Um jiadista da lista da Sky News passou por Portugal

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Neste preciso momento, há investigadores da Polícia Judiciária, operacionais dos serviços de informações e jornalistas de todo o mundo a analisar as centenas de fichas em árabe já disponíveis de jiadistas estrangeiros que combatem no autodenominado Estado Islâmico (Daesh).

O Expresso apurou que para já existe o caso detetado nestas listas de um jiadista marroquino que passou por Portugal. Chama-se Abu Bilal, tem 23 anos e também passou por Espanha e França antes de rumar para a Síria em 2013.

Segundo as informações contidas na sua ficha pessoal, o marroquino é solteiro e na altura em que foi interrogado pelos guardas fronteiriços estava disponível para ser um kamikaze da organização terrorista.

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O site sírio Zaman al-Wasl colocou online quase duas mil fichas pessoais de um total que ainda está por definir. Mas o canal de televisão britânico Sky News diz ter tido acesso a uma lista de 22 mil combatentes do Daesh de 51 países.

Estas fichas, escritas em árabe, contêm 23 itens com dados pessoais como o grupo sanguíneo, o número de telefone ou a família. Até ao momento, entre a informação analisada pelo Expresso e a que foi coligida por outras fontes, cerca de dois terços dos operacionais mencionados nestes documentos têm ascendência árabe e só uma minoria tem nacionalidade síria. Não há para já portugueses identificados, embora as fontes contactadas considerem “provável” que lá estejam alguns dos jiadistas lusos ou com dupla nacionalidade.

Arábia Saudita (485), Tunísia (375), Marrocos (140), Egipto (110), Turquia (57) e Líbia (54) são os países como mais homens identificados nestes ficheiros. Da Europa, a França (35) é quem lidera. Depois seguem a Alemanha (18) e o Reino Unido (16). Também há seis canadianos e quatro norte-americanoas identificados.

Segundo o Expresso apurou, as listas obtidas pela Sky News serão as mesmas que os serviços de informações alemães adquiriram em 2013. Os jornalistas ingleses obtiveram-nas através de um jiadista dissidente que lhes terá entregue a informação numa pen na Turquia.

“Estamos neste momento a avaliar a credibilidade da informação e a analisar as fichas pessoais que estão já disponíveis”, assegura uma fonte próxima da investigação que não confirma nem desmente se as autoridades têm a informação total na sua posse.

Alemanha diz que lista é verosímil

Segundo João Rucha Pereira, um consultor internacional de segurança, há muitas vantagem para o Ocidente em obter uma lista deste género. “Vamos poder ficar a perceber mais aprofundadamente o perfil das pessoas recrutadas. Além disso, como são já dados de 2013, algumas delas já terão regressado à Europa e assim as autoridades ficam a perceber o verdadeiro papel delas na organização”, afirma. Rucha Pereira acrescenta que com esta informação disponível vai ser possível “definir uma estratégia de prevenção e de combate contra os terroristas” e não tem dúvidas de que o Daesh “ficou fragilizado” com esta fuga de informação.

Nas suas contas haverá neste momento 23 portugueses no califado. “São dados obtidos em jornais e livros recentes sobre o assunto. Não tive acesso a qualquer destas listas de que se falam agora”, acrescenta.

Nas últimas horas têm sido apontados por especialistas internacionais em segurança “alguns erros e inconsistências” nos formulários que podem pôr em causa a sua veracidade: por exemplo, o nome árabe do Estado Islâmico está escrito em duas formas diferentes, uma delas que não é muito comum entre a organização. Charlie Winter, expert britânico em terrorismo, lembrou à Agência France Presse que há casos no passado recente de documentos semelhantes que se descobriram serem forjados.

Mas esta quarta-feira os serviços de informações germânicos consideravam que os ficheiros desviados na Síria são “provavelmente genuínos”.

Entre os jiadistas já identificados estão alguns que nos últimos dois anos foram notícia no Reino Unido, como Ruhul Amin, Junaid Hussain e Abdel Bary. Os dois primeiros foram abatidos por drones na Síria. O último, um rapper de 26 anos que se chegou a pensar ser Jihadi John, estará em parte incerta.

[Texto publicado no Expresso Diário de 10 de março de 2016]

Hugo Franco (Rede Expresso)

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