. Cabe-nos a todos nós preservá-lo. Porém, pensamos que para consolidar esta atitude que a Junta em boa hora tomou, é necessário encontrar outro local para colocar os caixotes do lixo, preservando assim o poço da “inundação” de monos que o ameaça. Fica o desafio aos serviços municipais competentes.

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