A Estratégia Regional de Crescimento Azul para o Algarve foi debatida na quarta-feira, dia 13 de julho, na Biblioteca Municipal Vicente Campinas, em Vila Real de Santo António, com a participação do secretário de Estado do Mar, José Maria Costa.
Durante a manhã, várias entidades e empresários ligados ao setor do mar debateram temas como a aquacultura, produção de algas, ambiente, investigação, ciência, estaleiros, indústrias navais, atividade náutica e turismo no Algarve, no concelho de Vila Real de Santo António e com a parceria das regiões do Alentejo e de Andaluzia (Espanha).
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR), José Apolinário, justificou que esta iniciativa tem como objetivo criar uma rede entre agentes públicos e privados que conseguiram financiamento para desenvolver projetos no âmbito do CRESC Algarve 2020, para posteriormente nascerem futuras sinergias.
“Urge que se faça uma avaliação conjunta sobre as 94 operações financiadas pelo quadro comunitário de apoio 2020 e que, também em conjunto, se prospetivem os próximos passos desta aposta no crescimento azul, que foi claramente assumida pelo Algarve”, explica.
O responsável considera que “a aposta no mar continuará. Os resultados do trabalho feito até então são muito animadores e, por isso, estamos apostados em fazer crescer o apoio comunitário a este setor no Algarve2030”.
Já para o secretário de Estado do Mar, José Maria Costa, “a cooperação transfronteiriça não é fácil. É preciso conhecimento, cumplicidade com os parceiros do lado de lá e muitos almoços e jantares. É isso que constrói a confiança e as relações transfronteiriças são isso, com vantagens mútuas”.
José Maria Costa considera ainda que “a qualificação é fundamental” e que “a preocupação dos empresários locais é importante e faz-se notar”, além de que “o turismo de natureza e sustentável começa cada vez mais a ser uma preocupação, pois os nossos filhos já têm essa exigência, tal como os que vêm de fora”.
O governante anunciou ainda que se está a preparar uma atualização do Plano de Ordenamento Marítimo, “uma espécie de Plano Diretor Municipal do mar português”.
Já o professor Ruben Eiras, do Fórum Oceano, considera que “temos de fazer dinheiro com o mar, mas de forma sustentável”.
Segundo o professor, tem de ser abordada “a questão da descarbonização, da mitigação dos impactos ambientais, dos vários modelos de negócio com base em sermos lucrativos, mas fazê-lo com respeito pela natureza e, em muitos casos, restaurando-a e ao seu ecossistema, sendo lucrativo e conseguindo diferenciar o produto com base nisso”.
Em relação ao turismo náutico, Ruben Eiras revela que “o cliente procura a experiência que tenha um impacto zero ou até positivo para o ecossistema. Isso significa uma nova oportunidade para que nós consigamos construir um modelo e o Algarve, em conjunto com a Andaluzia e o Alentejo, seja um exemplo europeu e mundial de como se pode fazer dinheiro com o mar de uma forma sustentável nos setores onde a região pode ser competitiva”.
Durante a sua participação, o Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro, revelou que existem até ao momento “cerca de 704 projetos aprovados”, que representam “cerca de 11% do número” do todo nacional, com a aprovação de cerca de 86 milhões de euros em candidaturas a fundos comunitários.
Para a promoção da aquicultura, existe uma verba de 37 milhões de euros, enquanto para a pesca, com medidas ligadas ao conhecimento e com parceria da Universidade do Algarve (UAlg), é de também 37 milhões de euros em aprovações.
“As melhores execuções são a nível dos investimentos a bordo e a seletividade, da parte de equipamentos para as embarcações, com uma taxa de execução que ronda os 82%. Na medida do desenvolvimento sustentável da aquicultura é de 59% e a nível da transformação e comercialização dos produtos da pesca e da agricultura de 90%”, acrescenta.
Pedro Valadas Monteiro refere ainda que em termos de fundo, estão executados no Algarve 32 milhões de euros, o que significa que foram aplicados, até ao momento, 72% das verbas.
Para o futuro, está prevista a abertura de novas candidaturas a fundos comunitários relacionados com a economia do mar.
A vice-reitora da UAlg, Alexandra Teodósio, também participou neste debate referindo que a instituição de ensino superior já graduou mais de 1000 recursos humanos “altamente qualificados na área das ciências do mar”.
No final do dia, a também professora natural de Vila Real de Santo António prometeu aos presentes a discussão da possibilidade de criar formação em construção naval.
Alexandra Teodónio anunciou ainda que existe financiamento para serem desenvolvidas duas estações marinhas, uma em Sagres e outra na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, em articulação com as entidades locais.
“É uma forma de oferecermos mais condições aos nossos estudantes para estudarem ecossistemas que já são visitados”, refere.
A jornada de trabalho terminou com uma visita aos estaleiros da Nautiber, em Vila Real de Santo António.
Ambição de navegar de VRSA até Mértola
Sobre a cooperação transfronteiriça entre as regiões do Algarve, Alentejo e Andaluzia, José Apolinário revelou que uma das suas ambições é “criar condições para garantir a navegabilidade entre o Pomarão e Mértola”, para posteriormente ser possível a navegabilidade entre Vila Real de Santo António e Mértola.
“É um investimento na ordem dos três milhões de euros, que vai dar uma nova dinâmica”, acrescenta.
O responsável acrescentou ainda que agora “é da responsabilidade de Portugal de fazer a dragagem da barra do Guadiana, pois da última vez foi feita do lado espanhol”.
VRSA vai ter aquicultura e conserveira
Durante o seu discurso na sessão final, o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Álvaro Araújo, anunciou que irá nascer um projeto de aquicultura em Monte Gordo e uma fábrica de conservas quer instalar-se no concelho.
“Está em preparação e implantação de um projeto de aquicultura, do grupo Jerónimo Martins, com 12 lotes a seis milhas da praia de Monte Gordo, onde vão fazer criação de pescado. Será também construída uma fábrica para a preparação e embalamento desse pescado, junto à Docapesca”, em Vila Real de Santo António.
Por outro lado, o autarca adiantou que não irá “deixar sossegada a Universidade do Algarve enquanto não tivermos um centro de formação profissional da área da construção e reparação naval” em Vila Real de Santo António.