Valerá a pena a exploração de eventuais reservas de Hidrocarbonetos ao largo da Costa Vicentina?

LP
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Colaboradora. Designer.

Esta é a questão que hoje se coloca na cabeça de muitas pessoas, sobretudo no Algarve e no Sudoeste Alentejano. Claro que a resposta dependerá mais da Natureza e das riquezas que ela nos reserva no seu subsolo do que de qualquer solução engenhosa que possamos desenvolver para explorá-las. Para além disso haverá sempre factores sociais e económicos que poderão potenciar ou esvaziar quaisquer hipóteses de tornar viável um empreendimento de risco como são todos estes projectos de investimento.
Foram publicadas recentemente notícias de uma simulação/estudo realizado para este efeito por um conhecido economista da nossa praça e que revelam números que fazem corar qualquer especialista da área dos Petróleos pela falta de conhecimento que demonstram face à realidade do dia a dia das empresas e dos seus projectos.
Desde logo, o estudo parte de premissas completamente inverosímeis pretendendo comparar a geologia dos nossos fundos marinhos com países com os quais não temos quaisquer afinidades geológicas e, no único caso em que isso acontece, a Espanha compara bacias sedimentares com evoluções completamente distintas (frentes Atlântica e Mediterrânica da Ibéria). Dir-se-á que faltou ao dito especialista algumas leituras sobre o tema das “Margens Conjugadas” para compreender que a Margens Ocidental de Portugal e da Galiza se conjugam com a zona geológica dos Grandes Bancos (Terra Nova) do Canadá de onde se extraíram em 2016, 76,7 Milhões de barris (Mbbl) o que significa uma produção diária de 200 mil barris fazendo desta indústria o maior contribuinte para a riqueza (PIB) da província com 16,7% em 2015. Importa referir que esta actividade já lá existe há 20 anos e que se relaciona em perfeita harmonia com a Pesca e o Turismo que são outras grandes actividades económicas na região. É também interessante notar que esta província foi considerada em 2014 uma das mais prósperas do Canadá e do Mundo pelo Conference Board of Canadá.
Contestei naturalmente os valores desse estudo errôneo que se baseavam numa estimativa irrealista de produção de 2000 barris/dia e cheguei para a bacia do Alentejo, mercê da informação disponibilizada pelo Estado Português a investidores estrangeiros, a um potencial recuperável de 679 Mbbl o que, para um horizonte de exploração de 20 anos, representa um potencial de extração diária de 100 000 barris. Claro que a diferença de escala para a dita simulação é enorme e representa um desvio de 50 vezes mais. Claro que o autor naturalmente ignorou, porque não lhe interessou, que o preço de frete diário de um navio industrial, tipo FPSO, é de 700 000 $/dia e que o mesmo será imprescindível para a extração dos hidrocarbonetos a uma distancia da costa de 50 kms e na presença de uma lamina de água com mais de 1000 metros de espessura.
Refeitas as contas e de uma forma aproximada é possível afirmar que se o furo a realizar ao largo de Aljezur pelo consorcio ENI-GALP confirmar as estimativas do governo português será possível arrecadar para os cofres da fazenda pública cerca de 10 000 Milhões de Euros durante cerca de 20 anos, ou seja 500 Milhões de Euros/ano, cerca de 1% do que o Estado arrecada anualmente em impostos e contribuições. E claro, que aí sim, haverá toda a legitimidade em reivindicar que parte significativa dessa riqueza contribua para o desenvolvimento sustentável do Algarve.

*Engenheiro Naval, OE 24151
Alexandre da Silva

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