Separatismo alastra pela Ucrânia

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O Governo interino da Ucrânia parece ter sido apanhado de surpresa por movimentações separatistas em regiões do leste do país, historicamente próximas da Rússia, como Donetsk, Kharkiv e Lugansk.

Na manha desta terça-feira, a polícia ucraniana desocupou um edifício do governo da província (oblast) de Kharkiv, onde separatistas russos se tinham barricado no domingo. Se Kiev está horrorizada com os desenvolvimentos, a imprensa russa prefere falar de uma “Primavera Russa” na Ucrânia.

Segunda-feira à tarde um pequeno grupo de russos proclamara a República Popular de Kharkiv. À semelhança do que ocorrera de manhã em Donetsk , exigiram a realização de um referendo para a região passar a fazer parte da Rússia, como aconteceu em março na península da Crimeia.

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Em Kharkiv, como em Donetsk, os edifícios estatais acabaram por ser desocupados. Mas em Lugansk, porém, os pró-russos continuavam barricados no edifício das forças de segurança, esta manhã, segundo o jornal ucraniano “Kiev Post”, tendo-se apropriado de armas de fogo e granadas. No sul do país, em Mykolayiv, uma tentativa semelhante fracassou.

O leste e o sul da Ucrânia são zonas industriais e com maior concentração de falantes da língua russa, que se identificam com Moscovo. Rejeitam, maioritariamente, o Governo empossado após a deposição do Presidente pró-russo Viktor Ianukovitch (natural de Donetsk), em fevereiro. O novo Governo deseja aproximar o país de organizações ocidentais como a União Europeia e a NATO. As zonas de Donetsk, Lugansk e Kharkiv vivem 10 milhões de ucranianos (de um total de 46 milhões).

O Ministério do Interior ucraniano diz ter detido 70 ativistas em Kharkiv, sem disparar um tiro. Para o ministro Arsen Avakov, tratou-se de uma “operação antiterrorista”, na qual três polícias ficaram feridos. O Presidente interino da Ucrânia, Oleksandr Turchynov, reafirma que o Estado tratará os separatistas como “terroristas”. Ontem, o Parlamento aprovou um agravamento das penas a quem cometer atos contra a integridade territorial do país.

Perigo de guerra civil

Um deputado do partido nacionalista Svoboda defendea que a Ucrânia passe a exigir vistos aos russos, para “travar o fluxo de provocadores russos”, a quem culpa pelo surto separatista. O Parlamento não tomou decisões a esse respeito e, em todo o caso, a Rússia não é a única fonte de agitadores. O próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano admite que a extrema-direita ucraniana esteja a enviar militantes para as zonas mais tensas, agravando os riscos de confronto aberto.

O perigo de guerra civil é assumido por todas as partes interessadas. A Rússia, que nega estar a alimentar as hostilidades, aconselha Kiev a não reprimir os separatistas à força. Num comunicado oficial, o Governo russo pede “a cessação imediata de quaisquer preparativos militares, que poderiam conduzir à guerra civil”. Moscovo acusa mercenários americanos e a extrema-direita ucraniana de serem responsáveis pelos tumultos, mas os Estados Unidos dizem que os mercenários são russos. O vice-primeiro-ministro ucraniano, Vitali Yarema, prometeu que o Governo evitará a violência.

O secretário-geral da NATO assumiu estar “muito preocupado” com os acontecimentos. Anders Fogh Rasmussen pediu à Rússia que retirasse as dezenas de milhares de soldados que destacou para perto da fronteira ucraniana.

Ciosas de evitar uma escalada do conflito, as potências internacionais apostam na diplomacia possível. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, anunciou reuniões com diplomatas russos, ucranianos e da União Europeia.

Fronteiras porosas

O controlo das fronteiras parece essencial para evitar a entrada de agitadores, mas o Governo de Kiev tem resistido a reforçar a vigilância. A Crimeia, hoje sob controlo russo – embora sem reconhecimento internacional – pode ser um ponto de entrada de ativistas pró-russos, mas Kiev não quer fechar as fronteiras pois continua a considerar a península território ucraniano.

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrei Deshchytsia, reconhece, ironicamente, que há “turistas políticos russos” no seu país. Também admite que fabricantes de armamento ucranianos continuam a vender armamento à Rússia. Promete lançar “uma campanha de informação no leste e sul da Ucrânia para informar os habitantes locais sobre as vantagens de cooperar com a União Europeia e mostrar que a NATO não é apenas um bloco militar, mas antes um bloco político”. A seu ver, “as empresas ucranianas que cooperarem com a União Europeia e a NATO irão beneficiar disso”.

Mas as tensões também podem surgir mais a oeste. Na fronteira entre a Ucrânia e a Moldávia fica a região da Transnístria, oficialmente território moldavo mas “de facto” independente há mais de 20 anos. As posições pró-russas desta república não-reconhecida (Moscovo dá-lhe muito apoio financeiro e logístico) começam a contagiar as povoações ucranianas vizinhas. Recentemente, uma ação de campanha europeísta foi mal recebida na aldeia urcaniana de Kuchurgan, perto da fronteira com a Transnístria.

RE

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