Uma aventura com 32 anos, num jornal com 65 anos

JA

Nunca agradecerei suficientemente ao Fernando Reis, que tão precocemente nos deixou, os convites que me fez a que colaborasse no Jornal do Algarve. Corria a década de 80; e nesses anos publiquei ali algumas colunas semanais que de vez em quando saudosamente recordo, relendo-as: Floresta de Enganos, Elucidário Algarvio (que deu um livro), Novo Elucidário e outras. E foi no final do ano de 1989, que o Fernando Reis me convidou a que pensasse, coordenasse e pusesse em realidade um suplemento mensal, que significasse ao JA (então já um decano seríssimo da imprensa algarvia e portuguesa) um salto na opinião, na crítica e na divulgação dos temas da Região. Nasceu assim o Jornal do Algarve Magazine, que tive o orgulho de coordenar desde o seu 1.º número em Janeiro de 1990, até ao número de Março de 1992, por 2 anos e dois meses, sem interrupções.


Com gosto e orgulho me ocupei dessa tarefa, grata e alegre, que só a densidade da minha vida profissional me obrigou a deixar. Mas o JA Magazine , iniciativa do Fernando Reis que sempre esteve mais à frente do que nós todos na antevisão do que deveria ser o jornalismo algarvio e a sua integração no contexto nacional, o JA Magazine, dizia-vos, foi uma novidade na imprensa local e regional, que abriu portas a um estilo, a uma época e a um modo diverso de opinar e informar. Uma equipa larga se reuniu à volta do projecto, logo tornado realidade: António Henrique Cabrita, Fernando Proença, Álvaro Rodrigues, Hélder Raimundo, António Pedro Graça, Humberto Gomes, Hélder Carrasqueira, Ricardo Oliveira, Diamantino Piloto, Lourdino Marques, António Gomes, Rogério Silva, Fernando Rafael, Moura Júnior, e outros mais que não nomeio aqui por escassez de espaço, mas que não esqueço.


Creio que seria falsa modéstia não dizer agora, passados mais de 30 anos, que o Magazine foi uma aventura editorial que marcou os que ali escreveram, desenharam, publicaram fotografias e de algum modo contribuíram para o tornar facto. Facto que perdura, ainda que em diferente formato (que a sempre inevitável realidade económica impõe). Com o surgimento do Magazine, foi o Jornal do Algarve o primeiro jornal da chamada Imprensa regional a criar e manter um suplemento mensal a cores, onde havia um novo estilo, uma nova maneira de encarar a notícia e a sua divulgação, um olhar aberto e informado sobre temas de interesse para o Algarve e mesmo para o país, uma certa pedrada num charco: discutimos a Regionalização, o turismo, a Universidade, a Agricultura. Divulgámos temas de saúde, roteiros e viagens, livros e discos, locais e costumes. Rimos e divertimo-nos. E, rindo, demos corpo ao brocardo ridendo mores castigat.


Éramos jovens e púnhamos amor no que fazíamos. Anunciávamos ao que vínhamos: recolher os temas de desenvolvimento político, histórico e etnográfico(…); abordar as grandes questões algarvias – a Regionalização, o Turismo, a Construção, a Pesca, a Agricultura, a Paisagem, o Urbanismo, a Política de Solos; dar voz aos algarvios; discutir o Poder sem o reverenciar, aplaudindo-o u criticando-o sempre que necessário e de forma livre; propor aprofundar e concluir o debate de temas candentes – a crise regional, a despartidarização da vida autárquica, a relação com a Andaluzia e com os enormes factos culturais que irão decorrer em Espanha nos próximos anos, a integração europeia; tudo temas e assuntos hoje debatidos, exauridos e no entanto actuais, mas que na altura eram apenas actuais e de necessária discussão porquanto inéditos por debater.


Mas dizíamos mais; que queríamos ser ao mesmo tempo um local de opinião livre, sem peias ideológicas ou partidárias mas sem recusar ideologias ou partidos, um momento mensal lúdico, informativo e crítico, onde o jornalismo cultural e técnico possa ter lugar sem preconceitos nem escusados paternalismos.


Éramos assim, naqueles idos de 1990.


Recordando e celebrando, em 2022, reproduzo aqui a parte final do que escrevi na Apresentação do n.º 1: “Mas, poderá perguntar-se, uma região pequena como o Algarve; e um pequeno jornal como o Jornal do Algarve, não estarão a querer ir longe demais com tão grandes intenções? Diga-se, primeiro, que pequenos não são a Região ou o Jornal do Algarve; pequenos são os cérebros de algumas pessoas que preferem a mediocridade à ambição. Diga-se depois que só querendo ir longe é que se chega a algum lugar”.


O Magazine foi assim um filho legítimo do Jornal do Algarve, um jornal de 65 anos, veterano e sério, independente e rigoroso.

Fernando Cabrita
Março de 2022

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