SMS: Os Trepadores

Toda a gente conhece mais ou menos esta espécie, a dos Trepadores, que mais do que nenhuma outra espécie, começou por estabelecer, em tempos remotos, a diferença entre o homo sapiens e o macaco. Originalmente, trepador que já não fosse macaco, consumia a vida nos saltos entre árvores à procura de um fruto apetitoso ou de companhia íntima, coisa que já se vê hoje. O trepador autêntico, nos tempos que correm, atuam em terrenos mais sofisticados que o das florestas. Embora os seus movimentos sejam extremamente discretos e por regra longe da gente normal, podem ser vistos à vista desarmada em alguns poucos campos da sua irresistível pre-ferência. Por exemplo, na política, na cultura, nas atividades financeiras e mais recentemente nas hierarquias – do Estado, das Autarquias, dos Partidos e de outras coisas similares tais como a marinha mercante e a generalidade das especialidades médicas e da advocacia. Mas, cuidado, nunca confundir o trepador autêntico, aquele que herda diretamente as qualidades do seu ascendente macaco com outras espécies de trepadores – há pelo menos onze espécies.

Na verdade, há os trepadores que se elevam por mérito – o trepador autêntico quando parece que se eleva é por artimanha. Há os trepadores que ascendem com honra, mas o autêntico, o tal, para ascender é capaz de arrancar olhos da mãe. Também há trepadores porque crescem, mas o tal nunca cresce, antes pelo contrário, simula diminuir-se não se importando que lhe chamem anão desde que trepe confiado na sua leveza. E como trepar é subir, há os trepadores que sobem sem peso na consciência, tão diferentes do trepador autêntico que nunca sobe – os outros é que descem ou são feitos descer. Há, no entanto, mais duas espécies muito semelhantes à do trepador autêntico e que por vezes com ele se confunde – são as espécies dos que galgam e dos escalam. Dos que galgam nenhum mal vem ao mundo, porque é um ato solitário e longe do mundo, sendo doença que trem cura. Dos que escalam, também pouco mal vem para a sociedade, embora esta muito aprecie qualquer tentativa de alguém que queira tocar com a cabeça no céu, o que é inofensivo e apenas faz currículo. Já o mesmo não se pode dizer dos trepadores que, não se elevando, nunca ascendendo, que jamais crescem, sem força e conhecimentos para subir, incapazes de galgar e tolhidos pelo medo de escalar nem que seja a mais baixa falésia de Albufeira, esses trepadores são os especialistas em grimpar, ou seja, arremessam-se seja contra com quem for e respondem com atrevimento e insolência, julgando que assim trepam. O trepador autêntico nunca assim procede e até se ri dos que apenas grimpam.

Há ainda mais quatro espécies de trepadores – os que montam, os que se empoleiram, os que se encabrita, e os que se encarrapitam. Quanto aos que montam, o Estado está cheio. Os que se empoleiram preferem ficar no patamar das Autarquias. Nos Partidos podem ser vistos em bom número os que se encabritam e por vezes, para simularem mais altura, usam saltos altos. Quanto aos que se encarrapitam, há trepadores destes na cultura, na marinha mercante, e nas especialidades médicas e da advocacia. Mas nenhum destes consegue a proeza do trepador autêntico e que é a de usufruir da diferença entre o homo sapiens e o macaco.

Bem hajam.
(Próximo episódio: Os Vira-casacas)

Flagrante desejo: Miguel Freitas é o novo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Votos para que não confunda a árvore.

Carlos Albino

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