Não pondo a carroça à frente dos bois do que se vai passar daqui para a frente, digo-vos que ainda não vi nenhum debate pré-eleições e pelas amostras dos noticiários, penso que não tenho perdido grande coisa.
Parece-me tudo um pincel, embora haja quem diga que a política vai melhor quando é assim, quando não estamos à espera de nenhum Messias e que o salvamento está, de certo modo, dentro de nós. Também penso que sim, mas não tem mal se no fim do dinheiro, não sobrar muito mês. Sei que a política terá sempre uma certa dose de estratégia e táctica, afinal somos adultos, mas a velocidade a que os políticos dizem uma coisa e logo depois o seu contrário, mata qualquer hipótese de os levar a sério e de pensar que o que dizem não é só, mesmo, estratégia e táctica. Vejo aqueles regimentos de gente atrás dos líderes, nas ruas no aperta a mão, dá cá um beijinho e cara de satisfação (quando ganham eleições, então têm cara de grande satisfação) que contrastam com as entrevistas que dão depois, principalmente os que ficam em funções governativas: sempre a chorar, que se tivessem cá fora ganhavam mais, que aquilo é uma vida de sacrifício, quais heróis do ultramar. Então será caso para se dizer que se os cargos políticos são assim tão maus, porque se metem naqueles assados? Não vão, telefonem-me que eu prometo não me queixar e jurar pela minha honra, coiso e tal, que cumpro. Percebe-se então, por morosos e aturados estudos, que os políticos não são todos iguais, mas digo-vos que podiam esforçar-se um pouquinho mais para nos tirarem as dúvidas. Por via do que vos escrevi atrás (qualidade dos políticos e honestidade das propostas) vai acontecer que as pessoas (talvez os tais indecisos de que tanto se fala) vão decidir-se pela confiança que os candidatos lhes transmitem, mas isto não será novidade. E tenho um dedo adivinhador que me diz que o futuro vai ser dos indecisos.
Na manhã em que escrevo, notícias da meteorologia. Aviso amarelo a passar a vermelho e para a RTP ondas de treze metros, enquanto que na CNN se revelam previsões de ondas com doze metros. Vou fazer o papel das redes sociais que em tudo veem perseguições e conspirações: se, em princípio, vão todos beber às mesmas fontes, qual a razão para uns referirem doze e outros treze? Talvez que existam corretores de apostas chineses com cotações diferentes para doze e treze metros. Devia haver um programa só para tratar das diferenças entre as previsões do IPMA e os valores lidos. Por exemplo, no Algarve parece sempre presente a ideia que as previsões suplantam em um ou dois graus os valores alcançados. Dizem vinte dois graus, chega-se aos vinte. Devia ser como na economia, faziam-se as contas depois e dizia-se que as previsões falharam por defeito em seis por cento, durante o mês de Fevereiro: havia de tirar-se consequências disso, com reformas estruturais no Instituto de Meteorologia e uma carreira melhorada para os técnicos que acertassem mais. Depois punha-se um político à frente da coisa e o tempo nunca mais tinha conserto.