“Nunca fui de esquerda, mas votei Tsipras”

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Conceição Pereira Vasdeki tem quatro netos gregos. Vive em Atenas há 43 anos por causa de uma paixão por um grego, com quem casou e que já morreu. “Nunca fui de esquerda, nunca fui fanática de nada”, diz ao Expresso na noite de mais uma vitória do Syriza.

Esta portuguesa votou no Syriza de Alexis Tsipras porque acha que é o único político grego com força e carisma para “denunciar a corrupção que existe no país”. Este sentimento é partilhado pela politóloga grega Panagiota Bletas: “A vitória do Syriza era previsível. Mesmo aqueles que ficaram desapontados com o último resgate e que estiveram indecisos até ao fim acabaram a votar em Tsipras, porque acreditam nele e têm esperança que ele saiba usar a democracia para lutar pelos direitos da Grécia na Europa”.

Sondagens “viciadas”

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Panagiota Bletas denuncia a atuação das empresas de sondagem gregas: “Os responsáveis pelas sondagens tentaram manipular o sentido de voto dos gregos; já o tinham feito antes das eleições de 25 de janeiro deste ano e voltaram a usar a mesma estratégia”, para amedrontar e baralhar os votantes.

A situação da Grécia é difícil; Tsipras é a última e a “única alternativa. O próximo Governo vai cumprir a legislatura toda”, porque é a última esperança do povo grego. As pessoas apreciam a “segurança de Alexis Tsipras”, diz Bletas. Conceição partilha esta opinião e lamenta que “até agora só tenha sido preso um ministro do Pasok por causa do escândalo de corrupção dos submarinos”.

“Tsipras não pode falhar, não pode desiludir os gregos”, avisa Bletas: “Se ele não conseguir reduzir a dívida da Grécia, fica numa posição muito difícil; as pessoas olharão para ele como olham hoje para os outros políticos” do país, ou seja, com total descrédito.

Primavera da contestação

Logo que entrarem em vigor as duras medidas de austeridade impostas pelo terceiro resgate que Tsipras assinou em agosto passado, “a população vai sair à rua”, refere Panagiota Bletas: “Vai ser na primavera” e a contestação vai ser dura.

O mais provável é que a saúde de Conceição não a deixe participar em manifestações, mas a sua filha de 42 anos é capaz de ir. Viúva há 18 anos, ficou na Grécia por causa dos dois filhos, que trabalhavam ambos numa companhia aérea grega até surgirem grandes complicações financeiras na empresa. “O meu filho teve de sair por causa da crise e é comandante na Emirates. A minha filha que está divorciada e tem quatro filhos, voltou para minha casa e toma conta de crianças. Era hospedeira de bordo”, conta Conceição.

Tsipras: “Somos demasiados fortes para morrer”

Aos 41 anos, Alexis Tsipras simboliza a esperança e a vontade de lutar do povo grego. No seu discurso de vitória na Praça Klafthmonos, no centro de Atenas, lembrou aos opositores nacionais e estrangeiros que tem “um mandato claro do povo grego” para lutar pelos seus direitos.

Quando – pouco antes das 21h00 de Lisboa – subiu ao palco instalado na Praça Klafthmonos, começou por dizer que o “Syriza mostrou ser [um partido] demasiado forte para morrer, apesar de ter sido um alvo para tantos”.

Tudo indica que o ex-militante da juventude comunista vá manter a aliança governamental com os nacionalistas dos Gregos Independentes, o sétimo partido mais votado, que deverá eleger 10 deputados, fazendo com que a coligação obtenha uma maioria tangencial de 155 deputados.

85% das assembleias de voto contadas

Quando já só faltam contar cerca de 15% das secções de voto nas eleições gregas deste domingo, a esquerda grega tem uma clara maioria parlamentar. Os três partidos somam 179 deputados, com o Syriza de Tsipras a eleger 145 deputados, quase metade dos 300 do parlamento sedeado em Atenas.

O maior partido da oposição, a Nova Democracia, é o segundo mais votado e consegue eleger 75 deputados; a ser assim, perde um em relação aos mandatos obtidos nas eleições de 25 de janeiro.

O Pasok recupera quatro deputados [ficando agora com 17] e os comunistas mantêm os 15 conquistados em janeiro. A extrema-direita do Alvorada Dourada deverá manter os 18 deputados da última formação parlamentar.

O novo parlamento grego terá deputados de oito partidos. Além dos já mencionados Syriza, Nova Democracia, Alvorada Dourada, Pasok, Comunistas e Gregos Independentes, estarão também representados o To Potami, com 11 deputados (3,92%), e a União do Centro, com 9 deputados (3,42%).

O ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, é um dos grandes derrotados destas eleições, juntamente com os restantes dissidentes do Syriza que formaram o partido de Unidade Popular – tudo indica que não irão eleger nenhum deputado.

RE

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