Um pouco de história que hoje estou contemplativo

No mundo das séries, que é o de hoje (e pelas minhas contas no de amanhã) o espaço é composto por gavetas. As grandes (gavetas), são as histórias de polícias, ladrões e assassinos (com direito a canal próprio), médicos e enfermeiros e por fim, bombeiros. Se alguém andar por aí, a dormir mal, sem ideias para outra série, lembrava que professores também podem ser uma classe profissional muito seleccionável, com as suas recuperações de tempo de serviço e uma guerra permanente com a burocracia (embora, neste caso particular, muitos docentes façam o papel do inimigo), salas de aula que são um pandemónio e o desprezo particular pela cultura. Para os pôr em cena, somar-se-iam os eternos conflitos pessoais, de quem convive nos mesmos espaços, na praticamente única profissão do mundo em que a experiência é vista como anátema. Querem mais assuntos, procurem nas estrelas, ou debaixo de uma pedra vermelha às riscas encarnadas. Dentro da secção policiais (não norte-americanos) tenho visto de tudo: nórdicos quase sempre politicamente correctos, mas não em excesso por que os argumentistas não são parvos e sabem que para esse peditório já demos. São séries filmadas com muita neve, em geral sólidas, boas para ver no período entre trinta de Novembro e vinte e oito de Fevereiro, com uma manta sobre as pernas. De um modo geral, o pormenor que faz a diferença talvez seja a língua, sempre tão hermética que faz parecer estarmos noutro planeta. Ainda nos europeus, seguem italianos e franceses; nos italianos há de tudo, mas nada que chegue aos calcanhares de Rocco Schiavone, como já fiz menção num dos meus últimos textos. Os franceses, com uma capacidade industrial instalada apreciável, não se distinguem muito pela subtileza: umas das suas séries, “Assassinato em …”, feita em diferentes lugares com grande potencial turístico apesar das vistas, abusa do uso das lendas locais, habitualmente ligadas a gente que na Idade Média guisava adversários em lume brando e os servia numa bandeja, com verduras a acompanhar. Também aqui se vê mais, talvez pela falta de capacidade de invenção, o uso da estratégia das novelas: os amantes afinal são irmãos e o crime é cometido por um avô que todos pensavam estar a fazer tijolo. Outras das falhas prendem-se com pormaiores; cenas que não colam, falta de cuidado com pessoas que andam na lama e não têm as solas dos sapatos sujas, automóveis que batem e aparecem sem riscos: parece que os portugueses já lhes ensinaram qualquer coisa. E depois chegam-nos as séries inglesas, quase todas boas e aconselháveis, como Vera (Shetland e Endeavour, só para vos dar dois excelentes exemplos). Vera é uma produção da ITV (Star Crime)e resulta (como as restantes que referi) numa uma espécie de fiel depositária de todas as qualidades das boas séries britânicas: paisagens (não essencial mas importante), argumentos complexos e credíveis; bons actores e boa direcção de actores; humor q.b. e um cuidado com os pormenores de cena, que chegam a suplantar as melhores séries norte-americanas.

Vera Stanhope, interpretada por Brenda Blethin é uma Inspectora – chefe (que gosta de ser chamada quando mostra os galões), simultaneamente cáustica e extremamente humana, qualidades que não são fáceis de pôr em cena. Os restantes personagens têm todos os seus quês, o que faz de Vera um grande divertimento.

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