“Estamos a ter uma boa gestão e a população reconhece isso”

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Há pouco mais de dois meses que Rosa Palma detém uma das duas vice-presidências da AMAL, liderada pelo olhanense António Pina. Mas é na liderança do único município CDU na região que a autarca de 49 anos tem dado o melhor do seu esforço, há quase uma década. Em setembro viu confirmada nas urnas a confiança popular na sua presidência. Já no seu terceiro e último mandato possível, a ex-professora de biologia e geologia do ensino secundário promete deixar ficar marca no município e não deixa de criticar os seus predecessores social-democratas. E aqui dá conta da muita obra feita e da que promete ainda fazer, ainda que enfatize ter dirigido o município “sem fazer promessas”

JORNAL do ALGARVE (J.A.) – Silves é o único baluarte da CDU no Algarve. A que atribui esta sua reeleição, e, já agora, a recuperação “para ficar” da CDU em 2013, após tantos anos de domínio do PSD?
ROSA PALMA (RP) –
Tem havido um reconhecimento do trabalho da equipa em prol das populações. E essa é a nossa imagem forte. O que faz as pessoas acreditarem em nós é o facto de trabalharmos coletivamente, com honestidade, sem fazer promessas, mas com compromissos sérios que vão a favor das aspirações da população. E coisas que forças anteriores não consideraram necessidades básicas, por exemplo o saneamento e o abastecimento de água, que são necessidades primárias, que apesar dos financiamentos anteriores o PSD não priorizou como uma necessidade. E não se candidatou aos fundos para dar essa primazia a uma necessidade tão elementar. E quem diz isso, diz o asfalto dessas mesmas estradas, tudo realizações que tinham financiamentos assegurados que chegavam a 80%!


J.A. – Então essa queda do PSD foi devida a essa obra não feita, às finanças da câmara, ao escândalo da Viga de Ouro?
R.P. –
Foi um descontentamento da população, o facto de não se dar respostas a situações tão básicas como as que referi, mas também o facto de nos encaminharmos para uma situação financeira de colapso. E quando referiu esse processo antigo, a Viga de Ouro, diz-se que já ultrapassámos. Ultrapassámos sim, mas foi uma situação que, para ultrapassar, este executivo teve que logo prontamente negociar com as entidades bancárias uma verba que ultrapassava os 7 milhões de dívida. Negociámos os juros, conseguimos um perdão de cerca de 70% dos juros, o que fez diminuir consideravelmente o valor da dívida, para 5,5 milhões. Começámos a pagar e só pagámos a última tranche em dezembro do ano passado!


J.A. – Então a câmara agora está mais desafogada?
R.P. –
Acontece que eu ainda tenho outra dívida para pagar, dos 15 milhões de euros, de 2009, quando as autarquias ficaram muito endividadas, e houve o programa PRED, de regularização de dívidas do Estado . Esse programa permitiu ao município contrair um empréstimo de duas linhas de crédito, para pagamentos de dívidas que não foram pagas e chegaram a acumular 15 milhões de euros. Houve um período de carência de cinco anos e o empréstimo ainda está a ser pago. Agora nós estamos a ter uma boa gestão e a população reconhece isso. Fizemos opções que foram ao encontro de necessidades muito básicas e lamentamos ainda estarmos a dar resposta a este género de necessidades. Mas pretendemos dar condições de vida às pessoas que aqui vivem e querem permanecer. E que outras pessoas também se sintam cativadas para vir para o nosso concelho.


J.A. – Apesar de continuar a ter maioria na câmara, continua também a ter minoria na Assembleia Municipal e PSD e PS juntaram-se para formar maioria e ter a presidência. Esse facto tem sido um travão às suas ambições e projetos? Há um bloco central de bloqueio naquela Assembleia?
R.P. –
Compreendemos a vontade dos membros da Assembleia se juntarem. Está previsto, é democrático, e terá que ser aceite. No entanto, isto não vai ao encontro da vontade da população. A soma das duas forças PS e PSD dá o mesmo número de membros da CDU. Mas pronto, houve essa vontade dessas forças gerirem a mesa da presidência da Assembleia Municipal. Agora se isso traz bloqueios, quero acreditar que não, porque estes membros foram eleitos para defender os interesses da população e nós primamos por isso: sempre que vamos à Assembleia é nesse sentido. Por isso, quero acreditar que as pessoas vão ter lucidez e discernimento para fazerem as opções que vão ao encontro da população.


J.A. – Essa confiança renovada do eleitorado deve-se a obra feita. Que obra foi essa? Eleja duas ou três realizações dos seus anteriores dois mandatos.
R.P. –
Relativamente à construção da Junta de Freguesia de Armação de Pêra, uma vontade da população (não se compreendia como é que Armação de Pêra não tinha uma sede de freguesia), foi uma das importantes construções. Outras foram a regularização das infraestruturas, que são obras que não deslumbram à superfície mas que vêm regularizar várias situações, como perdas de água, e temos feito um forte investimento. Quando chegámos à Câmara, o setor da água estava em vias de ser privatizado! Outra realização foi o investimento na recolha de resíduos, tínhamos uma frota de recolha completamente obsoleta. Investimos em vários camiões novos e continuamos a investir. Outra situação foi a compra de autocarros, que estavam completamente inoperacionais na resposta das escolas. Ainda em obras, estamos na conclusão do mercado municipal de Silves, vamos iniciar o mercado de São Bartolomeu de Messines. Estamos em fase de desenvolvimento das escolas de Alcantarilha e de Silves. Fizemos a obra da Rua Atrás dos Muros, de 1 milhão de euros.


J.A. – E para este novo mandato, o que de mais emblemático propôs aos silvenses?
R.P. –
Algumas delas já lhe disse, mas temos também a ecovia, que vai ligar a Praia Grande até Armação de Pêra. A requalificação da baixa de Armação de Pêra…


J.A. – Precisamente, Silves tem litoral, embora tenha muito interior também. Como vai essa renovação urbana da baixa de Armação de Pêra?
R.P. –
Já se iniciou a primeira fase essa obra, de 3,3 milhões de euros. Consiste no alargamento e renaturalização do canal de descarga das águas pluviais para a ribeira de Alcantarilha, com a construção de duas grandes infraestruturas de saneamento, uma estação elevatória para águas pluviais e outra para águas residuais. A segunda fase é que vem para as ruas. Envolve a reabilitação da estação elevatória de esgotos existente, a remodelação integral das redes de abastecimento de água baixa da vila. O foco é o combate às cheias na vila de Armação de Pêra.


J.A. – Vê com bons olhos a criação da reserva natural da Lagoa dos Salgados? Fica na fronteira entre Silves e Albufeira, mas uma boa parte é de Silves.
R.P. –
Mas a classificação é precisamente na zona envolvente que pertence a Silves, que mantém aquela matriz natural do espaço. Claro que vemos com bons olhos! Quando tomámos posse em 2013 deixámos bem claro que o desenvolvimento previsto para ali em nada se coadunava com o que deveria ser feito naquele espaço. Nunca fomos de acordo e sempre o demonstrámos na posição de voto que tivemos. Quando vimos que o Ministério do Ambiente acorda para a possibilidade de classificar como Reserva Natural, claro que ficamos muito satisfeitos, porque não só vai dar o reconhecimento em terra àquela zona e aos aspetos naturais que ali estão, avifauna única, e preservar aquelas características únicas, mas também valorizar a Pedra do Valado, que é a área marinha protegida de interesse comunitário. Uma valoriza a outra.


J.A. – O centro histórico de São Bartolomeu de Messines vai ser renovado. Vai ser uma grande obra emblemática?
R.P. –
Já agora, refiro que no mandato de 2013 renovámos o centro histórico de Silves. Demos continuidade a um projeto que ficou abandonado pelo anterior executivo, a beneficiação do centro histórico de Silves. Neste caso, em São Bartolomeu de Messines, será uma obra emblemática, que irá dar à aldeia que cresce no cerro (é o que está escrito em alguns livros, “uma aldeia única que cresce numa serra”) a manutenção da identidade do espaço, mas iremos requalificar, para demonstrar aquilo que temos para recontar um pouco da nossa história de forma simultaneamente contemporânea.

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J.A. – Quando termina essa obra?
R.P. –
Estamos a terminar o projeto no âmbito da identidade do local, porque parte das infraestruturas está concluído, para depois lançarmos concurso.


J.A. – Silves é um lugar com história. Uma capital cultural. Houve obras no castelo, mas vai continuar a requalificação? Em que termos?
R.P. –
A requalificação do castelo foi inaugurada em 2009, mas a obra que foi feita deixou alguns problemas. Não previu certas situações. E tentámos colmatar algumas das deficiências que foram diagnosticas na conclusão da obra. No caso, toda a muralha do castelo, com projeto já feito por nós, orçamentado em cerca de 2 milhões de euros. Esperamos que a Administração Central reconheça a necessidade de intervir neste imóvel. E da nossa parte esse reconhecimento já está feito, porque fizemos o projeto por nossa iniciativa. Esperamos que haja verba para comparticipar um imóvel tão importante como este e que é identitário do nascimento do próprio Algarve.


J.A. – E outras obras culturais. sobretudo arqueológicas? Sei que há muito trabalho feito e a fazer nessa área.
R.P. –
Temos uma forte aposta na preservação do património. Reforçámos a equipa de restauro da Câmara, temos feito restauro dos nossos monumentos por administração direta, desde o pelourinho que está à frente da Câmara até uma parte da muralha, a torre 4… várias obras de requalificação têm sido feitas. Intervimos porque reconhecemos o valor patrimonial e porque estamos a aguardar uma iniciativa da parte do Estado. Por outro lado, já tínhamos adjudicado a requalificação da ponte velha, o concurso acabou por ir abaixo e agora vamos lançar um novo, porque a empresa acabou por rejeitar o que foi contratualizado. Vamos requalificar também a Sé, na pintura, em parceria com as juntas de freguesia. Esperemos que a Administração Central reconheça este imóvel classificado do Estado e possa colaborar connosco. Estamos ainda a criar um centro que irá tratar de todos os achados arqueológicos que temos, do seu estudo e da sua recuperação.


J.A. – Têm um museu criado à volta de um poço lindíssimo.
R.P. –
E agora temos um espaço que é um centro que irá funcionar como residência para dar resposta a quem nos visita com turmas de universidades no âmbito da arqueologia. Será um centro interpretativo que irá dar uma resposta em termos científicos na área da arqueologia. Já temos o espaço para isso, estamos a fazer obras para dar melhores condições para essa resposta.


J.A. – É vice-presidente da AMAL. Os principais desígnios da região são saúde, água (clima, ambiente) e mobilidade. Quais aqueles em que teremos boas novidades a breve trecho?
R.P. –
São coisas que não dependem diretamente da autarquia. Os focos que referiu são evidenciados pelas forças políticas que estão na administração central. O diagnóstico está feito. A intenção existe. Agora se vamos passar aos factos, eu fico a aguardar para ver. Na Câmara temos uma pasta de projetos feitos relativamente ao abastecimento de água, evitar perdas de água (penso que primeiro temos que racionalizar a água que temos) e enquanto Algarve pensarmos a médio e longo prazo numa resposta para a falta de água. Mas passa muito por racionalizarmos a água, termos práticas ambientais que permita o bom uso da água.


J.A. – Como vice-presidente da AMAL, acha que os 300 milhões do PRR – a que se juntam outros fundos comunitários previstos, num total que pode ascender a 800 milhões – são suficientes para a região?
R.P. –
Existem esses 300 milhões, com um conjunto de obras que são essenciais para o desenvolvimento da região. Isso está apresentado. Agora peço aos municípios do Algarve que estejam preparados para que esses 300 milhões sejam usados e que demonstremos na prática que eles são insuficientes. Mas temos que o demonstrar fazendo obra e que estamos a projetar o Algarve no seu todo, evitando as assimetrias que a região tem presente, porque o Algarve não é só litoral. Isto fazendo com que as obras que são feitas sejam sustentáveis, que não sejam situações emblemáticas de momento e depois não tenham sustentabilidade. É muito importante fazer obras que vão ao encontro do desenvolvimento da região mas que sejam sustentáveis e sirvam o Algarve no seu melhor, não só o litoral. Não podem ser elefantes brancos, que depois não temos forma de fazer a manutenção desses espaços.

João Prudêncio

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