SMS: Os Algarvios

Ser Algarvio não é um direito, muito menos um dever. É um estado de alma. Se, por acaso, os Algarvios existirem, a alma existe. É prova suficiente e não vale a pena filosofar. Mas há dúvidas, porquanto o Algarvio é o maior enigma a sul do Tejo, a norte de Marrocos e a oeste da Andaluzia. Dizem que fala muito, mas tem andado muito calado. Dizem que lê muito, mas não se nota – se lê é às escondidas. Dizem que sabe nadar, mas também não se nota a sua propensão para nadadores-salvadores. Dizem ainda que tem uma língua, ou dialecto ou, vá lá, um linguajar próprio, mas apurando bem, isso que se diz não passa de manifestações de analfabetismo real e virtual. E do mais que se diz, designadamente que é frontal, lá isso está na cara e faz do Algarvio tudo menos moiro, visigodo ou filho de frade nascido à sombra de um chaparro. Na verdade, ser-se Algarvio não é uma espécie de nacionalidade originária, por filiação ou parentesco sanguíneo, ou pelo território onde o indivíduo nasceu sem saber que se chama Algarve. Ser filho de um algarvio ou de uma algarvia, não determina o estado de alma. E lá porque o local do nascimento é ou foi algures no Algarve, isso também não esclarece o enigma.

Admitem alguns estudiosos que o estado de alma que pode dar conta da existência de um Algarvio, pode ser adquirido por uma espécie de naturalização. Ou seja, um ser humano instala-se em Faro e bastará assim saber onde fica o Patacão ou a curva para o aeroporto, para se naturalizar Algarvio. Nada disso. A naturalização é um expediente usado circunstancialmente para subir na política, para vencer concursos públicos, para alguém se agarrar nas burocracias do Estado ou dos Municípios como a era, pior, como a erva-de-cão, mas não faz um Algarvio.

Para avolumar o enigma, acontece que o Algarvio pode não ser filho ou mesmo neto de algarvios mas ser daqui, pode não ter nascido no Algarve mas estar aqui, pode não ter pedido a naturalização, mas ser natural daqui.

Então que enigma é este? Acerta na decifração do enigma do Algarvio quem responder correctamente à seguinte pergunta: “Que animal que pela manhã, estando em Tavira, consegue ver com clareza um ramo de medronheiro na serra de Monchique, que à tarde, estando em Portimão, distingue sem erro um camarão de um carrapato que lhe apresentem lá longe em Alcoutim, e que à noite, estando em Aljezur, não troca o som dos sinos da Sé de Faro pelo de um chocalho alentejano tocado em Albufeira?”

Quem der resposta errada, pode ser tudo menos Algarvio.

Bem hajam os que responderem certo.

 

Flagrante desejo: Oxalá que os eleitores das freguesias tenham desta vez elegido Presidentes de Juntas e não apenas regedores. E se alguns regedores sobreviveram, oxalá que façam a última regência.

Carlos Albino

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