Renovar abril 50 anos depois

Luísa Travassos
Luísa Travassos
Diretora do Jornal do Algarve Carteira Profissional - 588 A

Quis a agenda política, ou certos políticos, criando dúvidas e desconfianças, muitas delas inexplicáveis, que o povo português fosse chamado às urnas, no ano em que se celebram 50 anos da Revolução dos Cravos.

Numa sociedade em que a informação chega a todos das mais variadas formas, pese embora a sua indiscutível importância, é muitas das vezes dada de uma forma que pode provocar descrédito nas instituições criando uma falsa ideia de insegurança nos principais serviços do Estado. Ao mesmo tempo que a Justiça parece ser o primeiro poder, em vez de ser um dos três poderes de uma sociedade democrática, faz-se crer que temos um SNS a rebentar pelas costuras, não mostrando a sua excelência, o que permite salvar vidas por todo este país, não olhando a extratos sociais, porque não são só os mais pobres que precisam de uma saúde pública eficaz. Quando alguém, ainda que com poder económico, tem um problema de saúde sério, em determinados casos, só o SNS tem condições para o resolver.

Vem isto a propósito de, nos últimos tempos, se transmitir à população que tudo está a romper pelas costuras, parecendo que só agora há listas de espera, que só agora faltam profissionais de saúde, que só agora há falta de habitação e que só agora não temos uma justiça ao alcance de todos…

Ao mesmo tempo que o país está, internacionalmente, em alta, com as agências de rating a passar o país para o nível A, os diferentes candidatos, quer com responsabilidades políticas anteriores ou não, vêm com uma mão cheia de promessas parecendo que, na verdade, Portugal está em estado de graça e só pode ter deixado de ser um país com problemas financeiros.

Quando a promessa é grande o pobre desconfia, mas a democracia tem que vingar sobre as promessas populistas que primeiro recrutam os mais descrentes e menos esclarecidos e, caso acedem ao poder, são os mais pobres as suas primeiras vítimas.

É pois com alguma preocupação que acompanho esta campanha eleitoral. Apesar de considerar que a vida dos portugueses tem que melhorar, questiono-me como é possível responsáveis dos partidos do arco governamental prometerem aquilo que foram incapazes de levar à prática. Como vão fazê-lo agora se o não fizeram antes? Como vão aumentar o ordenado mínimo sem se preocuparem com o médio? Como vão apoiar as micro e pequenas empresas, sobrecarregadas de impostos, para conseguirem aumentar os salários que nem as grandes empresas pagam?

Quanto aos deputados eleitos pelo Algarve, verificamos que as promessas se repetem! Há mais de treze anos que se comprometeram com a construção do Hospital Central. Ainda não o temos! Voltamos a ter essa promessa, como tantas outras que não foram cumpridas. Não há um verdadeiro espírito de defesa da região que os elegeu.

Levantamento de problemas – que são muitos – os transportes, a seca, a agricultura, a falta de condições de trabalho, a sazonalidade, visitas aos diversos concelhos, hospitais, centro de saúde, tem ocupado os diferentes candidatos que se desdobram para levar as suas ideias a uma população cada vez mais descrente na classe política.

Na verdade, o Algarve, apesar de ser um dos principais contribuintes para o PIB, não tem peso político. Somos poucos.

No entanto não podemos deixar que sejam os outros a definir o futuro do país e da região. É preciso votar em consciência e não embarcar em falsas promessas populistas.

Cinquenta anos depois é mais importante do que nunca renovar Abril!

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