Salgado debaixo de fogo por gestão ruinosa e desvio de dinheiro

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Ricardo Salgado, ex-presidente do BES e o rosto do grupo da família Espírito Santo, vai sentar-se de novo, esta quinta-feira. na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao caso BES/GES, desta vez sob fortes indícios de atos de gestão danosa e infrações especialmente graves, apontados pela auditoria forense, encomendada pelo Banco de Portugal, à Deloitte, em junho. Crimes punidos com uma pena de prisão até cinco anos, e nos casos das contraordenações com multas que poderão chegar aos cino milhões de euros. Salgado foi ouvido pela primeira vez na CPI a 9 de dezembro, numa audição de mais de 9 horas, onde foi relativamente poupado, sacudiu responsabilidades e apontou a culpa em várias direções: o Banco de Portugal, a indisponibilidade do governo para apoiar, a crise, o BESA de Álvaro Sobrinho, e o contabilista da Espírito Santo International, uma das holdings de topo do Grupo Espírito Santo (GES), que manipulava contas desde 2008.

Agora terá o caminho mais dificultado, Salgado já foi alvo de várias acusações e contradições e agora existe a auditoria forense (foram divulgadas duas partes, de um relatório que terá cinco), com a qual não colaborou, mas que lhe imputa grande responsabilidade pela derrocada do BES.

“Ninguém se apropriou de um tostão, nem na administração, nem na família, nem nos quadros diretivos”, disse Salgado. Agora a auditoria da Deloitte vem dizer o contrário. Também o contabilista da Espírito Santo International, Machado da Cruz, de ter sido sob as ordens de Salgado que as contas foram manipuladas.

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São gravíssimas as acusações identificadas nas conclusões nos dois relatórios da auditoria já divulgados, e aos atos de gestão danosa, juntam-se suspeitas de burla qualificada, falsificação e infidelidade. Os indícios estão a ser enviados para o Ministério Público.

Dinheiro de Angola em offshores

Na terça-feira foram revelados atos de gestão ruinosa na concessão de crédito do BES Angola, junto do BES, na altura os que estes bancos eram presididos, respetivamente, por Álvaro Sobrinho, e Ricardo Salgado. O segundo relatório da Deloitte aponta também indícios de que Salgado, Álvaro Sobrinho, e Amílcar Morais Pires, administrador financeiro do BES, como pelouro no BESA desde março de 2012, receberam dinheiro diretamente da conta do BES Angola no BES. “No âmbito da análise efetuada a movimentos a débito (de saídas de fundos) ocorridos nas contas de depósitos à ordem do BESA junto do BES no período entre 1 de janeiro de 2010 e 30 de junho de 2014, foram identificadas situações que (…) tinham como beneficiário entidades relacionadas com o BES, entidades mencionadas nos meios de comunicação social como tendo ligação a responsáveis do BES e/ou BESA”, lê-se na auditoria. Confirmasse assim a notícia do Expresso de 2014 que relacionava os dinheiros pagos pelo BESA a sociedades offshores atribuídas a órgãos sociais, nomeadamente Ricardo Salgado, cuja empresa era Savoices, e Amílcar Morais Pires (a Alltine), bem como a créditos que terão sido concedidos à Pineview Overseas, de Álvaro Sobrinho, empresa dona do jornal ‘Sol’ em Portugal.

Há suspeitas de que o crédito do BES ao BESA tenha ultrapassado os 3,3 mil milhões. E que a compra de obrigações do tesouro angolano, financiadas pelo Banco Espírito Santo ao banco angolano, no valor de 1,5 mil milhões de dólares, terá sido feita sem análise de risco, nem sequer registo de operação, e que até poderá ter sido desviada. Mas há mais na auditoria ao BESA: houve casos em que a gestão de tesouraria foi cruzada entre os dois bancos sem autorização formal dos órgãos competentes, falha na verificação pelos órgão internos do BES da exposição entre os dois bancos, e, entre outros, ausência de análise de risco ao BESA. São ao todo mais de 30 irregularidades detetadas na auditoria forense da Deloitte sobre Angola.

Desrespeitar o Banco de Portugal

Ricardo Salgado e sua equipa de gestão desobedeceram 21 vezes ao Banco de Portugal (BdP), de Carlos Costa, entre dezembro de 2013 e julho de 2014, revelou a primeira parte da auditoria forense da Deloitte, a 5 de março. Já o banco estava sob vigilância apertada do supervisão. O BES serviu-se da conta que o BdP exigiu para pagamento do papel comercial aos clientes de retalho, no valor de 750 milhões de euros, para pagar a clientes de private banking, entidades institucionais e a bancos que tinham dívidas do GES, nomeadamente o BCP, Montepio e Crédit Suisse. A auditoria identificou quatro atos de gestão danosa, entre eles, as cartas de conforto à Venezuela, assinadas por Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo, que garantiam o reembolso de 328 milhões de dívida da ESI, e sete financiamentos a entidades não financeiras do GES, sem documentação e numa altura em que o BdP já o tinha proibido. Entre os indícios de irregularidades encontradas estão: a concessão de financiamento a administradores sem respeito pelas regras aplicáveis, empréstimos sem garantia e movimentos financeiros sem explicação através da sociedade suíça Eurofin.

Contradições de Salgado

Na audição a 9 de dezembro, Salgado garantia: “Não houve desvios de capital para fora do banco. Ninguém se apropriou de um tostão, nem na administração, nem na família, nem nos quadros diretivos”. A auditoria vem dizer o contrário. Sobre a má gestão, Salgado disse então: “Estou de consciência tranquila (…) Em 40 anos de atividade bancária não tenho nada de que me arrependa”. A Deloitte vem apontar vários atos de gestão danosa, que a provar-se serão punidos com prisão. Como se justificará agora Salgado.

A 9 de dezembro, o ex-presidente do BES mantinha-se fiel ao que já havia dito em entrevista ao Jornal de Negócios. “Nunca dei instruções a ninguém para ocultar passivos do grupo”, referindo-se à responsabilidade do contabilista da ESI, Francisco Machado da Cruz, ao qual tinha atribuído a culpa pelo manipulação das contas a partir de 2008. Machado da Cruz, em meados de janeiro, garantiu à CPI, que foi Ricardo Salgado a decidir e a assumir pessoalmente o empolamento dos ativos da holding ESI. Disse mais. Salgado deu ordens para sobrevalorizar uns ativos e incluir outros que ou não pertenciam à ESI ou nem sequer existiam. Recorda uma conversa com Salgado: “Ó Francisco, agora vais ter de sair daqui, vais para o Brasil ou para a Bolívia”.

Salgado queixa-se de ter pedido tempo ao BdP e de este não lho ter dado. Mas o Banco de Portugal tem-se percebido terá dado tempo de mais ao ex-presidente do BES. Ontem Fernando Ulrich, presidente do BPI, disse na CPI que se tivesse recebido um presente de 14 milhões de euros, já não voltava a entrar no banco. “Se eu fizesse isso (receber 14 milhões a título de presente de um cliente, José Guilherme), nessa tarde já não entrava no banco”, ironizou. Ulrich, tal como outros responsáveis já tinham defendido, afirmou ontem que as autoridades , BdP, CMVM e Governo, deviam ter agido mais cedo.

RE

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