Água e Passos

Antes de vos escrever sobre o que me traz aqui, gostava de lembrar uma pequena questão que me vai incomodando e que vou passar a explicar: qual a razão que faz trazer para a mesa, em certos restaurantes geralmente situados no arco da moda, água del cano numa garrafa de vidro (a preços um bocadinho altos para a matéria em causa), geralmente jeitosa, quando o que pedimos foi água mineral?

Tem sido assim, ao longo dos últimos tempos e tememos, aqui no Avarias, que a tendência se institucionalize e piore. Queremos uma garrafa de vinho coisa e tal e uma garrafa de água, suponho eu que mineral. Pois não senhor, lá vem o funcionário todo lampeiro, com a garrafinha do precioso líquido, conseguida através de, suponho, a utilização de um filtro e tudo; só que não é água mineral. Pior se passam as coisas quando alertamos o respectivo empregado para o facto; nessa ocasião estamos a atravessar o pleno momento em que o mesmo funcionário faz aquela cara de nojo/superioridade, como que a dizer, “então o meu caro não percebe, que a água que lhe queremos vender é sustentável e muito melhor (só se for para o ambiente, sublinhado nosso)que as suas péssimas e elitistas ideias, capazes de arruinar o planeta?”. E eu com cara de parvo.

Como já lhes disse tenho, a respeito da actual campanha eleitoral, primado pela ausência. Só que um dia destes soaram – salvo seja – campainhas, quando descobri que Pedro Passos Coelho tinha dado, finalmente, sinais de vida. Apareceu com aquela cara de, saiam-daqui-que-chegou-quem-há-de-endireitar-isto e perorou sobre quase tudo e mais um par de botas. A nossa Direita tem muito disto (a esquerda tem outras coisas, nem sempre melhores), a de apostar as fichas todas nalguém que não é melhor que os outros (e para muitos, muito pior), mas tem cara (e pose) de ser muito melhor que os restantes. Passos Coelho tem então a característica que permite sair da água sem estar molhado, e ainda lhe sobra tempo para mandar postas de pescada, como se de tudo o que fez, sobrar apenas bom: o mau foi culpa de outros certamente, porque Passos Coelho não bate assim. Mas tudo isso já era do conhecimento público; o que ainda não tínhamos notado era a formidável tendência para, a partir das suas palavras, os comentadores começarem a interpretá-las como um mistério que importa desvendar, ou na expressão de um comentador, “ter uma chave para a interpretação das suas palavras”. Como se cada vez que o senhor diz, “debaixo deste céu azul”, nós tivéssemos que inferir que sendo o azul da Iniciativa Liberal, o que Passos quer dizer é que podemos (a AD) perder votos para os liberais neste distrito, etc. Ou em, “a AD veio para a estrada”: será que quer dizer nas suas sábias palavras que prefere o carro ao comboio e talvez ao avião? Isso quererá dizer que a sua posição sobre o futuro aeroporto é Montijo? Será contra? Ou, na sua infinita sabedoria, tem mais uma localização que ninguém ainda se lembrou? Talvez o Marquês de Pombal? O impressionante é que dá a impressão que não estamos a falar de Passos Coelho mas de uma divindade que de vez em quando nos dá a alegria da sua presença. Pela minha parte, já dei para esse peditório.

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