Campos de golfe de Castro Marim vão ser regados com águas residuais tratadas

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Os campos de golfe do Castro Marim Golfe & Country Club vão passar a ser regados com águas residuais tratadas, depois da assinatura de um protocolo com as Águas do Algarve e a participação do secretário de Estado do Ambiente, Hugo Pires.

Este acordo para o fornecimento de água para reutilização àqueles campos de golfe surge após a conclusão da primeira fase do projeto “Infraestruturas de Elevação e Adução de ApR – Água para Reutilização da ETAR de Vila Real de Santo António”, das Águas do Algarve.

Para os campos começarem a ser regados com água reutilizada, foi necessária a instalação de um sistema de desinfeção por cloragem, a construção de uma estação elevatória e de um troço de ligação à conduta que liga a dois pontos de entrega, incluindo já o golfe da Quinta do Vale, apesar deste processo estar com algum atraso.

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Segundo as Águas do Algarve está prevista a substituição de cerca de 450.000 m³ de água utilizada na rega e manutenção dos campos de golfe.

Para o diretor-geral do empreendimento, David Martins, este “é um compromisso assumido com o futuro”.

“Aquilo que acontece neste momento é a escassez de água, sobretudo no sotavento algarvio. Um campo de golfe necessita de água. Assinar um contrato onde podemos utilizar uma fonte alternativa de água que não seja somente as superficiais da chuva, que nós nos nossos lagos já aproveitamos, isso para nós é garantia da sustentabilidade e do futuro deste projeto”, refere.

O também professor na Universidade do Algarve revela ainda que o que está contratualizado atualmente com as Águas do Algarve “não será na sua proporção total e na globalidade utilizada para rega, porque a água precisa de mistura. Ou seja, segundo os estudos, rondará cerca de 50% de água superficial com 50% de água tratada”.

Por outro lado, “o preço da água será muito mais caro, mas temos de ter consciência que é um recurso e escasso e é preferível pagar mais, mas ter garantia que as coisas vão funcionar e que os campos vão estar nas melhores condições para não menosprezar o que é uma das imagens de marca do Algarve, que tem alguns dos melhores campos de golfe do mundo”.

David Martins recorda ainda que aquele empreendimento, o terceiro do Algarve a regar campos de golfe com águas tratadas, já utiliza rega noturna, substituiu vegetação e que algumas zonas ajardinadas estão a ser substituídas por pedra.

Este projeto teve um investimento de 1,5 milhões de euros e vai substituir a utilização anual de cerca de um milhão de metros cúbicos de água superficial por reutilizada, ficando a ETAR de Vila Real de Santo António com capacidade para disponibilizar outros pontos de entrega.

Segundo as Águas do Algarve, estas medidas vão garantir um acréscimo de disponibilidade média anual de água de 17 milhões de metros cúbicos já em 2023, totalizando um acréscimo anual acumulado de cerca de 62 milhões de metros cúbicos em 2026 em toda região.

Já em relação à produção de água para reutilização no distrito, está previsto um investimento de 23 milhões de euros até 2025, com o incremento de 1,4 para 8 milhões de metros cúbicos por ano, destinando-se 71% aos campos de golfe.

António Eusébio, Presidente da Águas do Algarve, sublinha que “a procura de novas origens, como a produção de água para reutilização e a dessalização, é uma prioridade para fazer face aos impactos das alterações climáticas no Algarve, que se traduzem em menos água nas barragens e nos aquíferos. Mas, a par do aumento da oferta, temos também de reforçar as ações de redução de consumos e de promoção da eficiência hídrica. A escassez de água é um desafio global e a ação deve ser de todos.”

Investir para responder a necessidades

O secretário de Estado do Ambiente, Hugo Pires, disse que “todos os envolvidos estão a trabalhar para que esta região continue a ser um território que se desenvolva, que crie emprego e que gere riqueza, mas para isso há uma coisa que é preciso que exista: água”.

“Não faz sentido nós lavarmos as ruas ou regarmos jardins e campos de golfe com a água que lavamos os dentes. Portanto o que nós estamos a fazer é investimentos para que estas águas, que podem ter estes fins não potáveis, possam responder as estas necessidades da rega de jardins, de campos de golfe e da lavagem de ruas”, explica.

Hugo Pires

O governante revela ainda que tem como compromisso vir ao Algarve “pelo menos uma vez por mês para acompanhar e monitorizar” todos os projetos, “para que todos juntos façamos desta região um território com futuro”.

“A maioria dos campos de golfe e o setor económico está muito sensibilizado e disponível para eles próprios investirem nesta área das águas para reutilização. O nosso primeiro objetivo é ter sempre água para consumo humano. O segundo é agua para agricultura, para o turismo e golfe. Ou as pessoas mudam ou nós temos de forçar essa mudança”, conclui.

Data importante para o concelho e região

Para a vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, esta foi uma “data muito importante” para o concelho “e para aquilo que é a nossa gestão de recursos hídricos na região”.

“O Castro Marim Golfe e a Quinta do Vale têm um consumo de água equiparável ao consumo de água de todo o concelho”, revela.

Filomena Sintra

A autarca conta ainda que o seu município tem uma infiltração salina nas condutas “que prejudica a qualidade da água na ETAR” de Vila Real de Santo António, mas este problema será resolvido em breve “através de recursos próprios e numa segunda fase através da realização de uma operação mais complexa na vila para substituição de condutas.

Filomena Sintra revelou ainda que o novo empreendimento turístico do concelho, Verdelago, localizado entre Praia Verde e Altura, terá uma mini dessalinizadora “a partir de setembro”.

Desafio de construir barragem na Foupana

A autarca de Castro Marim aproveitou a ocasião para lançar um desafio ao secretário de Estado: “o sonho concretizável da Barragem da Foupana”.

“Nós temos de reduzir o consumo, temos de ser mais racionais nas águas que temos mas também temos de ter a capacidade de perceber que, para os níveis de consumo e a economia instalada, precisamos de ter soluções de retenção alternativas, sempre pensando no equilíbrio do ecossistema.

“O território não é para ser consumido no imediato, é para ser pensado e deixado para as gerações futuras. Se formos hoje à Foupana, nem os peixinhos que nós queríamos proteger lá estão. Está seca. Basta constatar esta realidade para perceber que não é mais uma barragem num contexto igual a outro. O território está em desertificação. Se calhar temos de ver soluções menos intrusivas, mas temos de ter essa disponibilidade e não fechar portas, pois o sotavento não tem soluções alternativas à retenção”, explica.

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, também defendeu a ideia, afirmando que “temos de estudar a viabilidade da Foupana”, além da ligação entre Alqueva e Odeleite.

“Temos consciência que vamos ter períodos de seca mais prolongada e depois situações de maior queda pluvial em determinados períodos. Temos de nos adaptar”, refere.

Estudos da dessalinizadora e captação quase prontos

O secretário de Estado do Ambiente, durante o seu discurso, revelou que o estudo de impacte ambiental relativo à dessalinizadora, que deverá ficar localizada em Albufeira, estará pronto na próxima semana.

“Nós tomámos a posição política de investigar e agora compete aos técnicos avaliar”, afirma.

Já em relação à captação de água do rio Guadiana, na zona do Pomarão, o governante afirma que também é necessário “esperar pela decisão”, uma vez que posteriormente têm de existir “conversas no âmbito da discussão pública com Espanha”, mas “é também um investimento que vai trazer mais resiliência ao território”.

Nova campanha de sensibilização

Para poupar água, o grupo composto pelas Águas de Portugal, a Agência Portuguesa do Ambiente e a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos apresentaram uma nova campanha intitulada “Água é vida. Não a desperdice”.

Com este mote, a campanha financiada pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática tem como objetivo promover práticas que fomentem o uso eficiente da água.

A campanha arrancou esta segunda-feira, dia 3 de julho, no Algarve, exemplificando que “uma torneira aberta pode gastar 12 litros de água em apenas 1 minuto. Se cada pessoa desperdiçar 1 minuto de água por dia em Portugal, são 120 milhões de litros de água, o suficiente para satisfazer as necessidades básicas diárias de um milhão de pessoas. A água é essencial à vida e merece toda a nossa atenção. Seja mais consciente e evite gastos desnecessários”.

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