Vou ali e já venho – Pai! O Pai Natal Existe?

Pergunta ao Jornal do Algarve! (21 de Dezembro de 2000)

«Penso que faz dois anos por esta altura, depois de um belo filme exibido pela SIC – e já vamos ao título e a uma pequena gota do seu argumento – que escrevi umas quantas linhas sustentando acima de tudo alguns traços do argumento do filme, tais como as emoções e as tristezas que o Natal transporta, as interrogações do dia seguinte, porque é nesta altura do nascimento do menino que mais se fala em futuro, nos gastos descontrolados, etc, etc. e fundamentalmente na credibilidade da Comunicação Social, porque era isto também que o filme mostrava.

O ano passado, também nesta altura – por coincidências que ninguém sabe explicar, recebi uma carta do meu amigo Coronel Sardinha, uma vida inteira dedicada aos pára-quedistas, que vive lá para os lados de Viana do Castelo1, que também me falava de coisas supérfluas e das mil interrogações que os natais sustentam.

E porque a vida não pára, e a verdade é que por mais engenhoso e científico que o homem seja, voltamos sempre aos locais onde pensávamos que nunca mais voltaríamos. Locais que podem ser sítios, argumentos, pinturas, textos, protestos.

Jornal do Algarve 21 de Dezembro de 2000. O Pai Natal Existe! Perguntem ao Jornal do Algarve

E porque a vida é feita de todas as coincidências, no outro dia algures, numa Escola no Algarve, falando a alguns pequenos alunos, sobre as coisas do Natal e dos Jornais, trouxe para a ribalta o tal filme da SIC e a carta que tinha sido escrito ao meu amigo Sardinha, sem entrar em muitos pormenores que eles certamente não iriam entender. Mas falei-lhes do Natal, do rosto de meninos iguais a eles com o nariz “ranhoso”, esborrachado contra a montra onde adormecem os seus sonhos adiados.

Depois falei-lhes do tal filme exibido na SIC intitulado “Sim Virgínia, Ele existe” e que tinha a ver com uma carta dirigida por uma menina a um jornal.

A história era mais ou menos assim – Uma família pobre, vivia o drama de mais um Natal desfeito de sonhos. No meio daquela família existia uma menina chamada Virgínia, que não percebia porque é que todos os meninos que ela conhecia falavam do Natal e do Pai Natal com um sorriso não de esperança, mas de certeza.

Foram mil as insistências e todas as interrogações junto do pai, para que lhe confirmasse se de facto o Pai Natal existe.

Em certa altura o pai de Virgínia transformado no pai mais desesperado do mundo, disse-lhe: – Virgínia escreve uma carta ao Editor do Sun.

Expliquei então aos miúdos – e face ao argumento do filme – que o Sun era um jornal inglês de grande credibilidade, ou seja, e por outras palavras, tudo o que escreviam no jornal era verdade.

Então, a Virgínia escreveu uma pequena carta ao Editor do Sun, perguntando: “Se o Pai Natal Existe”.

Passados alguns dias, numa das colunas do Sun, num emotivo Editorial, o Editor do Sun escrevia que – o Pai Natal existia.

Perante o que o Sun escrevia, Virgínia perguntou ao Pai se de facto era verdade, tendo o pai afirmado: Virgínia, se o Sun diz que o Pai Natal existe, é porque é VERDADE.

Claro que me apeteceu, mas não podia, dizer aos meninos e às meninas que o Natal hoje mais não é que um passeio infernal, descontrolado, ameaçador e falido do CARTÃO DE CRÉDITO, esta pobre mais-valia, que suga os pobres e fermenta a riqueza e os desvarios dos mais abastados.

Claro que me apetecia dizer aos meninos e às meninas que o Natal somos todos nós.

O país falido de oposições sem ideias que são tudo e não têm nada, de um PS a necessitar de um abanão2, sem medos e que todos, nos juntemos sem medos à volta de Guterres.

Claro que dizer aos meninos e às meninas que somos confrontados com uma vastíssima comunicação social vendida, hipócrita, sem identidade, onde o alfaiate, a menina que falhou na passarela e agora se prostitui, o cantor desempregado, o político falhado ou o treinador de futebol sem ideias vieram ocupar os lugares dos verdadeiros jornalistas. Daqueles que têm dado a cara ao longo dos anos, deixando os anéis num calvário de promessas, mas nunca os dedos, que juntos formam a mão que desenha mil palavras que os outros não gostam…, Mas não. Preferi sim falar com ternura, com esperança, com mil histórias e mil sorrisos.

Contudo, em certa altura, uma das meninas mais atrevidas acrescentou:

Senhor, eu também acredito que o Pai Natal existe!

Entretanto, outra menina, que há mais de meia hora tinha o braço no ar, ainda que olhando para a professora, perguntou-me:

Se eu perguntar ao senhor que também tem as barbas brancas como o Pai Natal, se o Pai Natal existe, o que é que o senhor me diz?

Olhei à minha volta. Criei um falso silêncio, porque é impossível silenciar “pardais à solta” e disse-lhe:

“Olha. Escreve uma carta ao Jornal do Algarve! Se o dr. Fernando Reis disser que existe, então é Verdade, que o Pai Natal Existe “.

Desta vez O Adamastor não nos deixou passar… devolvendo-nos ao remetente (Foto: Associação dos Autarcas Monárquicos “E se mais mundo houvera, lá chegara” Os Lusíadas, Canto VII

Por mais que seja o perfume com que protegemos a DEMOCRACIA, as moscas não a largam
Por mais cansativos que tenham sido os últimos dias e nada nos admira que este cansaço perdure, a verdade é que talvez um dos muitos académicos, que saem aos molhos das Universidade, nos consiga vir explicar, como é que as cores do Algarve são agora tão tisnadas de desesperança, entrando inclusive, no roteiro anedótico.

Mesmo que seja fixação, em momento algum da nossa história, por mais ADAMASTORES, que tivessem sido inventados, todos eles foram sempre derrotados e dobrados, e só passados mais de quinhentos anos, é que voltámos a escutar o eco do ADAMASTOR, ruidoso e temeroso, mas desta vez e pela primeira vez, com toda a sua ferocidade a obrigar-nos a voltar para trás, abalando tremendamente os nossos sonhos, das mil lutas libertadoras que enfrentámos e que conseguimos travar…

E o futuro não vai ser fácil, até porque quando se grita que as novas transformações, passam por nos aproximarmos dos zangados e dos chamarmos, mas quando essas vozes são as mesmas, que já tinham emergidas de urnas anteriores, mais que aproximar OS ZANGADOS, porque as zangas, não têm nada a ver com o desleixo, mas antes com o ar, que nós os humanos respiramos, feito de ódios, perseguições e ainda com a hipocrisia e a vaidade que o poder lhes deu, convencidos que esta rotura nunca viesse a acontecer…

Eu dispenso os académicos, que por maiores que sejam os saltos ou por maior sejam o equilíbrio com que se põem em bicos de pé, para nos darem explicações, mesmo que puxadas para a ciência, sobre o que é que aconteceu, quando todos sabemos, que cada um de nós foi barriga de aluguer, que escancarou as portas das grandes maternidades da governação, e descontroladamente parimos este CHEGA, que veio para ficar, e em nome do tal grito, que um dia deu o meu amigo António Costa, com o seu «habituem-se», também temos que nos habituar à entrada triunfante do CHEGA, o que quer dizer, que temos que voltar a lutar muito, outra vez muito, mas conferindo que confiança, os novos e os velhos políticos nos merecem, exigindo para que FINALMENTE RESPEITEM O ALGARVE, pois corremos o risco, de não conseguirmos evitar ou garantirmos, que Por mais que seja o perfume com que protegemos a DEMOCRACIA, que as moscas a venham a largar. É que o cheiro começa a ser insuportável…

E esta luta começa, por sermos SIMPLES NAS COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS DE ABRIL…porque já vimos e sentimos na pele e no corpo, o que é a GRANDEZA ARTIFICIAL…porque o 25 de Abril merece respeito…

NOTA FINAL (última hora) Luís Montenegro, antes de ir para S. Bento, passou por Loulé, de forma discreta, mas em reconhecimento, estando presente na Igreja de S. Francisco, nas cerimónias fúnebres da Saudosa Senhora D. Manuela Guerreiro Mendes Bota, mãe do nosso amigo José Mendes Bota. Ao Mendes Bota e à sua família, deixamos outro abraço.

1 Na altura em que renove esta crónica, doi conta que Já cá não está e dele também tenho muitas saudades.
2 Imaginem, que há 24 anos, já eu escrevia isso. Mas também não se pode renovar, sempre com os mesmos…E agora?…

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