“Paga-se mais 30% na fatura da água por causa das perdas dos municípios”

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Foi num dia de chuva - um bem cada vez mais escasso na região - que entrevistamos Macário Correia, presidente da Associação de Regantes do Sotavento. Em plena crise da água, fomos ouvir uma das vozes mais ativas e conhecedoras da realidade agrícola algarvia. O ex-presidente das Câmaras de Tavira e Faro e antigo secretário de Estado do Ambiente aponta um culpado para a atual situação em que vivemos (a quem não poupa críticas), falou sobre o que poderia ter sido feito, do que é urgente fazer, da sua posição sobre a dessalinizadora, da importância das barragens, da postura das autarquias e do "desequilíbrio nos sacrifícios"

JORNAL do ALGARVE (JA) - Quão dramática e grave é a situação que enfrentamos?Macário Correia (MC) - Nós temos o mais baixo armazenamento de que há registos nas albufeiras do Algarve. Num conjunto de nove ou 10 anos secos, que têm sido os últimos, as barragens foram perdendo capacidade de armazenamento. Há menos água do que no ano passado nesta mesma altura. Isso significa que não temos água suficiente para as necessidades. Nós precisamos de cerca de 70 hectómetros cúbicos para o ciclo urbano e nas albufeiras na ordem dos 35 hectómetros cúbicos para o regadio agrícola. Para o ciclo urbano, que é prioritário, faltam-nos à volta de uns 20 a 25 hectómetros cúbicos. Em janeiro as albufeiras subiram um pouco e vamos ver se há chuva em fevereiro para subirem outra vez mais um pouco, mas ainda estamos com um défice de sete a oito hectómetros cúbicos em relação àquilo que são contas que o próprio Governo e a Agência Portuguesa do Ambiente fizeram. Os cortes que foram estimados deram a prever que, no primeiro trimestre de 2024, iriam escorrer para as albufeiras 35 hectómetros. Neste momento escorreram cerca de 27 e, portanto, para essas contas ainda faltam uns oito e daí ainda temos que contar com evaporação e depois, se chover mais, começamos a ter alguma folga para aliviar algumas restrições.

JA - Na sua ótica, porque que não foram tomadas medidas de mitigação dos efeitos da seca atempadamente? Não era conveniente, os decisores iriam perder de votos, havia falta de dinheiro?MC - Nos governos é suposto estarem estadistas visionários, estrategas, pessoas com um grau de intelectualidade superior e com uma visão a longo prazo. Todavia temos tido governos que não têm esse tipo de pessoas e depois alguns são eivados de filosofias estranhas que não têm a ver com a realidade do mundo. Estes últimos governos tiveram um ministro [João Pedro Matos Fernandes] que era contra as barragens e nunca explicou o porquê. Quando alguém é contra as barragens é contra a economia, a população, contra o desenvolvimento. Esse ministro desempenhava a função de uma forma perfeitamente inadequada aos tempos que correm e às necessidades. Vendo uma série sucessiva de anos secos não tomou qualquer decisão, tendo até atitudes de alguma arrogância mental, de superioridade perante outras pessoas que o abordavam de uma forma humilde e honesta com sugestões para os problemas. É esse senhor e esse governo que são responsáveis pelas decisões que não se tomaram.

JA – Hoje, que medidas urge tomar para disponibilizar água em quantidade e qualidade para os algarvios?MC - Para este verão, no imediato, a única coisa que se pode fazer é equilibrar os cortes. Para os próximos anos, aquilo que se deve fazer é arrancar rapidamente com aquilo que está previsto e tem financiamento – que é uma dessalinizadora e a ligação ao Pomarão. Depois acho que se deve fazer a barragem da Foupana, a barragem do Alportel e uma barragem também na ribeira de Monchique. Além de que há soluções que podem ser tratada...

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