O senhor que merece todas as nossas ‘palminhas’

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Muitos reconhecerão a sua voz dos tempos em que foi speaker da Volta a Portugal em Bicicleta e de muitos outros eventos desportivos que ganharam mais vida e popularidade graças à sua energia inesgotável. Foi moço de telegramas, trabalhou nas finanças, foi assessor de imprensa, jornalista, speaker da campanha eleitoral de Guterres e de outros políticos, investigador e ainda hoje continua a escrever. Apesar do carisma, conhecimento e da vontade de lutar por dias melhores, nunca pensou em entrar na política. Faz parte da velha guarda do JA, que em todos os momentos apelida de seu. Para os que tiveram e têm o privilégio de consigo trabalhar, será sempre o Avô Gomes

Manuel Neto Gomes, também conhecido por ‘Palminhas’ (frase com que animava e desafiava os entusiastas da Volta in loco), nasceu em Vila Real de Santo António em 1944. A vontade indómita, a disponibilidade, o talento e a boa-disposição fazem dele uma figura independente e defensor acérrimo da verdade, da pureza e da importância de percebermos que “o país não começou hoje”.

Foi no número 67 da Praça da República, em Loulé, que nos esperava o senhor que outrora foi uma das vozes da Volta a Portugal (e que ainda hoje é uma das vozes da região). Deliberadamente, a emblemática estátua do poeta António Aleixo, agora acompanhada pelos fregueses do Café Calcinha, ouvia a nossa conversa. Sem saberem, Neto Gomes e Aleixo têm várias curiosidades em comum. Ambos são vilarrealenses que foram viver para Loulé, apesar de nunca terem cortado o cordão umbilical que os une à vila raiana. Homens de letras, são duas personalidades ligadas ao povo e à comunidade.

Em Loulé coleciona amigos que o acarinham e reconhecem o seu trabalho

JORNAL do ALGARVE (JA) – Como é que foi a sua infância?
Neto Gomes (NG)
– Comecei a trabalhar aos nove anos no estaleiro do senhor António Pena, a aquecer a comida aos operários. Mais tarde fui trabalhar para um solicitador. Foi uma infância repartida entre trabalhar e ajudar os meus pais naquilo que eles precisavam. Os meus pais eram operários fabris – a minha mãe era batedeira na fábrica de conservas e o meu pai cravador. Tive uma vivência de infância normal, numa terra que considero que foi das terras do Algarve que mais lutou contra o regime, apesar de as pessoas estarem bem na altura, mesmo os industriais. Creio que VRSA foi das primeiras terras a ter uma creche numa fábrica de conservas. Eu vivi na creche da Fábrica do Tenório (conservas de atum)… Nunca nos faltou nada em casa e trabalhamos, que no fundo era a nossa liberdade. Fui para a tropa com 20 anos, antes de frequentar o Externato Nacional, em VRSA. Na tropa ofereci-me como voluntário para a Rádio CISMI, que pertencia à unidade militar, em Tavira, onde estava a prestar serviço – e aí lancei a minha vida. A partir desse momento fiz tudo. Até fui funcionário de finanças. Fui despedido das finanças porque chegou lá um dia o inspetor e mandou-me comprar um maço de cigarros e eu disse que tinha sido contratado para passar licenças de isqueiro. Fiz tudo na vida. Fui chefe de pessoal, de recursos humanos…

JA – Qual foi o seu primeiro trabalho em idade adulta?
NG
– Havia em VRSA uma casa de comércio chamada Bazar das Novidades, que era do senhor Júlio Mendes – representante do Banco Espírito Santo e comercial de Lisboa, do Credit Franc Portugais e da Mundial.Trabalhava comigo, embora um ano mais velho, e era uma espécie de chefe, o João Vasques Gregório, que chegou a ser gerente da Caixa Geral de Depósitos em Faro. A minha função era ir levar ‘letras’ que estavam em dívida às casas comerciais…

JA – É um comunicador nato. O jornalismo entrou na sua vida ou a sua vida entrou no jornalismo?
NG
– Quem entrou na minha vida foi o Jornal do Algarve. Mas antes de entrar no Jornal do Algarve estudei no Externato Nacional, em VRSA, onde até tinha um professor de matemática – o senhor António Rosa -, de quem tenho enormes saudades, que às vezes em vez de meter o cigarro na boca metia o giz, durante as aulas… No externato nós criámos um jornal que era O Topa Tudo. Fiz um artigo a explicar que VRSA tinha a forma de uma pera e não a forma de uma laranja. Esse foi o meu primeiro contributo. A primeira vez que apareci no Jornal do Algarve foi quando mandei uma crónica sobre o abandono da cultura. O senhor José Manuel Pereira, que era na altura o homem maior do Jornal e tinha sido meu chefe dos Escuteiros, escreveu-me com a sua letra muito pequenina e muito certinha a dizer que queria por a minha carta nas ‘Cartas ao diretor’. Escrevi-lhe a dizer que não conhecia o diretor e que não tinha nada que escrever cartas ao diretor… Depois a crónica saiu mesmo como crónica. Iniciámos aí uma relação de grande aprendizagem até hoje.

JA – O que significa o Jornal do Algarve para si?
NG
– A única ausência que há do Jornal para mim é que não está no meu bilhete de identidade. O Jornal do Algarve faz parte de mim pela paixão que sempre tive pelo Jornal e porque o Jornal do Algarve, quando nasceu, e logo na primeira edição, foi um jornal desafiante e desafiador. Tão desafiante que tinha lá um editorial que dizia ‘Como é que a província pode sobreviver se aqueles que lá nasceram passaram a ignorar a sua própria terra?’. O Jornal do Algarve fez esse levantamento. Apaixonei-me por aquela luta… Os meus professores foram a rua, as pessoas com quem contactava… Na vida, como costumo dizer, tenho que ir sempre ao ‘retrovisor’ e o Jornal do Algarve foi o grande retrovisor que eu precisava para ter uma visão. Hoje faço ainda muitas crónicas para o Jornal e vou à memória de coisas que mais ninguém retrata. Para mim, o Jornal do Algarve, ainda hoje continua a ser sinónimo de luta.

JA – Estamos a atravessar tempos difíceis. O que é imperativo mudar para que a imprensa regional não morra?
NG
– Pergunto-me porque é que o Governo abandonou os jornais… É preciso que o Governo se responsabilize por um templo cultural e de grande empregabilidade como é a imprensa regional. Quando o jornal A Avezinha, que se publica em Paderne, morreu, e é esse mesmo o termo, Mendes Bota fez um artigo para esse jornal a dizer assim: ‘Se os autarcas que mandam mensagens de feliz aniversário à Avezinha, lhes entregassem publicidade nesse espaço, o jornal não tinha morrido’. A imprensa regional precisa do apoio das diversas entidades públicas regionais e as entidades públicas regionais precisam do Jornal do Algarve e dos restantes meios de comunicação da região. Nos últimos 30 anos morreram mais de 40 títulos no Algarve. Os jovens que tiram o seu curso em Lisboa, ou noutro sítio qualquer, querem regressar a casa porque não têm condições de pagar uma casa na capital e não podem continuar a sua profissão. Acabam por sair do ramo. E o Jornal do Algarve é feito em Espanha. Se fosse feito em Portugal, possivelmente já teria acabado. O Governo tem uma palavra a dizer e nem era preciso grandes transformações. Bastava o Governo recuar 10 anos, pegar em algum dinheiro que vem de Bruxelas e tentar ajudar. Temos que pensar na importância que a imprensa tem.

JA – Foi, durante quase duas décadas, speaker da Volta a Portugal. Foram os tempos áureos da sua carreira?
NG
– Foram alguns dos melhores momentos da minha vida. Fui speaker de treinos da Fórmula 1, de todas as provas de ciclismo em Portugal, de campeonatos de boxe, da Volvo, de corta-matos escolares, de segurança rodoviária, das campanhas eleitorais, no Algarve, de Jorge Sampaio e António Guterres…

A minha posição na Volta a Portugal foi algo marcante. Eu ia do Algarve.. Agradeço ao Júlio Guerreiro, que era aqui de Loulé, e ao diretor da Volta a Portugal, Serafim Ferreira, que se aperceberam que eu seria capaz. Na altura estava ligado à RDP. Tinha publicado, nessa altura, um livro que continua a ser marcante – Bancadas vazias – um livro polémico e interventivo. Na Volta a Portugal tive dois grandes mentores: o senhor Manuel Graça, treinador de Joaquim Agostinho, que ainda cá está, e o senhor Emídio Pinto, um ciclista do Futebol Clube do Porto. Essas duas pessoas ensinaram-me a ser speaker. Era um speaker amado e odiado. Quando eu falava, todas as rádios que estavam em direto não diziam nada porque só entrava a minha voz. Durante tantos anos, só tive uma crise. Em certa ocasião, a etapa estava a chegar ao Alto da Senhora da Graça, e eu comecei a dizer que estávamos em direto desde o Estádio da Luz, em Lisboa. E aquilo era quase tudo pessoal do norte. Choveram uma série de pedras… Os ciclistas eram pessoas tímidas e sinto que os ajudei… Eles queriam ganhar para ir ao pódio. Tinha depois um slogan que era ‘palminhas, palminhas, palminhas, palminhas (…)’ que era já uma imagem de marca.

JA – Foi secretário técnico do Manuel José, ao serviço do Portimonense. Como foram esses tempos?
NG
– Estive lá dois anos, incluindo o ano em que fomos à Europa (1984/85). Conheci pessoas fabulosas. Tive a confiança de um amigo de infância, o Manuel José. Fui fazer-lhe uma entrevista para o jornal O Jogo e ele perguntou-me se eu queria ser secretário técnico. Aceitei, embora não soubesse exatamente em que consistia o cargo. No princípio não foram tempos fáceis, até pela minha irreverência, que ainda hoje, à beira dos 79 anos continua. O Manuel José foi muito meu amigo e amparou-me. Nessa altura também conheci Manuel João, o presidente do clube, que faleceu há poucos dias. Foi um período de grandes dificuldades económicas. Depois o Manuel José foi para o Sporting e eu podia ter ido para lá também, mas a imprensa de Lisboa não gostava de mim. Cheguei a apresentar um projeto ao Sporting, ao Boavista e ao Farense.

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JA – Hoje, se tivesse que escolher… Futebol ou ciclismo?
NG
– A minha paixão é repartida entre o ciclismo, o futebol e o hóquei em patins. Quando era miúdo havia um senhor que era o senhor Neves, responsável por uma empresa em VRSA, a SAFOL, e que como eu não tinha rádio em casa, com os meus 10 anos, deixava-me ir ouvir o relato dos jogos de hóquei em patins à casa dele. Adorava ouvir os relatos com o Artur Agostinho, Nuno Brás, Amadeu José de Freitas…

JA – Diria que o seu clube do coração, aqui no Algarve, é o Portimonense?
NG
– O clube do coração é o Lusitano de VRSA. Tenho algum sentimento pelo Portimonense, mas quando joga contra o Benfica sou do Benfica. Tenho também um sentimento pelo Farense e pelo Olhanense. Depois gosto que a equipa de Tavira ganhe no ciclismo, que o Louletano ganhe em ciclismo, porque afinal resido em Loulé e também tenho uma paixão especial pelo Louletano. O grupo desportivo PIC NIC, que ajudei a fundar em VRSA, cuja sede era num café com o mesmo nome, foi o clube que mais participou e influenciou a minha formação como homem.

JA – Qual foi o livro que mais gostou de escrever?
NG
– “Pelo Mar Adentro Alimentando o Fumo das Fábricas”. Tem o prefácio de Fernando Reis, do meu mano velho, e do Rosa Mendes, que em certa altura diz que aquele meu livro não é um livro de história, mas que sem aquele livro não se consegue fazer a história. É um livro escrito com muito humanismo. É muito assertivo porque fala das pessoas. É um livro com pessoas dentro. É um livro que conta a história de VRSA dos anos 50 aos anos 60. É um livro cativante que todas as pessoas de VRSA, sobretudo os jovens, deveriam ler. Com a mobilidade de professores, corremos o risco de ninguém perceber a identidade das terras… Se essa memória não existir, perdemos a identidade. Para que esse património cultural e humano exista, é preciso conservá-lo, identificá-lo, explicá-lo e explorá-lo. É preciso mudar.

JA – O que é que descobriu sobre si com a escrita?
NG
– O ‘Zé’ Cruz diz que sou um metafórico… Descobri que não sou capaz de fazer um romance. Não consigo dizer que o que é branco é preto. O ‘Zé’ Cruz é quem escreve os romances e ainda há tempos me fez um desafio: fazer um romance sobre a Volta a Portugal… Mas eu não consigo. Há anos que estou a preparar um romance – Reza Por Mim Professora – e ainda não consegui fazer porque neste momento também estou metido na confusão de escrever um livro chamado Parcelas da Minha Vida.

JA – Ano após ano é distinguido com medalhas e outros louvores. Como se sente nesses momentos?
NG
– Nesses momentos sinto-me o mais importante do mundo. São quatro minutos de glória que nunca pensei viver. Fui reconhecido pelos livros que fui escrevendo, todos eles presos à memória, à identidade e à existência de muita gente que emergiu das dificuldades e pelo Jornal do Algarve que me tem deixado ser cúmplice da sua formidável história. Mas no palco pergunto a mim próprio o que faço ali no meio de tanta gente tão ilustre. De VRSA já tinha recebido uma medalha de bronze em 13 de maio de 1993, pelo antigo presidente da Câmara, António Murta. A que recebi este ano, medalha de mérito cutural, por Álvaro Araíjo, foi a segunda. Depois,no dia 20 de maio, fui agraciadao com a medalha municipal de mérito Grau Ouro, entregue pelo presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo. Utilizo uma frase há imensos anos que vem no livro do O Crime do Padre Amaro. ‘Em todos os momentos está a vida toda’. Para mim também está. Cada momento que eu tenho é a minha vida toda. As pessoas não sabem o que eu tive de fazer para chegar ali. Fiz tudo na vida. Não devo nada a ninguém. Só devo amizade. A minha mulher tem sido uma pessoa espetacular e é ela que devia ter recebido esta última medalha. A minha família é a minha grande sustentabilidade. Sinto-me orgulhoso, acima de tudo.

Neto Gomes mostra a medalha de ouro e o diploma, com que foi agraciado pelo município de Loulé. Na foto Vítor Aleixo, Manuel (neto), Neto Gomes, Sofia (neta) e Silva Gomes, presidente da Assembleia Municipal (foto Jorge Gomes)

JA – Olha para o futuro com esperança?
NG
– O grande problema que temos hoje é saber onde vamos parar com a corrupção, com a mentira, com a deslealdade, com as reformas de miséria… As tecnologias estão a dominar o mundo e o Homem nada faz para contrariar isso. O mundo não aprendeu. Morreram milhões com a pandemia e dizia-se que o mundo ia ser diferente… Afinal tudo piorou. Depois a guerra. Toda a gente a assistir à destruição total da Ucrânia, do Corno de África, da Líbia. Milhões e milhões de pessoas cheias de fome… Não há medicamentos… E os palácios cheios de grandezas… As questões do clima são dramáticas. Precisamos de ter mais respeito pelo futuro.

JA – O que o entristece hoje na região?
NG
– O facto de não falarmos uns com os outros. As pessoas não falam. Estão agarradas ao poder. Pensam que são insubstituíveis… Os algarvios que aqui nasceram, que aqui moram e que escolheram o Algarve para o enriquecer e prestigiar não falam uns com os outros. Por muitas associações que façam, que força é que têm os municípios de Alcoutim, Castro Marim e VRSA? Nenhuma. E são câmaras dirigidas por pessoas com muito valor.

Para além de se fazerem as pontes em pedra, é preciso fazer a ponte das pessoas, dando aqui o exemplo da construção da ponte entre Alcoutim e Sanlúcar. Isso entristece-me. Não fazermos as pontes entre as pessoas.

Depois a própria imprensa do país trata mal o Algarve… O Algarve só tem espaço no escândalo. O Algarve devia ter mais espaço para ilustrar o seu valor e a sua importância.

Depois também me pergunto o porquê de Portimão ter um porto de recreio para a entrada de paquetes e em VRSA não entrar nem um bote. É preciso explicar isso. Porque é que se gastam milhões no metro de superfície do Porto e a linha de caminho de ferro que liga Faro a VRSA tem mais de 100 anos? São essas hipocrisias que eu não percebo… E aqui cabem também o Hospital Central e as portagens da Via do Infante…

JA – Qual é a sua opinião sobre o presidente da Câmara de VRSA, Álvaro Araújo?
NG
– O presidente da câmara de VRSA é um homem com grande visibilidade. Aparece constantemente no Facebook, sabemos por onde ele anda, o que faz… Sempre tudo em prol da terra. É alguém que faz as coisas certas. Tenho por ele enorme respeito e consideração, também pela forma como procura estar perto do Jornal do Algarve, dos cidadãos, com a agravante de estar a presidir um concelho, que não tem merecido dos governantes, de todas as épocas, as respostas aos compromissos assumidos.

JA – Tem-se debruçado, nos últimos anos, sobre a investigação histórica. Qual é a história que conta mais vezes sobre VRSA?
NG
– Havia um homem em VRSA chamado ‘Zé’ Aranha. Escrevi sobre a vida dele. Era uma figura carismática e interessante. O senhor Ramirez, das conservas, comprou na altura um barco com motor fora de borda, uma grande novidade em VRSA.. O barco era branco e ele queria um desenho no barco, na proa. Um leão. Chamaram o ‘Zé’ Aranha para fazer o desenho. Perguntou se queriam o leão com ou sem corrente. Passados alguns dias de estar pronto, o senhor Ramirez lá meteu o barco na água e foi dar uma volta. Quando regressou já não havia leão nenhum. ‘Zé’ Aranha foi chamado ao escritório e explicaram-lhe o que aconteceu. Disse que perguntou se queriam o leão com ou sem corrente. Sem corrente, o leão apanhou água e foi-se embora.

JA – Vive há anos em Loulé. Quais as diferenças e as semelhanças entre os dois concelhos?
NG
– Loulé tem feito imenso para manter a história, preservar as memórias e os grandes edifícios da humanidade e da humanização. VRSA foi sempre uma terra que conspirou contra o Estado Novo. Vicente Campinas, Joaquim Correia, o primeiro presidente da CA a seguir ao 25 de Abril, F. Lopes Madeira, Samúdio, e tantos outros – sempre lutaram a vida toda contra o regime. Havia uma grande cumplicidade entre os industriais e os operários. VRSA é uma terra lindíssima. Lá consigo ver ruas e sítios que já não existem. São terras totalmente diferentes. Também passei momentos fantásticos em Portimão, onde os meus filhos nasceram. De Loulé destaco a grandeza económica, a grandeza histórica e a recuperação constante dessa história. O único problema de VRSA é que está a ser afogada pelas fragilidades do Rio Guadiana. Mas adoro VRSA. VRSA sabe que pode contar sempre comigo. Seja naquilo que for.

JA – Estamos aqui ao pé da estátua de António Aleixo. Há várias semelhanças entre os dois. É uma figura que o inspira?
NG
– O poeta António Aleixo está sempre atualizado na sua escrita. É uma figura indescritível. A identidade de Loulé é Aleixo, a Mãe Soberana e o Carnaval. E outras se começam agora a constituir…

JA – Completa, este ano, 79 primaveras. O que lhe falta fazer?
NG
– Acho que me falta fazer tudo. Não estou apoquentado com a idade que tenho. O que me falta fazer é continuar a fazer o que estou a fazer. Estou neste momento a escrever três livros. Um deles terá, em princípio, o prefácio do professor Cavaco Silva.

JA – Qual é a melhor memória que tem com o saudoso Fernando Reis?
NG
– O Fernando Reis era um homem livre. Um apaixonado pela vida. Um indivíduo que não se escondia. Queria era ser feliz. Até chegámos a fazer uma revista no Brasil para o Jornal do Algarve. Sobre turismo. Gostava de comer. De ler. De se interessar pela vida. Era de uma grande frontalidade e de uma pureza extraordinárias. Tinha um conhecimento enorme. Está a fazer uma falta incrível à família. Ele abria as portas todas e inventava janelas para poder entrar. Um defensor da cultura, do património. Um democrata.
Hoje deve estar muito feliz por saber que tem uma neta…

JA – Como gostaria de ser lembrado?
NG
– Gostaria de ser lembrado como Neto Gomes. Às vezes falam-me do Palminhas, outras vezes do Bancadas Vazias, outro livro que escrevi e que foi marcante.

Nota biográfica

Neto Gomes nasceu em VRSA em 27 de outubro de 1944. Jornalista há mais de 50 anos, tem colaborado com dezenas de órgãos de comunicação social, gabinetes de imprensa e coordenado vários projetos editoriais. É um facto que marcou uma época, ainda hoje inigualável, como speaker da Volta a Portugal em Bicicleta e que o seu segundo trabalho literário denominado Bancadas Vazias é fruto de uma das mais antigas e duradouras crónicas realizadas na antiga RDP Algarve, com o mesmo nome, e que também marcaram uma época na Estação Pública, no Algarve. Autor de Governo Civil de Faro , 175 anos de História, Hospital de Faro – 30 Anos de História Uma Vida de Afectos, A República no Algarve – 100 Anos de República, 100 Personalidades (obra realizada em parceria com o professor Rosa Mendes), Vencendo a Estrada Tendo Loulé Como Bandeira e César Correia O Árbitro Um Ser Humano; Fialho Anastácio Prestar Contas; Vencendo a Estrada Tendo Loulé Como Bandeira – Loulé; Hospital de Faro 30 Anos de História Uma Vida de Afectos; Governo Civil de Faro 175 anos de História (história local). É casado com Maria dos Aflitos Gonçalves Pereira Neto Gomes, professora licenciada em Filologia Germânica e tem dois filhos: Pedro Neto Gomes, médico, e Teresa Neto Gomes, educadora de infância. Tem quatro netos: Guilherme, Maria, Manuel e Sofia.

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