Susana Travassos esteve em Olhão no palco dos afectos…

Numa sessão dupla, com claros contornos de música, canto e emoção, porque eu sou dos que fico ingloriamente desperto, sempre que a Susana lembra o pai, o meu Mano Velho Fernando Reis, que teve lugar em Olhão, na Associação Cultural Re-Criativa República 14, voltou a fazê-lo. Portanto, o Palco dos afectos em Olhão, no n.º 14 da Avenida da República, foi a vez e a voz de Susana Travassos,

Depois da noite, em que o tempo ficou manchado, pelo escarro comportamental de gente, em que a gente de Olhão nada tem a ver com isso. E podemos reafirmá-lo, que esta gente, ontem, num tempo bem distante teria espaço amarrado ao mastro do Caíque Bom Sucesso e depois em mar alto, seriam despachados borda fora…

Nessa noite quando descia a Avenida da República, todas as terras têm uma avenida da República, – daí a constante boca cheia da ética republicana, que a maior parte da malta não sabe o que é – em direcção ao Palco dos Afectos, não vi, e tenho dúvidas que ainda exista – pedindo desculpas pela minha ignorância – a velha e histórica sede do Sporting Clube Olhanense, ali onde morava, pelo eterno tempo que por já passava e até se separar de nós, o meu velho amigo Herculano Valente, que um dia Olhão se recusou a reconhecê-lo.

Herculano Valente, que foi medalhado por Roberto Carneiro, então Ministro da Educação, que devido à recusa de poder ser homenageado na sua terra, apesar dos esforços da organização, eu, o Armando. Alves, o Manuel Luís e o saudoso José António Guerreiro Cavaco, que assumimos este humano reconhecido, lá nos mudámos de armas e bagagens para um espaço de animação aquática, vulgo escorrega, então existente no concelho Loulé, junto à EN 125. Mas voltaremos ao tema Herculano Valente…

Agora apenas para soletrarmos outra vez a velha frase do Herculano Valente, que às vezes nos dizia: É pá! estes gajos são os piolhosos no bom sentido…

Regressemos ao Palco dos Afectos, onde reencontrei vestida da ternura dos noventa, a linda e bela Conchita Parra, com 92 anos, que ainda andou comigo ao colo e que já tem 72 anos de Olhão: – Amigo, adoro a nossa terra, mas também tenho Olhão no coração.

Susana, numa noite de encantar, no Palco dos Afectos, na Associação Cultural Re-Criativa República 14, em Olhão, acompanhada por Simon Seidl, pianista e o guitarrista vilarrealense André Ramos

No palco perante uma assistência multicultural, com duas casas cheias, que encheram o coração e um pouco mais a barriguita da Susana Travassos, acompanhada por Simon Seidl, um belíssimo pianista alemão, que trocou a Alemanha, por Moncarapacho e André Ramos, notável guitarrista vilarrealense, assistimos a um fim de tarde e depois noite cheia de encantos.

Diga-se que passou por nós um espectáculo, que pelas suas características e dimensões do espaço, pode e deve ser repetido no Algarve, pois o que vimos foi uma sessão musical, cuja multiculturalidade é apreciada pela nossa gente, mas também pela comunidade estrangeira e por três extraordinários intérpretes.

Da voz encantadora de Susana Travassos, retirámos a canção, cujo poema, a seguir transcrevemos. E fizemo-lo pelo brilhantismo da sua interpretação e pela magistral teia de acompanhamento que lhe ofereceram Simon Seidl e André Ramos.

Trata-se de um poema do “Mortal Loucura”, escrito por Gregório de Matos, na turbulenta Bahia, no século XVII. Poema musicado por José Miguel Wisnik
Gregório Matos, poeta, morreu há 320 anos!

Na oração, que desaterra a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado, dado
Pregue que a vida é emprestado, estado
Mistérios mil que desenterra, enterra

Quem não cuida de si que é terra, erra
Que o alto rei por afamado, amado
É quem lhe assiste ao desvelado, lado
Da morte ao ar não desaferra, aferra

Quem do mundo a mortal loucura cura
A vontade de Deus sagrada agrada
Firmar-lhe a vida em atadura dura

O voz zelosa que dobrada, brada
Já sei que a flor da formosura, usura
Será no fim dessa jornada nada

Na oração, que desaterra a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado, dado
Pregue que a vida é emprestado, estado
Mistérios mil que desenterra, enterra

Quem não cuida de si que é terra, erra
Que o alto rei por afamado, amado
É quem lhe assiste ao desvelado, lado
Da morte ao ar não desaferra, aferra
Quem do mundo a mortal loucura cura
A vontade de Deus sagrada agrada
Firmar-lhe a vida em atadura dura

O voz zelosa que dobrada, brada
Já sei que a flor da formosura, usura
Será no fim dessa jornada nada

João Lourenço, em flauta transversal e Sérgio Leite, ao piano, num extraordinário concerto na Igreja Matriz de Loulé

…E o extraordinário concerto de João Lourenço (flauta)
e Sérgio Leite (piano), na Igreja Matriz em Loulé

Durante sessenta minutos, no belo e renovado cenário da Igreja Matriz de Loulé, com casa cheia e tendo o altar-mor como pano de fundo, assistimos a um maravilhoso espectáculo, onde na literatura que nos chegou, se lê o seguinte resumo:

«A ária de ópera oferece uma expressão vocal facilmente reconhecível, em que o drama per música e o divertimento giocoso se manifestam através do seu caráter lírico.

Neste concerto poderá apreciar alguns dos mais belos temas de ópera interpretados pela flauta de João Lourenço, que, com o seu caráter melódico e expressivo, se funde com o virtuosismo dinâmico de Sérgio Leite ao piano e nos fazem viajar até à estética musical do bel canto dos séc. XVIII e XIX.»

Sempre muito aplaudidos, João Lourenço, em flauta transversal e Sérgio Leite, ao piano interpretaram:
Fantaisie sur “Die Zauberflote”  – Mozart (Andersen)
Souvenir du Théâtre Italien – Toulou
Una furtiva lagrima (L’Elisir d’amore) – Donizetti
Dance of the Blessed Spirits
(Orpheu et Euridice) – Gluck
Intermezzo (Cavalleria Rusticana) – Mascagni
Sonata em Dó M – Donizetti
Voi che sapete (Le nozze di Figaro) – Mozart
Carmen Fantaisie – Bizet (Borne)

Importa referir que o concerto teve o apoio da Câmara Municipal de Loulé, onde foi marcante e decisiva a colaboração da equipa do Cine Teatro de Loulé e da Paróquia de Loulé e do Padre Carlos Aquino.

Quando se mistura a qualidade e o talento, como aconteceu no Palco dos Afectos, em Olhão e na Igreja Matriz de Loulé e com a paixão solenemente vibrante da assistência, às vezes sentimos que é muito melhor sermos iluminados pela luz serena dos candelabros, que pela luz brilhante de uma estranha cultura que nos cega e nos apaga a memória.

Susana Travassos, Simon Seidl e André Ramos, em Olhão e João Lourenço e Sérgio Leite, na Igreja Matriz de Loulé, são gente que nos fazem sonhar e acreditar que no Algarve também existe a cultura que poderá não dar votos, mas traz o fascínio de que somos livres e por isso não impedimos a marcha de ninguém…

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