“Qualquer dia só temos o terreno que a gente pisa”. A venda da TAP segundo os passageiros

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“Espero que os compradores cumpram aquilo que está prometido e que a TAP continue a levar Portugal bem longe”. José Antunes estava ontem no aeroporto para embarcar na sua companhia que vai deixar de ser nossa, porque está desde ontem prometida ao consórcio privado liderado pelo americano David Neeleman e pelo português Humberto Pedrosa. “Um dos acionistas é português”, sublinha. “Se foi privatizada, que continue com a mesma qualidade de serviço.”

A opinião é isolada mas enquadra-se na divisão que existe na opinião pública: como revela a sondagem que o Expresso Diário ontem publicou, 42% dos portugueses estão contra a privatização, 40% são-lhe favorável. A notícia estava ainda fresca quando o Expresso falou com uma dezena de passageiros da TAP no aeroporto da Portela: o Conselho de Ministros selou esta quinta a privatização da TAP, vendendo 61% do capital.

Voltemos a José Antunes: ele é dos que está “a favor da privatização”, porque “da forma como a TAP estava era insustentável”. Não sendo “a solução perfeita”, diz, a privatização traz uma saída para a TAP, “para ver se revitaliza a empresa.”

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José Antunes é dos poucos entusiasmados. Parece mentira, mas outro José Antunes (que na verdade responde por José Manuel Antunes) tem opinião diferente: é contra. Porque é contra a onda de privatizações. “Qualquer dia não temos nada, é tudo do estrangeiro. Qualquer dia só temos o terreno que a gente pisa. Já vendemos tudo o que era bom, de empresas. A CTT e companhia. Nada português sustentável, não há nada!”.

Paulo Matos também é “contra a venda de ativos do país”. E a TAP, diz, é “das chaves-mestras da nossa identidade nacional”. É mais uma que vai, enumera: “Já foi a PT, já foi a EDP, agora a TAP. Só faltava a TAP”. Paulo Matos culpabiliza aliás a administração pela inviabilidade da empresa. Não está sozinho. “Agora, patrão novo, lavagem da casa”, prenuncia José Manuel Antunes, “despedimentos e por aí fora… Toda a gente faz isso. Não há hipótese nenhuma.”

E os voos? Alexandrina, que tem opinião favorável à privatização, é açoriana e prepara-se para regressar a casa. Esta micaelense tem como maior preocupação o que vai suceder às tarifas especiais a que tem direito enquanto cidadã insular: “Não acredito que nos tirem as tarifas especiais. Não acredito. Mas vamos esperar…” Pedro Leal, outro passageiro, completa: “Espero que mantenham os voos que faziam para os portugueses; que não prejudiquem o serviço aéreo prestado”.

“Para melhor acho que não é”, sentencia António Caparro, que se prepara para levantar no avião da TAP para o Brasil. O que lhe interessa, sublinha, é a qualidade, que ele teme que piore “por passar a privada”. Fátima Duarte, que concorda com a privatização, elogia o serviço: “Sempre gostei de viajar pela TAP. Acho que vou continuar a viajar. Espero que eles melhorem os serviços e que deem talvez outros descontos…”

“Achei que foi demasiado em cima”, dia Daniel Goulard. “Pelas minhas contas, não terá sido a altura melhor”. Este passageiro não está contra a privatização mas questiona as condições e os termos da venda: “por aquilo que a TAP representa para os privados, as coisas deviam ter sido mais ponderadas. Também sei que houve várias tentativas que não resultaram. Mas no meu conceito, é privatizar à força”. Goulard só espera que “o comprador cumpra aquilo com que se comprometeu”. Tem alguma esperança, mas muitas dúvidas. “Assim como os nossos políticos prometem uma coisa e depois fazem outra, acho que o homem também se pode arrogar o direito de fazer política à portuguesa. Infelizmente, tenho que dizer isto…”. O homem é David Neeleman, dono da Azul, que em parceria com o português Humberto Pedrosa vai passar a controlar a TAP.

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