Remate certeiro: A morte do menino Rayan

A morte do menino Rayan e o mundo em que vivemos

Isto já não vai, nem por portas, nem travessas, e inclusive, uma das esperanças de que a pandemia nos traria, é que ficaríamos mais solidários, menos agressivos, mais cooperantes e partilhando os saberes, na travessia serena, em direcção à proximidade.


Até os especialistas nestas coisas que inspiram e moldam os comandos do cérebro, que tantas e tantas vezes até se costuma enganar, desta vez repetiram a façanha e também se enganaram, porque cada vez menos, queremos saber uns dos outros, mesmo num tempo, onde O LÁ FORA, já não é TÃO LONGE como se pensa.


A pandemia veio adiar vontades, por força dos poderes, e senão vejamos. Há quanto tempo é que a Organização Mundial de Saúde, anda a correr atrás da China, num apelo quase de mãos juntas, para que se procure saber como tudo começou. E este tudo, é a pandemia. O Covid19.


E nesse longo intervalo, os laboratórios, são hoje, o verdadeiro símbolo do Tio Patinhas, e nós a caminharmos com o corpo dobrado tornados cobaias das imprecisões do mundo. Foi esta a solidariedade que nos trouxe a pandemia.


Ficámos rezingões, malcriados, agressivos, olhando aos mais fracos, não com olhar solidário e de pena, mas olhar de gozo, de prazer pela inferioridade do companheiro do lado.


São cada vez mais as ruas que aparecem cheias dos chamados malas de cartão, homens jovens, pobres, entregues aos seus dramas, abandonados pela família, e as famílias idosas abandonadas pelos filhos.


E nos outros cantos do mundo, a Correia do Norte festeja aos gritos com aplausos, todos ao mesmo ritmo, de igual modo treinados em laboratório, o lançamento de mais um míssil, que percorre milhares e milhares de quilómetros, enquanto o diabo esfrega o olho. Mas não é um míssil carregado de pão ou de medicamentos, antes orientado e alimentado para a morte, para a distribuição.


Algures em quase todos os lugares da Ucrânia e no outro lado da fronteira brincam às guerras.


Na Ucrânia as escolas deixaram de preparar as crianças para a paz. Elas agora são portadoras de treinos intensivos contra a possível invasão dos senhores da guerra. E engrossando esta dramática realidade, e em nome de uma paixão duvidosa, chegam militares dos USA, agora com o emblema da NATO, como se alguma coisa mudasse só por culpa da cor da camisola.


Na Rússia já nem se sabe quantos são vitimados diariamente pelos efeitos da pandemia, porque o que conta agora, é juntar o máximo de gente, equipá-los, e levá-los para longe dos grandes palácios, rumo a uma guerra, que ninguém acredita que aconteça, porque se assim não fosse, não seria necessário, mandar a infantaria, mesmo montada em cavalos de ferro, para uma espécie de luta corpo a corpo, quando tudo está às ordens de um clique.


Ainda nesse terreno lamacento de neve, abrem-se buracos, uma espécie de bunkers para se resistir, às resistências…

Socorristas e operacionais num trabalho profissional e abnegado para salvar o menino


Que pena, que estes fazedores de bunkers, estes construtores de buracos para a guerra, não tivessem pegado em toda essa estrutura, material e humana, e nos mesmos aviões que agora os conduzem para a guerra, agrupando essa tecnologia e tivesses corrido para Tamarot, a pequena cidade marroquina, onde morreu o menino Rayan Awram, de 5 anos de idade.


Em Tamarot, a 100 quilómetros de Chefchaouen, no norte do País, onde os marroquinos deram as mãos, oraram em silêncio e em cânticos arrepiantes, sob os holofotes do mundo inteiro, mas o mundo, ficou mais preocupado com o seu umbigo.


Não sei se o esforço e a capacidade. Se a luta de longas horas/dias, inclusive como escutámos pelas televisões, que até cavaram os últimos metros à mão, inclusive toda entrega e competência, não tivesse tido a felicidade e a alegria desejadas, sei lá, com o apoio dos vizinhos e amigos franceses ou espanhóis, os mesmo de Bruxelas. Não sabemos…

Foto do menino Rayan Awram, que o mundo chora

Não foi apenas Rayan, que morreu, foi a ilusão, e a própria utopia que se fez nascer em momento tão dramático, onde também nos guiámos pela fé e pela esperança


Agora é o nosso coração a escrever, porque vivemos sentidamente estes dias dramáticos, assim como vimos alguns canais de televisão descalibrados: «os socorristas e os operacionais estão a centímetros» …Centímetros, para quilómetros de audiências…


Repetimos, inegável, louvável e reconhecido por todo o mundo, mas acima de tudo pelo povo de Marrocos, todo o profissionalismo, paixão, estoicismo, abnegação, desprezo pela própria vida, tudo quanto foi feito por todos os operacionais e demais socorrista, mas a verdade é que O TUDO não chegou e o pequeno Ryan morreu. Cremos, que até foi o palácio real marroquino que confirmou a morte do menino de 5 anos. O rei Mohammed VI expressou as condolências aos pais do menino, com um telefonema, e depois num comunicado divulgado a todo o País.


Não foi apenas Rayan, que morreu, foi a ilusão, e a própria utopia que se fez nascer em momento tão dramático, onde também nos guiámos pela fé e pela esperança.


Por outro lado, há dois anos em Espanha, o pequeno Julen, de dois anos morreu às 13.50 do dia 13 de janeiro devido à queda no poço em Totalán, Málaga, apesar de todo o esforço de uma longa operação de resgate levada acabo durante 13 dias até ser encontrado o menino.


Tal como em Espanha, em Marrocos ninguém baixou os braços, mas o humanismo, não conseguiu vencer a crueldade do acidente… mas talvez seja possível no futuro, apesar de as vozes de todos os especialistas, que as novas tecnologias, possam vir a estar preparadas para responder a situações como a que aconteceu em Tamarot à distância de uma mão com 32 metros e inclusive capaz de evitar o desprendes das fraldas da terra.


Que mundo é este que temos, onde uns têm tudo e outros não têm nada. Onde se fura a terra para se vencer a guerra, e não se consegue furar a terra para salvar uma criança.


Que mundo é este onde vamos à lua, se calhar por que é em céu aberto, e não conseguimos descer a um inferno de 32 metros, onde morreu um menino de cinco anos.


Este será se calhar o meu momento de patetice, mas pelas crianças, por um ser humano, quem sabe se a patetice, pode ajudar as inteligências.


Alguém imagina em quanto é que já está avaliado os custos de um curto mês, que dura por enquanto o chamado conflito entre a Rússia e a Ucrânia, entre treinos, transporte de material bélico, e consequente utilização deste material, mesmo a fingir como eles dizem, e a carga psicológica que cai sobre cada membro de um país e de outro, porque ninguém faz filhos para a guerra. E dos pais e mães, a jusante e a montante, dos senhores do poder, do posso, do quero e do mando…


A humanidade está descontrolada.


As Nações Unidas atravessam um dos piores momentos da sua história, com as nações do veto, a semear o medo porque são elas que mandam.


A instabilidade no mundo, a fuga à guerra, as mortes no mediterrâneo, a Síria, o Iraque, o Irão, o Afeganistão, as longas fronteiras, entre os Estados Unidos e os seus vizinhos, sobretudo o México, são testemunhos de um mundo intermitente, de um mundo que foge à guerra, à fome, em busca do sonho, da paz, da segurança, da saúde, da educação, de um pão e por vezes em busca de uma família.


Foi sob os holofotes deste mundo, que vai escurecendo a nossa própria estatura humana, e agora tornados sombras, somos o espelho negro de uma humanidade, que sonhou que a pandemia fosse o arco de uma nova esperança, de mesmo longe estarmos perto.


Afinal, que mundo é este em que estamos a perder a esperança, de não reconhecermos força à sociedade, que apesar dos chamamentos, não encontra firmeza para entrar pelas bibliotecas da memória, e procurar entre livros e sebentas a sua própria identidade e deste modo, defender o que resta e sonhar com um novo futuro. Um novo compromisso, que humanizo os novos dias e que reforce o respeito pela humanidade.

Neto Gomes

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