Rumo aos 67 anos (4)- PARABÉNS, Jornal do Algarve

Carta ao meu Mano Velho, Fernando Reis

Meu querido Mano Velho, o Jornal do Algarve, acaba de completar 67 anos. Completar e festejar, apesar do sofrimento vivido desde que nos abandonaste, também porque a vida não é eterna, mas também quem sabe, porque o Hospital de Faro, que já se chamava, CHUA – Centro Hospitalar Universitário do Algarve, não tinha, nem tem ainda um aparelho, que existe em Lisboa, a capital do País. Quem sabe se te poderia ter sido útil…

Ninguém sabe, mas pronto, quando choramos uma morte, ficamos sempre revoltados com as dúvidas que nos assaltam, e com as DÍVIDAS, que existem para com o Algarve.

Mano Fernando Reis, nem sabes o sofrimento por esta estranha e repentina orfandade, e também porque deixaste, o Mana Luísa e toda a malta do JA, com a menina nos braços, não a Menina Eva, porque isto faz parte de outra história e já te falarei dela, mas a menina, sempre menina Jornal do Algarve, porque tu barafustavas, tratavas os bois pelos nomes e até gritavas quando era necessário: «Neto, estes gajos, são uns merdas

Fernando Reis e o Jornal do Algarve, reconhecidos pela Câmara Municipal de Albufeira, na pessoa do seu Presidente, o saudoso, Carlos Silva e Sousa

Olha Mano Velho, apetecia-me referenciar uma série de nomes, mesmo sabendo que as pessoas que iria referenciar, nunca mais me iriam falar, mas eu também não lhes ficava a dever nada, porque se algum bem me fizeram, eu tripliquei a bondade, mesmo assim, não posso ignorar, apenas pelas peugadas à distância com que acompanho o teu Jornal, assim mesmo, Jornal com letra grande, que a maior decepção, nesta terrível ÉPOCA em que vivemos, foram alguns Governos, incluindo os responsáveis pelo cultura, que nunca viram na IMPRENSA REGIONAL, a resistência e o grande pilar da democracia desta santa terrinha, ao retirarem o pão da publicidade, diga-se, com obrigatoriedade, aos jornais regionais onde se inclui o afastamento que se sente, entre a CCDR e o Jornal do Algarve.

Em relação ao País, mas de forma, mais evidente em relação ao Algarve, existe aqui uma filosofia e dinâmica de abate. Primeiro abatem-se as fábricas de conservas, depois abatem-se os barcos, depois abate-se a agricultura, depois abatem-se os agricultores, depois abatem-se os jornais e as rádios locais, depois abatem-se os jornalistas.

Mano Velho, sabes táo bem como eu, que no Algarve, nos últimos vinte anos, foram abati-dos mais de 50 títulos entre jornais e rádios locais e a pró-prio RDP – Antena I, Emissora Nacional, RDP Sul, Rádio Algarve ou Rádio Alfarroba, como lhe queiram chamar, agora até mora na sua própria casa, mas raro fala e em troca do seu nome, colaram nas paredes a palavra RTP, com mais umas quantas letras. Aliás, desde o 25 de Abril, já estão quase a passar 50 anos, os vários donos disto tudo, foram enviando representantes para o Algarve, até lhe trancarem as portas e alguns até eram rapazes de más contas, que quando aqui chegaram abriram as portas a uns quantos e puseram ao fresco outros tantos, e nesses outros tantos, lá fui eu a reboque. Uma história, ainda por contar, que inclui alguns doutorados de agora, que até recebiam o ordenado sem marcar o ponto. E os nomes, Neto Gomes? Leiam, PARCELAS DA VIDA… que publicarei um dia, se eu ainda por aqui andar.

Quando fizemos 48 anos, estávamos em 2005, a RTA atribui a Medalha de Ouro, ao Jornal do Algarve

Pois é, Mano Velho, isto aqui por baixo não está nada bem, mas não deixamos de estar teimosamente em festa, até porque a malta de agora, anda quase toda contra o Jornal do Algarve e a sua gente. Um dia é contra mim, no outro é com o Fernando Cabrita, no outro é com o Fernando Pessanha, no outro é contra o Dr. Batalau, no outro é contra o que escrevia o GIGANTE E SAUDOSO, António Rosa Mendes, no outro é contra o Carlos Albino, no outro é contra a nossa Directora Luísa Travassos, que tu bem conheces. No outro dia são os espanhóis, a quem o Jornal tanto alimentou e reacendeu futuro…, enfim, mas a Luísa e as moças, com mais sal ou menos papel, MAS SEMPRE COM A DIGINIDADE E PLURALIDADE, ÚNICAS, lá vai resistindo, porque como diria o Manuel Alegre, […] há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não…[…]

Mano Velho, Mano Fernando Reis, felizmente, que ainda à malta que vai olhando para o Jornal como pode, porque faz mais quem pode, que alguém que nunca quer fazer nada e antes nos trata mal, mas a Luísa, enquanto puder, não vai deixar e por isso, devemos abraçar solidariamente e com gratidão, mas o JA merece essa justiça, o Álvaro Araújo (VRSA), Francisco Amaral (Castro Marim), Ana Paula Martins (Tavira), Osvaldo Gonçalves (Alcoutim),Rogério Bacalhau (Faro), Vítor Guerreiro (S. Brás de Alportel), Rosa Palma (Silves), Isilda Gomes (Portimão), Rute Silva (Vila do Bispo), José Gonçalves (Aljezur), Paulo Alves (Monchique), as Águas do Algarve, que mesmo com moedas pretas, como se dizia antigamente, que eram as moedas de tostão, aquelas que valiam menos, lá vão mandando alguma publicidade, pouca, mas olha, como não gastamos dinheiro em cintas, talvez nos possamos salvar e termos esperança de ainda andarmos por aqui mais umas semanas, meses, ou quem sabe, se mais uns anitos.

Lídia Jorge, um sopro comovente e esperançoso…
E já que falei em cintas, recordo o que escreveu a nossa maior ESCRITORA, LÍDIA JORGE, na página 3, da edição de 9 de Dezembro de 2021, quando o Jornal do Algarve, te chamou à capa, para dizer que nos tinhas abandonado, e cuja capa, inserimos junto a este REMATE CERTEIRO. Escreveu, ENTÃO, em certa altura Lídia Jorge, num texto que tinha como título PARA FERNANDO REIS. […] «Quanto o Jornal do Algarve lhe deve.

Quanto devemos a Fernando Reis? Não podemos dizer quanto por que o seu legado não pode ser avaliado em números. Sabemos sim, que adaptou o Jornal do Algarve aos desafios que se levantaram à imprensa regional na passagem do milénio, e que soube resistir à grande vassoura digital, que leva para o mesmo local do evanescente, quer o bom, quer o mau. A chegada, semanalmente, à nossa mesa, do jornal do Fernando Reis, ENVOLTO NUMA CINTA DE PAPEL USADO(1), aproveitado dos restos, comovia. E comoverá. É preciso ser esperançoso». […]

Fernando Reis e Neto Gomes, um pouco por todo o lado, de braço dado com o Jornal do Algarve

Mano Velho, deves estar aí em cima, a tocar, como antigamente, com a guitarra que te acompanhou para a última morada, o lindo poema da tua menina Susana, O meu pai é um pássaro. Mas é ainda com toda a cumplicidade que soltas de dentro do peito sempre enamorado pela família, – aqui deixa-me erguer a voz para te lembrar outra vez a Susana e a Marta – mas também a tua luta diária pela democracia, pela liberdade, pela transparência. Por isso te peço, que cantes os parabéns ao JA, que pode ter como pano de fundo a velha canção do Zeca Afonso: VENHAM MAIS CINCO, isto é, mais cinco meses, mais cinco anos, mais cinco mil vontades, na construção de apoios, de pessoas, sérias, que tanto te ficaram a dever, para que o JA resista, sobreviva… sem se desligar, uma vírgula de nenhum dos sinais que o trouxeram até aqui, Até estes 67 anos.

Olha Mano Velho, acaricia a guitarra, toca-lhe nas costas com suavidade, com paixão, embala-a, como ela te embalou em mil melodias, como se tivesses ao colo e a embalar a tua neta, sim a tua neta Eva, Evita… Ela é o teu novo sol… ELA É LINDISSIMA…

Oi! Mano Velho, já me ia esquecendo: OBRIGADO POR ME TERES DEIXADO ENTRAR NA TUA HISTÓRIA DE VIDA, mas não te esqueças, que tenho saudades tuas…

Deixe um comentário

Exclusivos

Lar de Demências e Alzheimer em Castro Marim acompanha a elite das neurociências

Maria Joaquina Lourenço, com os seus quase 90 anos, vai caminhando devagar, com o...
00:33:23

Entrevista a Mário Centeno

Recebemos o ilustre conterrâneo, Professor Mário Centeno nas nossas instalações. Foi uma honra imensa poder entrevistá-lo em exclusivo. O Professor, o Governador, deixou os cargos à porta e foi num ambiente familiar que nos falou, salientando que se sentia também honrado em estar naquilo que apelidou de “o nosso jornal”. Hoje, como todos os, verdadeiramente, grandes, continua humilde e afável.

O Algarve vive os desafios duma região que cresceu acima da média nacional

O Governador do Banco de Portugal, natural de Vila Real de Santo António, visitou...

Agricultura regenerativa ganha terreno no Algarve

No Algarve, a maior parte dos agricultores ainda praticam uma agricultura convencional. Retiram a...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.