Prevenção da diabetes podia poupar milhões ao Estado

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A diabetes consome cerca de oito por cento do orçamento da saúde, ou seja, mais de mil e duzentos milhões de euros

No dia mundial da diabetes, a epidemia que não para de crescer, dois escritores contam ao Expresso como vivem com a doença que todos os anos custa milhões de euros ao Estado

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A diabetes é a primeira causa de amputações, cegueira e insuficiência renal com necessidade de diálise, diz ao Expresso o presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a propósito do dia de hoje em que, em todo mundo, se evoca a doença.

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Segundo o médico Luís Gardete, esta “epidemia” é ainda a primeira causa de enfartes e consome cerca de oito por cento do orçamento da saúde, ou seja, “mais de 1200 milhões de euros, em crescimento acelerado devido aos maus hábitos de vida, isto é, má alimentação e sedentarismo, bem como ao envelhecimento da população”.

Para combater o sedentarismo, António Paes Duarte, especialista em Medicina Interna, recomenda aos seus doentes pequenas estratégias com efeito a longo prazo, como por exemplo, aumentar diariamente o número de passos.

“Peço-lhes que comprem um pedómetro e que comecem por contar o número de passos que dão diariamente. A partir daí, o desafio é dar mais cem passos todos os dias”, conta o Paes Duarte.

“Para o conseguir, sugiro que deixem o carro um pouco mais longe do local de trabalho ou que saiam do autocarro uma paragem antes”, contou ao Expresso.

Recusando olhar para a prevenção da diabetes como uma questão moral, Paes Duarte defende que a melhor forma de prevenir a doença é “andar a pé, comer menos e não se deixar engordar”.

Segundo Luís Gardete, da APDP, apesar de “Portugal ter um exemplar programa nacional para a diabetes que nos últimos anos tem dados passos largos no sentido de levar para o terreno as orientações nele contidas, a diabetes tem aumentado muito e urge desenvolver programas de prevenção, transversais a vários sectores e ministérios, capazes de retardar esta epidemia.”

Viciado no automóvel

Entre os doentes que Luís Gardete acompanha na associação criada em 1926 para fornecer insulina aos pobres e carenciados, está o escritor Fernando Dacosta, portador de diabetes tipo II, há cerca de 17 anos.

“Descobri que sofria de diabetes numa análise de rotina, mas não lhe dei muita importância logo que percebi que a doença pode ser controlada”, disse ao Expresso Fernando Dacosta.

No seu caso, como já tinha por hábito tomar pequenas refeições ao longo do dia, não sentiu especial impacto no que toca à alimentação. Já a necessidade de fazer regularmente exercício físico deixou-o muito mais incomodado.

“Sou viciado no automóvel e protelei, até poder, a ida para o ginásio que frequento, há cerca de um ano, duas vezes por semana”, conta o autor de “As Máscaras de Salazar”.

“A coisa mais chata é fazer todos aqueles exercícios. É o que mais violenta a minha pacatez”, confessa.

Uma boa notícia

É bem provável que, mais dia, menos dia, Dacosta acabe por se cruzar nos corredores da APDP com o também escritor José Fanha, a quem a diabetes de tipo II foi detetada pouco depois dos 40 anos.

“Na altura tinha uma vida muito acelerada. Trabalhava muito, dormia mal e fumava três a quatro maços por dia. Estava gordíssimo”, lembra José Fanha, que até ficou feliz quando soube que tinha diabetes.

“Certo dia aparece-me na zona genital uma coisa estranhíssima. Na altura, pensei que poderia ter sida, o que à época era uma condenação à morte. Fui ao médico e, afinal, eram apenas fungos, aos quais os diabéticos estão mais vulneráveis”, recorda José Fanha a sorrir.

Nessa mesma altura adotou duas meninas, a Sara e a Matilde, e decidiu que tinha de ter cuidado com a sua saúde, para poder vê-las crescer.

“Decidi começar a trabalhar para ter uma velhice com um mínimo de qualidade. Deixei de fumar, comecei a fazer exercício, não como açúcar nem bebo álcool”, contou ao Expresso.

Atualmente, mede o nível de glicemia (açúcar no sangue) cinco vezes por dia, sempre antes de cada refeição, e calcula, em função do que come, a insulina que tem de injetar. Em casa, pedala durante o dia numa bicicleta estacionária e à noite aproveita para caminhar ao ar livre.

Frequentador assíduo de escolas, este autor de mais de 15 livros infantis aborda com frequência o tema da diabetes com as crianças, procurando entre a audiência quem já sofra da doença. “É raro não haver um menino com diabetes”, constata em tom de lamento.

“São inacreditáveis os lanches que os pais mandam para os filhos. Predominam os alimentos açucarados que só acabam por tornar as crianças obesas, potenciando o aparecimento de doenças como a diabetes”, alerta Fanha.

Para além da diabetes e da paixão pelas palavras, Fanha e Dacosta são ainda grandes admiradores do trabalho feito pela APDP, que classificam como “instituição fantástica” e a “melhor e mais antiga associação de diabéticos do mundo”.

Carlos Abreu (Rede Expresso)

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