O País vive ainda sobre o impacto político das últimas eleições. Momento que abre caminho a especulações de diversos matizes, com a direita que ganhou por um fio, fechada sobre si própria, num estilo próximo do praticado por Cavaco, a ganhar gente para o Governo e a decidir o que fazer até ao próximo Orçamento de Estado que deverá apresentar em Outubro.
Todo este ambiente aconselha recato, como diz o nosso povo, são tempos de “deixar assentar o pó”. Para Marcelo não será tanto assim já que se tem rapidamente de definir se marca ou não eleições na Madeira, como é de todo suposto, para garantir um estado de direito, ou se pelo contrário justifica posição inversa alegando particulares interpretações da Constituição neste arquipélago governado há mais de 40 anos por um só partido, na maior parte do tempo exercido por uma só personagem, num estilo próximo de um imperador. Com ou sem eleições está pendente o resultado da maior investigação produzida sobre sinais de corrupção em toda a ilha que num primeiro impacto conduziu à imputação do Presidente Regional por suspeitas de corrupção e no mesmo sentido à acusação do Presidente do Funchal o que conduziu ao seu afastamento do cargo.
Num inquérito recente sobre o que consideravam sobre o 25 de Abril é importante verificar o seu reconhecimento pela maioria dos inquiridos dos benefícios que trouxe para o País, sendo que a crítica maior era dirigida ao aumento da corrupção o que nos conduz a ter de haver por parte da justiça, das forças de investigação e policiais a uma maior sintonia com as preocupações dos cidadãos.
A proposta de composição do futuro governo por LM ao Presidente e a sua expectável concordância, dará finalmente espaço para a entrada em funções da AR, com a eleição da composição da mesa a respetiva presidência. Teremos então primeiro embate político entre uma maioria frágil da direita composta por PSD CDS e Chega, e a maioria ou totalidade da oposição à esquerda. A direita está longe de uma posição comum, neste como noutros casos em futuro próximo, dadas as diversas ambições que a compõem. Sem entrar na especulação de cenários antecipados, a solução da composição deste órgão marcará seguramente o próximo presente.
Neste interregno é de valorizar a iniciativa do BE para reunir com todos os Partidos que se situam à esquerda deste bloco de direita. Reuniões para troca de opiniões, mas seguramente também para estabelecer compromissos de actuação em todas as áreas em que predomine uma base comum. Não será seguramente objectivo retirar capacidade ou autonomia a cada um dos partidos, mas será de grande avanço para o combate à direita construir uma frente comum que ajudará não só a combater dentro e fora das instituições, como ajudará a clarificar os propósitos da direita e em particular a mais radical.
Neste sentido é de ter presente duas declarações de AV nas várias entrevistas em que participou no pós eleitoral. A primeira que a actuação do seu partido se move e tem como objetivo central, criar condições para ser eleito como Primeiro Ministro do País. A segunda que as próximas eleições europeias, dos resultados a obter, ajudarão a definir se o extraordinário crescimento deste partido foi meramente conjuntural, ou se corresponde a uma base política, ideológica, consolidada na sociedade e, se tal se verificar, estará aberto um caminho de crescimento que afirma imparável. Para além da bazofia que expressam e dos importantes recursos políticos e financeiros que dispõem, creio que são questões que igualmente de forma particular também interessam à esquerda, porque abrem um horizonte de luta que só a esquerda no seu conjunto, a pode travar. Longe de protagonismos bacocos, sem sectarismos, nem exibições permanentes de glórias.