Andreia Revez, de 21 anos, era estudante na Universidade Lusófona, do curso de Engenharia Biotecnológica e Ciências Naturais. A jovem cresceu com os avós numa pequena localidade perto de Querença e jogou râguebi vários anos no Rugby Clube de Loulé. Andreia foi uma das seis vítimas mortais da tragédia na praia do Meco. Família e amigos esperam explicações para ultrapassarem o choque
A vida de Andreia Revez teve altos e baixos. Há três anos, Andreia perdeu o pai após complicações que este teve no decorrer de um acidente de mota e ficou a contar apenas com os avós paternos, que residem na pequena localidade de Cerro Guerreiro, nos limites da freguesia de Querença, concelho de Loulé.
Apesar de ter ido estudar para Lisboa, a jovem nunca deixou de visitar com regularidade os avós, que agora preferem remeter-se ao silêncio e não falar mais da morte da neta, pelo menos enquanto não souberem em concreto o que se passou naquela noite.
Quase dois meses depois da tragédia que roubou a vida de Andreia e mais cinco colegas, que foram levados por uma onda na praia do Meco, ainda ninguém consegue esquecer o sucedido.
“Foi tudo inesperado e as pessoas ainda estão muito abaladas”, conta uma moradora que conhecia bem a jovem e os seus avós. “É constrangedor ver morrer assim uma rapariga na flor da idade”, afirma, revelando que a dor e a consternação vão continuar até se saber o que realmente aconteceu na fatídica noite de 15 de dezembro.
“Aparentemente, foi tudo uma brincadeira de jovens que correu muito mal. É lamentável”, refere.
“Ainda há pessoas que não conseguem aceitar o que aconteceu”
Descrita como “boa aluna”, “educada” e “humilde”, Andreia Revez foi também uma “atleta exemplar”, diz ao JA o presidente do Rugby Clube de Loulé, onde a jovem começou a praticar râguebi aos 13 anos e se manteve até mudar-se para Lisboa e inscrever-se no Benfica.
“Era uma rapariga muito simpática, alegre e, principalmente, era muito empenhada como atleta. Deixou boas recordações e fez muitos amigos no clube”, revela Paulo Laginha.
O presidente do Rugby Clube de Loulé confessa que, apesar de já terem passado cerca de sete semanas desde a tragédia, “ainda há muitas pessoas com dificuldades em aceitar a morte da Andreia”. “Perder uma atleta do clube da forma como aconteceu é difícil de ultrapassar”, frisa o responsável, revelando que o clube tem recebido muitas mensagens de apoio após a tragédia.
Sobre o que terá realmente acontecido naquela noite, Paulo Laginha não quer avançar com “teorias” nem comentar o que vem escrito todos os dias nos jornais. “O certo é que ela foi levada por uma onda. Tudo o resto não passam de especulações. Por isso, devemos aguardar as conclusões da investigação das autoridades para descobrirmos o que verdadeiramente aconteceu”, salienta, sublinhando que “ainda há muitos pontos por esclarecer”.
“Nos primeiros dias após a tragédia, ninguém falava de praxes nem de práticas violentas. Só mais tarde levantou-se essa hipótese. Por isso, gostávamos de saber o que realmente se passou, porque desta forma, sem certezas, é mais difícil de ultrapassar o choque”, conclui.
Amigos querem acabar com as dúvidas
Severina Coelho, responsável da equipa feminina do Rugby Clube de Loulé e antiga treinadora de Andreia Revez, também diz que “é preciso que as autoridades resolvam rapidamente este trágico mistério”, para que a família e os amigos consigam acabar com as muitas dúvidas que ainda persistem e ensombram a morte da jovem algarvia e dos outros cinco estudantes.
“Queremos enterrar o caso e guardar a memória dela, mas isso não é possível quando diariamente surgem novas pistas e artigos de jornais a revelar mais pormenores, alguns até contraditórios”, comenta a responsável ao JA, confessando que as inúmeras reportagens sobre a tragédia que têm vindo a público nas últimas semanas têm contribuído para gerar ainda mais confusão em torno do caso.
Segundo Severina Coelho, Andreia era uma jovem “sempre com um sorriso na cara” e que estava “sempre pronta a ajudar os outros”.
“Espero que, agora, alguém também ajude a desvendar o que se passou na praia do Meco, pois há muitas hipóteses, mas continuamos sem perceber os motivos da morte da Andreia”.
O que aconteceu na madrugada de 15 de dezembro?
Entretanto, o tema tomou conta da atualidade e praticamente todos os dias surgem novos dados sobre a tragédia, mas ainda pouco se sabe em concreto sobre a forma como morreram os seis jovens estudantes.
A suspeita de que naquele dia estaria a decorrer uma praxe e notícias sobre rituais violentos que serão prática comum na universidade estão a ser investigadas.
Segundo a versão oficial das autoridades, uma onda arrastou os seis alunos na madrugada de 15 de dezembro, sendo que um dos universitários conseguiu sobreviver e dar o alerta. Os corpos dos restantes foram encontrados nos dias que se seguiram.
Os familiares das seis vítimas já apelaram para que o único sobrevivente esclareça as famílias das vítimas sobre as circunstâncias em que ocorreu a tragédia.
Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República anunciou que o procurador coordenador do Círculo de Almada chamou a si o inquérito relativo a este caso e que o processo está em segredo de justiça.
Por outro lado, as famílias das vítimas mortais da tragédia no Meco já criaram um email ([email protected]) para receber informações de quem tenha presenciado algum acontecimento daquele fim de semana, ou qualquer pista.
O objetivo é saber o que realmente aconteceu na Praia do Meco, entre a meia-noite e a uma da manhã do dia 15 de dezembro de 2013.
NC/JA