Lojas Caravela, um caso de sucesso no comércio algarvio

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Mesmo em tempo de crise, a Caravela, marca algarvia especializada em artigos para o lar, conseguiu crescer e, recentemente, abriu mais uma loja na região. Em entrevista ao JA, o empresário Pereira de Campos, que lançou a primeira loja em 1968 (hoje já são nove por todo o Algarve) explica o segredo do sucesso e fala ainda dos problemas que afetam o comércio algarvio, em geral, e o de Vila Real de Santo António, em particular

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DOMINGOS VIEGAS

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Jornal do Algarve – Qual é o universo da Caravela atualmente?
Pereira de Campos – Fizemos os possíveis para que a Caravela estivesse representada neste cordão litoral de 150 quilómetros. Estamos com cinco lojas em Vila Real de Santo António, uma em Monte Gordo, uma em Faro, outra em Vilamoura e, este ano, abrimos também em Lagos. Além disso, temos as Lojas do Natal, que abrimos apenas neste período, em Vila Real de Santo António e, este ano, também em Lagos. Nas outras lojas criámos setores dedicados ao Natal, mas o espaço físico é o mesmo.

J.A. – As cinco distinções PME Excelência Comércio e mais cinco PME Líder significam que a Caravela respira saúde…
P.C. – …essencialmente, significa que cumprimos, que somos uma empresa fiável e, efetivamente, uma empresa saudável. Além disso, também é uma empresa que tem tido crescimento.

J.A. – E qual é o segredo para esse crescimento?
P.C. – Poderíamos ter seguido dois caminhos. Optar por fornecedores que nos exigiam a compra de grandes quantidades dos mesmos produtos, o que limitava a apresentação de novidades, ou seguir um caminho que nos permitisse apresentar coisas novas quase diariamente. Seguimos o segundo. Também fazemos uma simbiose entre as coisas essenciais, das boas marcas portuguesas, e as novidades que vão aparecendo por todo o mundo e que atraem o nosso cliente. O difícil é passar de uma empresa familiar para uma empresa que já funciona sem a nossa presença física. Começou muito devagar, mas as novas tecnologias vieram ajudar bastante e, hoje, o computador funciona como um cordão umbilical que nos liga a todas as lojas.

J.A. – Já com a crise instalada chegou a dizer que a Caravela não a estava sentir. Hoje pensa o mesmo?
P.C. – Posso dizer o mesmo. Não sentimos tanto a crise porque continuámos a abrir lojas. A abertura de uma loja vem cobrir a crise nas outras. Uma loja nova vem apoiar os inconvenientes das outras. E temos conseguido equilibrar deste forma. A abertura da loja de Lagos deu-nos uma maior amplitude porque passámos a cobrir o Algarve. Isto tem uma importância extraordinária no momento da compra porque dá-nos algumas vantagens à hora de negociar com os fornecedores. Na altura da compra podemos conseguir melhores preços e, desta forma, fazer um preço mais acessível ao cliente. Consequentemente, também conseguimos vender mais.

J.A. – Mas não sente que o cliente está a gastar menos?
P.C. – Sim, o cliente já não gasta o que gastava antes. Antigamente vendíamos, por exemplo, mais serviços de jantar, faqueiros ou serviços de cozinha. Agora vendemos mais peças avulso, mais facas, mais garfos, mais tachos, mais panelas, enfim, coisas mais pequenas.

J.A. – Ou seja, adaptaram-se às necessidades e possibilidades do cliente?
P.C. – Exatamente. Por exemplo, na Loja do Natal temos, talvez, mais de 500 produtos a 1,95 euros. Dá mais trabalho, as vendas são menores por cada cliente, mas o aumento do número de clientes tem ajudado a ultrapassar a situação. E este ano já notámos uma ligeira melhoria em relação ao ano passado.

J.A. – Porquê a escolha de Lagos para a abertura da loja mais recente?
P.C. – E não estamos arrependidos, porque em nenhuma outra cidade sentimos o carinho, a amizade e o desejo de sucesso que sentimos em Lagos. Escolhemos Lagos porque é uma terra que se assemelha muito a Vila Real de Santo António, ainda tem a tradição de uma cidade típica do Mediterrâneo, que vive com o sol, que vive na rua… Mas já não encontrámos isso, por exemplo, em Faro.

J.A. – Como assim?
P.C. – Infelizmente, Faro vive uma decadência que tem a ver com dois fatores: os centros comerciais, que são um inimigo da cidade, e o estacionamento pago. Se estas duas situações se conjugam, matam uma cidade. Quando estudei em Faro a cidade tinha 25 mil habitantes e a rua de Santo António regurgitava de gente, hoje tem quase o dobro da população, tem aeroporto, tem universidade, mas o centro está moribundo. São coisas que se perdem facilmente e que dificilmente se voltam a recuperar. Isto aconteceu com Faro, mas também com Portimão. Vila Real de Santo António também acabou de colocar os parquímetros e não adivinho nada de bom.

J.A. – Quer dizer que ainda ainda não sente que tenha consequências negativas para o comércio?
P.C. – Quero dizer que ainda é prematuro para falar em consequências práticas, mas adivinho que não vai ser nada bom. O comércio é prejudicado sempre que se implementa qualquer limitação ao centro da cidade. Vila Real de Santo António tem capacidade atrativa até Almeria, que é a província andaluza mais distante de nós. Almeria fica a 500 quilómetros! Duvido que algum algarvio faça 300 quilómetros para ir comprar qualquer coisa a Lisboa, quanto mais 500, porque encontra tudo no Algarve. Mas é extraordinário que um espanhol faça 500 quilómetros para vir fazer compras a uma terra pequenina como Vila Real de Santo António. Não podemos perder esta atratividade porque é a única coisa que nos resta. As outras localidade de fronteira definharam, à exceção de Valença do Minho, que mantém o contacto com a Galiza devido à existência de uma classe média muito forte naquela zona de Espanha e que continua a comprar.

J.A. – A questão da rotatividade dos veículos é, normalmente, apontada como uma vantagem nas cidades onde se implementa o estacionamento pago…
P.C. – …se a rotatividade fosse benéfica, não havia centro comercial nem grande supermercado que não cobrasse estacionamento. Nunca ouvi um espanhol dizer que se tinha ido embora de Vila Real de Santo António porque não tinha lugar para estacionar. Mas já ouvi espanhóis a dizer que vão começar a ponderar não vir porque têm que pagar. Com a oferta que Espanha tem em todos os produtos, porque é que os espanhóis compram aqui? Certamente é pelo preço. Mas se o espanhol começa a fazer contas aos custos para vir cá, nunca mais vem. E nós nunca mais o conseguimos recuperar. E não estou a falar só do comércio, porque a restauração também pode ter dificuldades tremendas.

J.A. – O que é que poderia ser feito para melhorar o setor do comércio?
P.C. – As câmaras municipais dizem que apoiam as pequenas e médias empresas, mas depois não assistimos a isso. Os défices das câmaras obrigam-nas a procurar fontes de rendimento que, normalmente, são contrárias ao interesse da economia das cidades. O centro da cidade é a parte que atrai as pessoas, que leva as pessoas a conviverem nela. Fazer com que um cidadão tenha que pagar para ir ao centro da sua cidade é retira-lhe uma liberdade que é essencial. O País também deveria perceber que Vila Real de Santo António está a vender produtos portugueses para Espanha. Excetuando o setor do turismo, no Algarve quem é que exporta diariamente para Espanha a não ser o comércio de Vila Real de Santo António? Mas parece que ninguém tem isso em consideração. Mas houve outros erros tremendos.

J.A. – Que erros?
P.C. – Não se pagava na Via do Infante porque era importante que as pessoas chegassem ao Algarve para gastar o seu dinheiro sem ter que pagar para entrar. E Vila Real de Santo António até poderia ter tirado proveito disso, mas não o fez. A primeira informação que deveria estar à entrada do país era a de que não se paga para chegar a Vila Real de santo António ou a Monte Gordo. Além de não se ter feito isso, agora, com a introdução dos parquímetros, estamos a cobrar quando eles chegam cá. Isto é inconcebível.

J.A. – Mas abriu recentemente uma loja em lagos, onde já existia estacionamento pago…
P.C. – …precisamente por sentir esses inconvenientes é que não posso estar a favor. E como dizia o Chavelhita, velho filósofo de rua, quem passa por elas é que sabe. Infelizmente, as cidades algarvia estão a passar por essas dificuldades e já perceberam os inconvenientes que isso traz. Enquanto Lagos já passou por essa fase má e agora está a tentar fazer renascer o centro, ou seja, está numa fase posterior, Vila Real de Santo António está a iniciar um ciclo que já adivinho que vai ser mau. Está a cair no mesmo erro que caíram outras cidades. Em Lagos também existe estacionamento pago, mas não com os valores que foram implementados em Vila Real de Santo António.

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