Turquia autoriza combate ao Estado Islâmico

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O Parlamento turco aprovou esta quinta-feira uma moção que permite ao exército entrar no Iraque e na Síria para se juntar à campanha internacional de combate a posições de jihadistas do Estado Islâmico, liderada pelos EUA. A resolução, que reuniu 298 votos a favor e 98 contra, autoriza também que tropas estrangeiras usem o território turco para as operações da campanha militar. Desta forma, os norte-americanos poderão usar a sua importante base áerea de Incirlik, no sul do país.

França, Reino Unido, Dinamarca e Holanda estão na linha da frente de combate aéreo nesta coligação internacional contra o Estado Islâmico no Iraque. Já os ataques conduzidos na Síria, também aéreos, contam com a participação do Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Qatar.

Ancara tem sido criticada por não assumir um papel ativo nesta campanha militar contra o EI e permitir um fluxo contínuo de jihadistas e recursos para a Síria. Acusação negada de forma acérrima pela Turquia, que partilha cerca de 1250 quilómetros de fronteira com a Síria e o Iraque, países cujo Norte está largamente tomado pelos terroristas.

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Se inicialmente, a relutância da Turquia em atacar o EI apoiava-se na necessidade de zelar pela proteção dos 49 diplomatas e respetivos familiares turcos raptados pelos jihadistas em Mossul, no Norte do Iraque, a 11 de junho passado, essa deixou de fazer sentido após a libertação dos reféns a 20 de setembro.

Questões-chave: a cidade de Kobani e um túmulo na Síria

Os rápidos avanços do EI em Kobani, cidade situada na fronteira sírio-curda, horas antes da votação parlamentar, terão tornado mais pesada a pressão para a Turquia avançar com uma solução militar. Há duas semanas que a cidade está a ser ameaçada pelos terroristas, levando cerca de 150 mil pessoas a abandonar as suas casas.

Outra questão que poderá ter sido crucial para a decisão desta quinta-feira é o túmulo de Suleyman Shah, chefe militar que, mais do que pelos seus feitos, marcou a História por ser avô de Osman, aquele que viria a dar nome à dinastia Otomana, linhagem que governou um dos maiores impérios que a Humanidade conheceu.

O túmulo, que data de 1236, está situado na atual Síria, não longe da cidade de Kobani. O importante simbolismo do monumento para os turcos levou a que, em 1921 – era a Síria uma colónia francesa -, Paris concedesse à Turquia aquele lugar, tornado-se a partir daí um enclave turco com guarda permanente.

A atual e “crescente falta de segurança” devido aos avanços do EI nas imediações do túmulo terá sido um dos motivos da moção debatida no Parlamento, avançava esta quinta-feira a agência de notícias turca Anadolu.

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, havia desmentido na quarta-feira que o local estavisse cercado pelo Estado Islâmico. “Se fosse esse o caso, a resposta da Turquia seria clara e concisa”, dizia então o chefe de Estado perante o Parlamento.

PKK e regime de Bashar al-Assad na mira

A campanha militar turca contra o Estado Islâmico está de antemão condicionada por dois elementos: os separatistas curdos e o regime sírio de Bashar al-Assad. A moção aprovada esta quinta-feira no Parlamento não refere apenas o Estado Islâmico, mas autoriza ação militar “para combater ataques dirigidos ao país por parte de todos os grupos terroristas na Síria e no Iraque.”

Ao contrário dos curdos do Iraque, os curdos que combatem os jihadistas na Síria, e que neste momento estão a defender Kobani dos terroristas, são ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Ora, o PKK, que luta desde 1984 pela criação de um Estado autónomo no Sudeste da Turquia, é classificado como organização terrorista pela Turquia, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Outra questão que compromete a ação turca contra os jihadistas é o regime sírio de Bashar al-Assad. Ancara teme que o combate aos jihadistas sunitas do EI na Síria venha a fortalecer o regime xiita de Assad, que trava uma guerra civil com os rebeldes desde 2011, que já matou mais de 190 mil pessoas.

“Não esperem ações imediatas” afirmou o ministro da Defesa turco, Ismet Yilmaz, quando questionado pela agência Associated Press acerca do que se pode esperar do início das operações turcas.

O Presidente turco Recep Tayyip Erdogan lembrou na quarta-feira perante o Parlamento que as “bombas” no combate ao EI são uma solução “provisória” e que é preciso definir uma estratégia a longo-prazo.

“A nossa prioridade vai continuar a ser a queda do regime sírio, a ajuda à integridade territorial da Síria e o encorajamento a um sistema de governo parlamentar, constitucional, que acolha todos os cidadãos”, anunciou.

Levar cerca de milhão e meio de refugiados de volta a sua casa, na Síria, foi uma prioridade apontada por Erdogan, referindo-se ao enorme fluxo de pessoas que acorreram à Turquia para fugir ao terror dos jihadistas.

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