Morreu José Hermano Saraiva

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Historiador e ministro da Educação durante o Estado Novo tinha 92 anos morreu ontem (20) ao princípio da tarde.

José Hermano Saraiva, historiador e ministro da Educação durante o Estado Novo, figura conhecida da televisão, morreu hoje na sua casa de Palmela, vítima das diversas doenças que ultimamente o atormentavam, disse ao Expresso o seu produtor José António Crespo.

Figura controversa, mas grande comunicador, José Hermano Saraiva nasceu em Leiria no dia 3 de Outubro de 1919, era irmão do professor António José Saraiva (1917-1993) e tio de José António Saraiva, diretor do semanário “Sol”. Foi casado com Maria de Lurdes de Bettencourt de Sá Nogueira, com quem teve cinco filhos.

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O professor “encontrava-se já num estado de saúde muito debilitado”. e, como “sempre se recusou a ir para os hopistais”, encontrava-se na sua residência ao cuidado de enfermeiras.

José António Crespo adiantou que Hermano Saraiva sofria de problemas cardíacos e de uma outra série de problemas de saúde, tendo, inclusive, sido operado recentemente aos intestinos no Instituto Português de Oncologia.

Desconhece-se ainda onde e quando se realizam as cerimónias fúnebres.

José Hermano Saraiva construiu ao longo das últimas décadas uma forte imagem pública devido à presença regular em programas televisivos de divulgação histórica, merecedores de grandes reservas por parte de setores importantes da comunidade académica.

Nos anos de 1980 coordenou uma História de Portugal, editada pela Alfa, reconhecidamente importante para a época, até pelo grande impacto público que conseguiu.

Licenciado em Ciências Jurídicas e Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Lisboa, Hermano Saraiva encontrou no campo historiográfico, através de uma metodologia com frequência contestada, um meio de projetar, graças à sua grande facilidade de comunicação, pequenos e grandes episódios da história de Portugal.

Crise Académica de 1969

O seu percurso político, e apesar de ter sido deputado á Assembleia Nacional e procurador à Câmara Corporativa, ficou sempre marcado por ter ocupado a pasta da Educação entre 1968 e 1970, período durante o qual é desencadeada a Crise Académica de 1969.

No dia 17 de abril de 1969, uma quinta feira, Saraiva acompanhava, com outros ministros, o almirante Américo Tomás na inauguração do novo edifício de Matemáticas da Universidade de Coimbra. A dada altura da cerimónia, no período dos discursos, um estudante – Alberto Martins, atual deputado do PS – sentado no meio da sala, levanta-se e pede para usar da palavra em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra. Recebe de imediato uma enorme salva de palmas por parte dos estudantes.

Uns dias depois, numa comunicação televisiva, Hermano Saraiva refere-se ao incidente para explicar que “o senhor presidente da República, de pé, e fitando o aluno que se lhe dirigira, afirmou que se seguia na palavra o senhor ministro das Obras Públicas”.

Não obstante naquela mesma comunicação televisiva Hermano Saraiva ter garantido que a ordem ia ser restabelecida na Universidade, o que se seguiu foi, na verdade, um enorme período de agitação com prisão de estudantes, greve às aulas, demissão da direção da Associação Académica, encerramento da Universidade, instauração de processos contra os estudantes que, às dezenas, foram incorporados nas Forças Armadas.

Discurso comprometido

Autor de um discurso sobre a história comprometido com o seu próprio empenhamento político, José Hermano Saraiva nunca deixou de glorificar o regime de que ele próprio foi ministro, às vezes com teses no mínimo arrojadas. Num debate televisivo com o historiador Fernando Rosas, por ocasião de um dos aniversários do 25 de Abril, chegou a alegar que Oliveira Salazar teria sido um antifascista.

Irmão do professor António José Saraiva (1917 – 1993) e tio de José António Saraiva, diretor do semanário “Sol” e ex-diretor do Expresso, foi casado com Maria de Lurdes de Bettencourt de Sá Nogueira, com quem teve cinco filhos.

Os legados deste homem intenso, apaixonado, controverso, membro da Academia de Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa da História e da Academia da Marinha, passam, entre outros feitos, por livros como a “História Concisa de Portugal”, já em 25ª edição e traduzida para várias línguas, mas sobretudo pelo modo como, devido à sua eficácia comunicativa e, até, á dramaticidade imposta no seu discurso televisivo, despertou, a paixão por uma certa forma de encarar a história em sucessivas gerações de portugueses.

Anabela Natário e Valdemar Cruz (Rede Expresso)
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