O António “da janela do município” passou ao ataque

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Costa mudou de estratégia, emendou a mão, passou ao ataque e venceu o segundo round

António Costa gosta de dizer que a economia nacional precisa de um “programa de fisioterapia” e, pelo que se viu, talvez não fosse má ideia aplicá-lo também à alternativa socialista ao Governo de direita.

No segundo round televisivo para as primárias no PS, Costa mudou de estratégia, emendou a mão, passou ao ataque e ganhou com isso. Conseguiu menorizar a agenda de Seguro – “das 80 propostas que fizeste, só seis e meia é que não estavam no programa eleitoral do PS de 2009” – e, em linguagem futebolística, desta vez ganhou. Mas não conseguiu descolar claramente da agenda de Passos. A sua confissão final de que “não há soluções mágicas, é preciso persistência para continuar a resolver os problemas estruturais do país” está mesmo a pedir um terceiro round…

Percebeu-se que desta vez ía ser diferente, mal os candidatos entraram no estúdio. Costa – o homem que meio mundo disse ter perdido na véspera – vinha cheio de papéis. Bom sinal. Somou à sua exuberante pose de auto-confiança um trabalho de casa q.b., geriu bem os tempos e trouxe frases feitas, sem poupar a obsessão mediática do adversário: “Tens usado muito o que te dizem as agências de comunicação”.

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Seguro ressentiu-se. Sem a arma dos ataques de caráter com que na véspera tinha deixado o adversário de olho arregalado e a engolir em seco, o atual líder socialista pouco mais fez do que agarrar-se às 80 medidas que Costa pôs em xeque.

Sem ir ao tapete, António José Seguro deixou-se encostar ‘as cordas. “Eu tenho feito quilómetros, não estou à janela do município”. O nsoco de Costa foi rápido e certeiro: “Não ofendas os autarcas, essa altivez com que os tratas não te fica bem”. Seguro jogou à defesa – “eu respeito muito os autarcas …”. Ao segundo embate, a música mudou.

Costa pôs a render a alegada derrota da véspera: “Acho que os portugueses odeiam quem faz política na base do ataque pessoal e eu penso que têm razão”, afirmou, justificativo da forma passiva como reagira às acusações de traição do adversário. E Seguro arrumou de vez esta arma. O que os distingue na oposição a Passos e Portas é que continuou a não ser grande coisa.

Costa diz que “seria bizarro ter já um programa eleitoral – nem Passos nem Jerónimo de Sousa têm um”. E Seguro continua a fazer propostas que podiam passar pelo atual conselho de ministros, a começar pelos planos para a reindustrialização do país.

Diferenças visíveis entre os dois: Seguro defende a mutualização da dívida e Costa diz que “as soluções da dívida a seu tempo chegarão”. Seguro quer “uma voz mais forte na Europa”, Costa também, mas alerta que é preciso ser “prudente” para não comprometer as posições que o PS terá que assumir num futuro Governo.

Nem um nem outro esclarece o que fará se ganhar as legislativas sem maioria absoluta. Seguro coloca linhas vermelhas para coligações: nem com quem ataca o Estado Social, nem com quem quer sair do euro, nem com quem quiser mais privatizações. Clara de Sousa, que moderou o debate, alertou-o que está “a reduzir opções”. Costa, ao contrário, foi um mãos largas: “eu falo com toda a gente”.

Se fazer debates for como fazer sopa, talvez no próximo e último, dia 23, na RTP, o candidato mais destreinado (a varanda do município sempre rouba algum tempo ao calcorrear do país) tenha treinado mais a mão e garanta a curva ascendente. Passos e Portas – que veem as sondagens e têm mais medo do António da janela do que do outro – vão estar atentos.

RE

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