Pais & Filhos, SA

Diz a sabedoria popular que filho de peixe sabe nadar e que quem sai aos seus não nega a geração. Mas contra essa sabedoria, como costuma acontecer na filosofia do povo, também há sentenças opostas. Neste sentido, a mais antagónica de todas fala da degenerescência moral no elevador social proveniente do século XIX – pai ganhão, filho barão, neto ladrão.

Restrinjamo-nos, pois, ao simplesmente óbvio – Há famílias de torneiros, de músicos, de médicos, de professores, de juristas e, naturalmente, também de políticos. O meio familiar influencia, como é bem de ver. O mesmo acontece com namoros e casamentos – É natural que a taxista arrume a sua vida com o taxista, e o advogado com a solicitadora, e o hoteleiro com alguém do pessoal da hotelaria, a cantora com o pianista. É natural que as pessoas encontrem as pessoas que lhes dizem respeito nos ambientes profissionais que frequentam. Que mal há nisso? E, portanto, quem se admira que os filhos dos políticos tenham propensão para a política, e que se formem famílias onde todos os são? – Repito que filho de peixe sabe nadar e quem sai aos seus não nega a geração. O problema levanta-se quando o facto de se ser filho deste e daquele tem prioridade no acesso a patamares que a outros, por vezes com muito mais competência, lhes são vedados. O povo cala e consente, mas a credibilidade das instituições vai-se deteriorando, deteriorando, sem parar.

O verdadeiro problema é que aquilo que vai acontecendo nas altas esferas vai-se tendo conhecimento porque existe um escrutínio público severo, mas não assim nos departamentos das instituições regionais e locais. Por aqui, onde tudo é vizinhança e proximidade, o descrédito campeia embora só se faça sentir a meia voz. Por exemplo, é sabido que a grande maioria dos concursos públicos são peças de fantoche, que os critérios de avaliação são distorcidos, que a incitação ao concurso é uma farsa, que os lugares estão predestinados ainda antes de se abrir o concurso. Este lugar é para o primo, aquele para a comadre, aquele para o compadre, aquele outro para o filho e ainda um outro para o irmão que já lá está- Se isto é novo na democracia portuguesa? Não é. Nos idos anos noventa havia departamentos do Estado que albergavam três gerações, avô, filha e netos. Não sei se melhorou, estou em crer que não.

A prova é que no passado dia 25 de Abril recebi o lamento de alguém que sendo vítima de sucessivos enganos, todos com assinatura prévia a favor de quem já estava indigitado antes de cada concurso, descrevia amargamente a situação no Algarve rematando – Terá sido para isto que vocês fizeram uma Revolução? A resposta é NÃO, não foi para isto. Mas, lamentavelmente, sendo a democracia o menos imperfeito dos regimes, entre nós ela tem esta triste barriga mole que alimenta o medo, a desconfiança e a desilusão. Continuem a alimentar esta vergonha local e não se admirem daquilo que, de um momento para o outro, possa acontecer num território social tão vulnerável como é o Algarve.

Flagrante evidência: Pérfido será que quem deve ter inteligência natural não vá além da inteligência artificial.

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