“Não era nenhum ingénuo e sabia o que se passava na política”

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Foi na sua casa em Monte Gordo que nos recebeu. Abriu-nos a porta um homem sereno e amável. A lucidez e a sabedoria que emana impressionam tanto como as histórias que coleciona há 90 anos. António H. Correia foi o último presidente da Câmara de Vila Real de Santo António antes do 25 de Abril de 1974. O regime nunca o impediu de ter “ideias próprias”. Como dirigente académico e membro das Conferências Vicentinas percebeu o valor da palavra “transformação”. Foi vigiado pela PIDE e chegou a ser chamado à capital para não ‘sair da linha’. Dedicou-se às conservas até à reforma. A genealogia levou-o a escrever mais de 10 livros. António H. Correia é daqueles homens que ficam na História. E na memória

JORNAL do ALGARVE (JA) – É um homem da área das Finanças. Como olha para os políticos de hoje e para a forma como é gerido o país?
António Horta Correia (AHC)
– É uma pergunta complicada. Vejo o futuro um bocado turvo. Esperava que a nossa adesão à União Europeia tivesse dado frutos diferentes e que o nosso País pudesse hoje já estar equiparado a outros a nível de salários, condições de trabalho, menos pobreza… E não estamos. Para as novas gerações, sobretudo a dos meus netos, não encontram no País aquilo que esperavam. Para nós velhos é doloroso ver que os netos já licenciados têm de procurar trabalho noutro país. Isso diz muita coisa. Espero que os tempos melhorem.

JA – Foi o último presidente da Câmara de VRSA até ao dia 24 de abril de 1974. Como foi lá parar?
AHC
– Nunca fui político. Depois de me licenciar vim logo para VRSA trabalhar para a fábrica da família e nunca pensei na política, até porque era muito novo. Um certo dia apareceu-me no escritório o Dr. Reinaldo Prazeres – médico – a quem eu devia um favor daqueles que não se podem pagar. Ele salvou a minha filha mais velha quando tinha seis anos. Vinha convidar-me para ser vereador. A minha resposta não podia ser outra do que um ‘sim’ e foi assim que lá entrei. Em 1966 João Gomes Santos era o presidente. Acabou por se demitir porque havia uma disputa com um empresário hoteleiro aqui de Monte Gordo. O Governo deu razão ao empresário e ele saiu. O vice-presidente também saiu e os vereadores ficaram com tudo aquilo em mãos, sem saber o que fazer. Fui nomeado presidente interino por uns tempos… Ninguém queria ser presidente da Câmara por causa do litígio que tinha havido, mas achei que devia assumir o cargo e herdei o que veio a seguir ao processo.

JA – Como foi ser autarca durante um regime ditatorial?
AHC
– Tenho que recuar no tempo. Durante o meu percurso académico em Lisboa tive a sorte de pertencer a grupos de estudantes muito esclarecidos. Tive como colegas Manuela Silva, Mário Murteira, Adérito Sedas Nunes… Fui dirigente académico, inclusive da Juventude Universitária Católica. A nossa perspetiva era a da transformação e tínhamos uma preocupação social muito grande. Adérito Sedas Nunes foi o precursor do estudo da Sociologia em Portugal e contaminou-nos a todos. Tive também a sorte de fazer parte das Conferências Vicentinas e o contacto com pessoas que viviam em condições miseráveis fez-me muito bem. Não era nenhum ingénuo e sabia o que se passava na política graças à minha formação e estudo. Também convivi muito com António Alçada Baptista, um homem muito ativo politicamente. Voltei para VRSA formado e com ideias próprias. A minha atuação na Câmara foi a mesma que tive enquanto estudante e depois.

JA – Teve a vida ‘facilitada’ como presidente da Câmara Municipal?
AHC
– As coisas eram muito diferentes do que são hoje. O presidente não tinha ordenado. O meu trabalho na Câmara era em part-time e por isso tinha de ter confiança total nos funcionários. O Emídio Proença e a Lisete Travassos eram dois excelentes funcionários. Procurei desde logo fazer um saneamento financeiro completo e a autarquia tinha boa atividade. Passámos a ter uma vida equilibrada e mais folgada.

JA – Quais eram as suas maiores preocupações a nível concelhio?
AHC
– Uma das grandes preocupações que tinha era a habitação. Aqui em VRSA tínhamos um bairro da lata – o Bairro das Ciganas – e sempre tive a ideia de acabar com aquilo. Podíamos ter entrado nos programas governamentais de habitação social, que demorariam muitos anos, mas eu e os vereadores fizemos o projeto, com financiamento da autarquia, que incluía 100 fogos no mesmo local. Em Monte Gordo realizou-se o processo de passar para o domínio municipal todo o areal a poente da igreja. Legalizaram-se as inúmeras habitações que se iam construindo apenas com uma autorização verbal, iniciando a urbanização com pontos de água, luz e arruamentos.

Reunião na Câmara Municipal de VRSA, presidida por Horta Correia

JA – Teve problemas depois da Revolução e na transição do regime?
AHC
– Em fevereiro ou março de 74, um amigo convidou-me para almoçar fora de VRSA e achei a conversa um bocado esquisita. Questionava-se o porquê de não sair da Câmara naqueles tempos complicados. Na altura disse que não havia motivos para sair, mas depois percebi o que significava aquela conversa. Quando chegou o 25 de Abril não tive problemas em VRSA. Talvez devido às amizades que tinha tido. Manuel Cabanas era da oposição e formámos uma amizade forte. Continuei na Câmara depois do 25 de Abril até pedir a demissão em junho ou julho.

JA – Chegou a privar com Salazar em alguma circunstância?
AHC
– Não.

JA – Qual o facto mais caricato da sua vida política?
AHC
– Eu e alguns presidentes de câmara aqui do Algarve – Tavira, Faro, Portimão, Lagos, Silves – éramos uma geração que não dependíamos da política e tínhamos as nossas vidas. Estávamos aqui a prestar serviço, mais nada. Íamos jantar juntos várias vezes. Devem ter percebido que estes sete ou oito presidentes se juntavam. Falávamos das nossas atividades e sobre tudo. Um dia fui surpreendido com um telefone do ministro do Interior para me meter num avião e ir a Lisboa ter com ele. No aeroporto estava também o presidente da Câmara de Tavira, que também tinha sido chamado. Em Lisboa, pediram-nos para não interferir na política do distrito nem na atividades dos deputados da União Nacional. Para nós foi um balde de água fria porque nunca pensamos em interferir. Tudo partiu de um mexerico que dizia que estaríamos os presidentes da câmaras mais importantes do Algarve estariam a conspirar entre si. Vim para casa a pensar que era uma pessoa importante. Foram uns tempos engraçados. Depois também há uma história que não posso passar. Não conhecia o José Barão , mas mais tarde ficámos próximos e aparecia-me várias vezes no gabinete quando vinha a VRSA. Um dia recebi uma carta dele que me dizia o seguinte: ‘Fui convidado pelo senhor x para promover uma campanha contra si. Já calculará qual foi a minha resposta e por isso estou a comunicá-la’. Foi um gesto extraordinário que nunca esquecerei e que marcou a nossa convivência. Não que tivesse medo dessa campanha… Quando faleceu, a primeira coisa que me lembrei logo foi de dar o seu nome a uma rua. Era um jornalista de uma retidão inigualável. Não haverá muitos jornalistas que tenham sido capazes de um ato de honestidade e de coragem como o dele.

JA – Chegou a ser vigiado pela PIDE?
AHC
– Quando entrei nesta vida dos papéis, era frequentador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Nos anos 80 falava-se muito dos ficheiros da PIDE e um dia lembrei-me de pedir os meus ficheiros, que hoje tenho na minha posse. Fiquei admirado porque pensava que não tinha lá nada… Nunca tinha tido problemas, mas estava a ser observado em tudo o que fazia. Há documentos que são até sobre a minha atividade como católico. Eram informações de Faro que iam para Lisboa. Até houve uma comunicação da PIDE a dizer que me tinha despedido por discordar da política exercida no distrito. Isto em 1972. Uma invenção completa.

JA – Qual o motivo que levou à decadência do setor conserveiro em VRSA?
AHC
– A pesca acabou e com ela a indústria. A indústria de conservas em VRSA começou dada a abundância de atum e de sardinha. Teve os seus tempos áureos, mas a partir dos anos 60 a pesca do atum começou a decair. As armações não pescavam e até começamos a importar atum de Marrocos. Durante dois ou três anos isso sustentou a indústria, mas depois começaram as dificuldades e toda a indústria conserveira do Algarve começou a ir abaixo. VRSA foi a última zona a aguentar-se com todas as fábricas abertas. Com as leis adotadas depois do 25 de Abril tornou-se impossível porque não havia condições para manter todas as pessoas a trabalhar. Em VRSA tivemos o bom senso de nos associarmos e ainda formámos uma empresa muito bem apetrechada. Exportávamos para todo o mundo. A produção era superior ao conjunto de todas as outras fábricas que fecharam. Foi lá que me reformei.

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JA – O que se recorda dos tempos como provedor da Santa Casa da Misericórdia de VRSA?
AHC
– Foi um cargo quase nominal. A vice-provedora era uma tia da minha mulher – Maria Teresa Sanches – e ela é que dirigia o barco. Nessa altura fizemos o primeiro cortejo de oferendas, mas que infelizmente não se repetiu. Mas se tiver saúde, um livro que ainda quero escrever é sobre o Hospital Marquês de Pombal, que já não existe.

JA – De tantas personalidades que conheceu, hoje há alguém de VRSA que lhe chame a atenção?

AHC – Luís Gomes fez uma ação que acho que foi interessante no que toca à renovação na parte do saneamento, nos acessos a VRSA, na construção do passadiço de Monte Gordo. Infelizmente, depois a coisa não terminou bem… Há pessoas que não gostam, mas acho que foi uma grande figura para Monte Gordo, especialmente.

JA – Atualmente, o que falta no concelho?
AHC
– Um cemitério em Monte Gordo. Há anos fiz um pedido oficial e foi-me dito pela Câmara Municipal que não era possível por razões técnicas, mas penso que no século XXI não há razões técnicas que possam impedir a construção de um cemitério. Quando alguém morre tem de ir para VRSA. Hoje não se justifica.

JA – Como olha para a dinâmica socioeconómica do Algarve de hoje?
AHC
– Assisti à criação da Comissão Regional de Turismo do Algarve e opus-me à forma como foi criada porque esse órgão, apesar das vantagens de propaganda para região, vinha suprimir as comissões municipais de turismo, que no nosso caso funcionava muito bem. Os problemas locais tinham resposta no próprio dia e hoje há muita burocracia. Há muitos órgãos regionais e faltam órgãos locais. O Algarve hoje continua a ser uma potência turística e continuará a ser. É verdade que não podemos contar só com o Turismo, mas não acredito que haja outra atividade que possa ter a mesma expressão. Depois também não compreendo o porquê de o Algarve ainda não ter um hospital maior, por exemplo.

JA – Na sua visão, qual é a personalidade que mais luta pela região?
AHC
– Há deputados que lutam muito pela região. O problema é que temos pouca força política…

JA – Como foi o processo de investigação até escrever os volumes Memórias & Documentos?
AHC
– Comecei com a Genealogia. Estou reformado há 27 anos e nos primeiros anos não fiz nada. Depois surgiu o interesse pela Genealogia porque é uma coisa que não tem fim. Eu e mais um grupo de amigos de Faro e Tavira avançamos muito nessa área e a certa altura aparece também na minha vida o computador, que foi um aparelho que me fez reformar mais cedo. Sentia-me numa situação de desvantagem por não perceber nada daquilo, mas depois tive a necessidade de arquivar mais dados e foi uma ferramenta essencial. A minha base de dados tem hoje cerca de 33 mil nomes. Se não fossem as tecnologias não tinha feito o que já fiz.

JA – O que o fez começar a escrever?
AHC
– A certa altura vi-me na necessidade de escrever factos da família que estavam a ser interpretados de outra forma, com versões que não estavam certas. Depois também me vi pressionado para escrever, mas sempre achei que não tinha nenhuma aptidão literária. A minha escrita baseava-se nas poucas cartas comerciais que fazia. Já com 70 e tal anos meti-me a escrever e foi difícil. Ainda hoje acho que não escrevo bem. Os contactos da Genealogia abriram-me portas na Torre do Tombo, nos arquivos distritais e os livros começaram a aparecer. O primeiro livro, publicado em 2008, foi o mais difícil . Depois quis escrever sobre figuras de VRSA e sobre a sua História do território. Havia muita coisa publicada, mas também muita coisa esquecida, daí ter o nome da coleção ser ‘Memórias & Documentos’. Uma vez que não me considero escritor, em nenhum aspeto, foi uma junção das memórias e da minha vontade em publicar documentos. Comprei até um manuscrito num leilão em Lisboa sobre histórias de VRSA, escrito por António dos Santos Machado, capitão dos rebocadores de Vila, que me ajudou muito.

JA – Dos seus antepassados, quem é a para si a figura mais fascinante?
AHC
– O meu bisavô – José Fernandes Piloto. Era armador da pesca da sardinha e foi um dos principais sócios da fábrica de conservas. Foi um impulsionador. Depois o primeiro volume da coleção foi sobre o meu tio António Capa, porque também queria deixar alguma coisa escrita sobre ele. Era também um homem extraordinário. Um benemérito que sabia ajudar e como ajudar.

JA – O último livro da coleção é dedicado a Luthgarda Guimarães de Caires – vila-realense, escritora, poetisa e ativista pelos direitos da mulher e da criança. Porque escreveu sobre esta mulher?
AHC
– Não sabia nada sobre a senhora, assim como penso que a maior parte dos meus conterrâneos nunca ouviu falar deste nome. O facto de ter sido uma mulher de causas entusiasmou-me a saber mais e a escrever. Depois ela própria tinha prosas e poesias extraordinárias. Depois da pesquisa, fiquei surpreso com a sua atuação em vida. O jornal O Século quis publicar os trabalhos que ela apresentou ao ministro da Justiça, veja-se. Luthgarda expõe e denuncia situações de Direito que implicavam coragem na altura. Lotação nas prisões, legislação penal, condições nos hospitais… Era uma mulher atenta aos problemas e injustiças do seu tempo. Pensava pela sua cabeça, era sensível e bem formada. Visitava as crianças doentes e sozinhas do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa. É graças a ela que nasceu o ‘Natal dos Hospitais’.

JA – Considera-se um homem de números ou das letras e da História?
AHC
– Da História. Os números já não me dizem nada.

JA – Qual o acontecimento que mais marcou a região no século XX?
AHC
– A construção do aeroporto. Foi o pontapé de saída para o turismo. E na inauguração foi a primeira vez que voei.

JA – Os jovens de hoje transmitem-lhe esperança ou preocupação?
AHC
– Dão-me esperança. Tenho 13 netos e oito bisnetos…

JA – O momento que mais marcou a sua vida?
AHC
– A morte da minha mulher. Foi há cinco anos. Estivemos 61 anos casados.

JA – Qual o conselho que deixa às gerações de políticos mais jovens?
AHC
– Para não se esquecerem da História.

JA – Das notícias que vê nos dias de hoje, o que mais lhe chama à atenção?
AHC
– A guerra. Não consigo compreender. Criou-se a ONU para que não houvesse mais guerras e não se vê o fim desta e de outras. Estamos em 2023. Parece que não aprendemos nada.

JA – Na sua longa jornada de vida, qual foi a pessoa que mais marcou o seu percurso?
AHC
– O meu sogro. Marcou-me pela forma como ele trabalhava.

JA – Qual é o livro que está a ler agora?
AHC
– Estou a ler ‘Machado Santos – O Intransigente da República (1875-1921), da Coleção Parlamento.

JA – Estão mais livros a caminho?
AHC
– O sexto livro da coleção já está pronto e já estou a trabalhar no sétimo, que vai ser sobre um jornalista de VRSA.

JA – Qual é o seu sítio preferido?
AHC
– Monte Gordo. Sol, praia, calma, pessoas simpáticas. Custa-me sair daqui. A minha casa tem 65 anos… Nasci na casa em frente à minha.

JA – Como gostaria de ser lembrado?
AHC
– Como um bom pai.

A vida de António Horta Correia

António Manuel Capa Horta Correia nasceu em Vila Real de Santo António em 1932. Estudou no Instituto Nun’Alvres (Santo Tirso) e no Liceu Camões (Lisboa). Tem a licenciatura em Finanças pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras de Lisboa (ISCEF). Exerceu a sua atividade profissional em empresas do setor das conservas de peixe. Foi professor provisório na Escola Industrial e Comercial de VRSA, diretor do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento do Algarve, provedor da Santa Casa da Misericórdia de VRSA, vereador e presidente da Câmara Municipal de VRSA.

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