Enfermagem ou limpeza, o preço à hora é quase o mesmo

ouvir notícia

.

Os enfermeiros que aceitem trabalhar nos centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo receberão apenas mais uns cêntimos do que um empregado de limpeza.

Os cerca de 70 enfermeiros subcontratados a partir de hoje pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo receberão apenas mais 93 cêntimos à hora do que os empregados da limpeza abrangidos pelo contrato coletivo de trabalho deste setor que prevê, desde 2010, o pagamento do ordenado mínimo nacional.

Aos enfermeiros é proposto 3,96 euros à hora, sete horas por dia, cinco dias por semana, o que dá 554,40 euros por mês, enquanto um empregado da limpeza receberá 3,03 euros à hora, oito horas por dia, nos mesmos cinco dias por semana, ou seja, 485 euros por mês.

- Publicidade -

Sobre os 554,40 euros, pagos a recibo verde, incide ainda os descontos legais para a segurança social e os 21,5 por cento para o IRS.

Confrontados pelas empresas que ganharam os concursos lançados pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) para a contratação de serviços de enfermagem para os centros de saúde, os enfermeiros subcontratados sentem-se humilhados. Muitos já recusaram renovar os contratos que tinham assinado com empresas como a E-Sycare e Medical Search.

Assim não dá

Isa Carreira, enfermeira na extensão de Espite do Centro de Saúde de Ourém, disse ao Expresso que é “impossível aceitar estas condições”.

“Até agora recebia cerca de 700 euros por mês, mas querem passar a pagar-me 300. Para além dos descontos para a segurança social e o IRS ainda tenho de pagar combustível e alimentação”, conta.

Isa Carreira trabalha nestas condições há cerca de dois anos, 35 horas por semana, incluindo dois fins de semana por mês no serviço de atendimento complementar que garante não lhe serem pagos. “Não recebo horas extraordinárias”, afirma.

Vanessa Lourenço da unidade de cuidados de saúde personalizados da Baixa da Banheira, Barreiro, também recusou assinar o novo contrato apesar de, como qualquer enfermeiro a recibo verde, não ter direito ao subsídio de desemprego.

“Vou seguir em frente e tentar arranjar algo melhor”, diz.

Segundo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), empresas como a E-Sycare e Medical Search, receberão por cada enfermeiro contratado 1151 euros.

Guadalupe Simões, da direção do SEP, garante que “as margens de lucro destas sociedades anónimas de que nunca se sabe quem são os verdadeiros donos rondam os 50 a 75 por cento”.

Para esta sindicalista é um caso inequívoco de má gestão de dinheiros públicos já que os valores pagos pela ARSLVT a estas empresas é muito superior aos 1020 euros a que um enfermeiro tem direito quando ingressa na função pública.

Carlos Abreu (Rede Expresso)
- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.