Tirando a guerra estamos no Verão

Esta semana, a contar do momento em que escrevo, é um período triste para todos os que, como eu, não são portistas. Claro que também este é o momento para todos os tugas que não gostam de futebol e escrevem para os provedores dos órgãos de informação, lembrarem (lembrarem, lembrarem é um eufemismo para chamar todos os nomes – maus – a quem se esqueceu de reservar os primeiros quinze minutos do noticiário para o ataque àquela siderurgia que tem nome de comprimidos para a comichão) e, em vez disso ter guardado os primeiros quinze minutos para mostrar bimbos às voltas na Avenida dos Aliados. Esta opção popular por apresentar Pinto da Costa a chamar Varandas ao Varandas (andaram a fazer o jogo deles, agora aguentem-se), em vez de imagens de Putin/Zelensky, tanques, misseis e aviões, parece-me, quase sempre, a relação entre os Pet Shop Boys e a música. Andam sempre ali no fio da navalha entre o popularucho e o culto num exercício de estica e encolhe que tem os seus problemas, mas também virtudes. Sabemos que ainda não começou a época dos fogos e que, quando começar, os soldados da paz vão pedir meças à guerra com tiros, no início dos noticiários, mas o campeonato de futebol, pode aparecer, uma vez sem exemplo, no início do noticiário, penso eu de que. Cá o jovem, está com dúvidas sobre quem vai ganhar a guerra, e sem dúvidas sobre os seus horrores, mas também com a certeza que mais informação não quer dizer melhor informação. Mas isso já era sabido, mesmo antes de ter nascido a CNN Portugal.
Os, como agora se diz (hi, hi, hi), curadores dos canais que passam filmes, foram descobrir – a reboque da invasão russa – sabe-se lá onde, fitas em que os russos são os maus e os norte-americanos os excelentes. Percebo que não deve ser difícil descobrir, no meio do que a indústria do cinema norte-americana mensalmente produz, filmes sobre sabotagens a linhas de caminho de ferro inimigas e libertação de reféns submetidos às mais bárbaras agressões, mas mesmo assim deve ser um trabalho duro. Lembro-me que por altura da tomada de poder no Afeganistão, lá mostraram, durante semanas, o que havia em palácio e que metesse, América, reinos ricos e corruptos em pleno deserto e islâmicos fanáticos e perigosos, o que podia ser apenas um lugar-comum, mas infelizmente é bem mais do que isso.
Outro dia, parei na CMTV e não é dei de caras com um apontamento sobre um tiroteio em pleno bairro do Cerco no Porto. Se bem me pareceu, no filme feito por um – como se diz na estação – popular, ouvia-se três tiros. Pois a estação do sangue montou tudo aquilo como se fosse um sem-fim, vezes e vezes sem conta tiros, tiros e mais tiros. De três tiros passámos para umas dezenas e transformámos tiros num bairro português para um aquecimento em direcção à guerra na Ucrânia. Não há nada como realmente.

Fernando Proença

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