Entre as reações dos partidos à decisão anunciada este domingo por Miguel Macedo, de se demitir do cargo de Ministro da Administração Interna, estão elogios à sua “lucidez” e “dignidade”, assim como críticas ao Governo e aos vistos gold.
A atitude de Miguel Macedo “revela uma imensa dignidade”, afirmou o deputado e vice-presidente do PSD, José Matos Correia, citado pela Lusa. Questionado sobre se o partido considera haver outros ministros com a sua autoridade diminuída, Matos Correia acusou a oposição, em especial o PS, de misturar “alhos com bugalhos” e recusou-se a fazer comparações.
“A situação do doutor Miguel Macedo foi gerada por um caso concreto, uma circunstância de que todos temos conhecimento. Não tem nenhuma relação com outro tipo de situações que dizem respeito a outros membros do Governo”, disse, manifestando “confiança na capacidade do primeiro-ministro” para decidir sobre a composição do executivo em resultado da saída.
Os socialistas, por outro lado, criticaram o primeiro-ministro pela “falta de lucidez” que contrastou com a “lucidez” da decisão do ministro, segundo Marcos Perestrello, vice-presidente da bancada socialista.
“A lucidez política que o ministro Miguel Macedo teve ao perceber que não tinha condições para continuar a exercer o seu mandato contrasta com a falta de lucidez política do primeiro-ministro, que, numa primeira fase, entendeu que havia condições para que Miguel Macedo continuasse a exercer funções governativas”, declarou.
Perestrello alargou as críticas a outros membros do governo, por não terem “condições políticas para exercer as suas funções”, fazendo referência ao ministro da Educação e à ministra da Justiça. Considerou ainda que o executivo PSD/CDS “está há já muito tempo ligado à máquina e não tem condições para continuar a exercer condignamente as suas funções”.
As críticas aos vistos gold
Já o partido comunista defende que a demissão “não é suficiente”, tendo em conta que as “consequências políticas deste caso vão bem mais fundo do que a responsabilidade do ministro da Administração Interna”, afirmou João Oliveira, líder parlamentar comunista, em declarações à Lusa.
O facto de Portugal viver num ambiente de “degradação das instituições políticas”, com “um Governo já sem qualquer credibilidade e sem legitimidade”, justifica que o Presidente da República demita o Governo e convoque eleições, defende. Sobre os vistos gold, João Oliveira diz que são uma forma de criar “campo a este tipo de práticas ilícitas”.
A apontar o dedo aos vistos gold está também o Bloco de Esquerda, defendendo que a demissão do ministro comprova a necessidade de extinguir as autorizações, visto favorecerem “interesses totalmente alheios à população portuguesa” e “a especulação imobiliária”, não criando “um único emprego a não ser a afluência de grandes somas de dinheiro que circulam em circuitos indesejáveis”.
“Paulo Portas tem de responder por este caso dos vistos dourados que só promovem aplicações de capital e que não têm vantagens para o país. Não há nada de bom que seja trazido à economia”, alegou.
Considerando que a demissão “é normal em democracia”, o dirigente bloquista Jorge Costa defende haver outros ministros que deveriam seguir o mesmo caminho. “Achamos que a saída do ministro Miguel Macedo é normal em democracia e era esperada, o que só contrasta, para vergonha da ministra da Justiça e do ministro da Educação, com outras demissões que ficaram por fazer.”
Por outro lado, o CDS lamenta a saída de Miguel Macedo, lembrando que “assumiu sempre o espírito da coligação” no executivo. “Respeitamos as razões que invocou mas não deixamos de lamentar a sua saída”, disse Nuno Magalhães numa declaração enviada à Lusa.
“Quero dizer em nome do CDS – partido para o qual a questão da segurança é muito importante – que Miguel Macedo fez um mandato francamente bom como MAI”.
RE
