Público…, mas pouco notório

Aqui no Sul do sul, que até poderia ser Marrocos, o que é público pouca gente ou ninguém dá por isso. Concurso público? O que é isso? Consulta pública? Isso o que é? Aviso público? É assim que é isso? Serviço público? Empresa pública? O que se apregoa como público, é público segundo e conforme. Varia. De manhã pode ser o que à tarde já não é e o que à noite já toda a gente esqueceu. E o que se pensa que seja igual aqui e ali, apenas se assemelha acolá, sendo o acolá a 3.ª série da folha oficial ou, em alguns casos, a folha oficial fora de série ou até apenas na série conveniente.

Pelo que se ouviu dizer, terminou a consulta pública sobre o plano ferroviário. O que é que do Algarve foi expedido para cima? Pode ter sido muita coisa, nas pouco ou nada se ouviu dizer, nem se notou assim grande ruído sobre questão tão fundamental, à exceção de um ou outro comentário de rede social onde abundam génios e eugénios. Pelo que também se ouve dizer, parece que está em consulta pública o pacote legislativo sobre habitação. Admite-se que, sobre a matéria, os comentadores que adornam os noticiários tal como outros porta-vozes de lóbis corporativos, têm tido um trabalho desmedido, e até têm descarregado as consciências autárquicas faltosas que desde 2006 têm dado uma curva quanto às casas devolutas, a não ser para dar sedes a serviços municipais longe das vistas do patrão. E quanto a mais coisas públicas, quantos concursos públicos não têm sido apenas expedientes privados para que uma multidão de protegidos não tenha entrado para os quadros da lealdade sem competência ou do favor velado com a assinatura de júris ad hoc? E quantos ajustes diretos pagos às porções não dão também uma curva a concursos que à partida deveriam legalmente ter a forma de concursos públicos?

Sobre a tal consulta pública do plano ferroviário, matéria da mais alta importância nacional e, em algumas regiões importância altíssima como no caso do Algarve, ter-se-ia esperado intensíssimos debates designadamente a nível municipal e regional. Se houve isso, pouco ou nada se deu conta. E talvez haja razões para tal silêncio e conformação – quem, por comércio de queijo, vinhos e empregozito, está de corpo e alma a norte próximo deste sul abandonado, não precisa de planos ferroviários para ir de jeep a entoar o cante, e quem esteja aqui, mas tenha NIF, CC e cantoria de eleitor mais acima, nesse tal Norte pátrio para quem tanto faz que as carruagens que circulam a norte de Marrocos cheirem mal e, sem exceção, se assemelham a comboios bombardeados em operações militares especiais, esses igualmente, não precisam de qualquer consulta pública para perceberem mais do Algarve do que qualquer algarvio para todos os efeitos. Para uns e outros, o Algarve é a sua terra privada.

Para quê consultas públicas, discussões públicas e concursos públicos, se a degradação da democracia tudo resolve?

Flagrante consulta:
“Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei,
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.”
― António Aleixo.

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