Quem são os 5 jiadistas com ligações a Portugal na lista do Daesh

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Sandro Monteiro e Nero Saraiva são dois dos jiadistas portugueses que surgem nas listas do Estado Islâmico (Daesh), o que vem confirmar oficialmente a presença destes combatentes nas fileiras da organização terrorista.

Foi o site sírio Zaman Alwassl que disponibilizou ao Expresso em primeira mão as fichas pessoais de alguns destes terroristas, todas escritas em árabe. Estes serão os mesmos ficheiros que a cadeia de televisão Sky News diz ter em seu poder desde a semana passada e que também estarão na posse das autoridades portuguesas.

Além dos ficheiros de Sandro e de Nero há ainda mais três casos relacionados com Portugal. O terceiro homem com sangue luso é Ismael Omar Mostefai, o lusodescendente de 29 anos que matou 90 pessoas no atentado ao Bataclan em Paris e que, em seguida, se matou. Este nome foi avançado no sábado pelo site da BBC.

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Os outros dois jiadistas a cujas fichas o Expresso teve acesso não são portugueses mas indicaram às chefias do Daesh terem passado pelo nosso território antes de se alistarem na organização terrorista: um é marroquino e o outro tem nacionalidade dinamarquesa.

Abatido em Kobane

Na sua ficha pessoal, Sandro Monteiro identifica-se como Abu Yamina (Elbourtugali), o que significa pai de Yamina, em árabe. Yamina é a filha do jiadista português de 38 anos oriundo da Linha de Sintra.

A sua passagem pelo território sírio foi meteórica. Em janeiro de 2014 chegou ao autodenominado califado disposto o combater. Mas em outubro do mesmo ano foi atingido mortalmente pela aviação ocidental, quando o Daesh tentava conquistar a cidade curda de Kobane, junto à fronteira turca. A família, que vive num bairro social em Monte Abraão, perto de Sintra, recebeu a notícia através de um operacional ligado à organização terrorista.

Sandro era o mais velho do grupo de seis radicais de Leyton, na zona este de Londres e tinha um passado imaculado antes de se mudar para a capital britânica: foi estrela da bola local, tendo feito parte de uma equipa de futebol de salão do Sporting. Acabou por enveredar por um curso de hotelaria, emigrando há alguns anos para Inglaterra, onde trabalhou na restauração. “Era um rapaz pacato“, “tímido” e “boa pessoa”, resumem os amigos e vizinhos.

Em Londres voltou a encontrar os amigos da Linha de Sintra, e juntos aderiram ao lado mais radical do Islão. Um a um, viajaram até à Turquia e atravessaram clandestinamente a fronteira em direção ao autodenominado califado.

Na ficha pessoal, revela ter ficado alojado em Tel Abyad, uma cidade no Norte da Síria. E refere ter passado pelo Reino Unido, Espanha, Tanzânia e Turquia. Assinalou como profissão a de motorista no Reino Unido, onde vivia.

Escreveu na alínea 16 do formulário que queria ser “combatente” e não kamikaze, como grande parte dos jiadistas que preencheu estes formulários.

Foi recomendado ao Daesh por um jiadista britânico conhecido como Yaakhoub al Britani, que terá sido morto em combate contra o exército sírio de Bashar al-Assad em 2015.

O primeiro português na Jihad

Nero Saraiva, ou Abu Yaakhoub Al-andaloussi, é um pouco mais novo do que o amigo falecido em combate. Tem 30 anos e foi o primeiro português a alistar-se nas tropas islamitas na Síria, mais concretamente a 14 de abril de 2012. De acordo com a ficha a que o Expresso teve acesso, quem o recomendou para entrar no Daesh foi um radical chamado Abu Mohamed Abssi. Atualmente encontra-se em parte incerta entre a Síria e o Iraque.

A ficha fornecida por Ethar Abdulhaq, diretor adjunto do site Zaman Alwassl, revela que Nero escreveu no formulário que era casado com duas mulheres e tinha dois filhos. Indicou ainda ser engenheiro civil, com a especialização “na construção de estradas e pontes” e que passou por países como Cuba, Marrocos, Espanha, Portugal, Reino Unido, Tanzânia e Sudão.

A informação bate certo com os dados já obtidos anteriormente pelo Expresso: o português nascido em Benguela (Angola) é engenheiro de formação. Estudou em Aveiro, fez-se engenheiro no Porto e especialista em petróleo em Londres. Foi na capital inglesa que se converteu e radicalizou tal como os restantes cinco operacionais de Leyton.

Em 2014, o seu nome surgiu diretamente associado a um atentado falhado na Tanzânia pelo grupo Al-Shabaab, com ligações à Al-Qaeda: Nero era o elo de ligação que, a partir da Síria, fornecia armamento, dinheiro e conhecimento estratégico especializado. Desde então tornou-se num dos portugueses mais vigiados pelos serviços de informações internacionais. Várias fontes asseguram que é considerado “uma peça importante na hierarquia da organização” devido aos seus conhecimentos técnicos. Antes da chegada ao Daesh, fazia “a supervisão estradas e pontes suspensas”.

Ainda segundo os dados do formulário, Nero Saraiva revelou ter um elevado nível de conhecimento da Lei Islâmica (Sharia).

Nero e Sandro integram o lote de seis jiadistas portugueses com mandados de captura internacional, emitidos pelo Ministério Público (MP), na sequência dos inquéritos que decorrem no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), por factos relacionados com o Estado Islâmico. Esta medida judicial foi só ativada entre o fim de 2014 e o início de 2015, já após o anúncio da alegada morte de Sandro.

O terrorista de Paris

O lusodescendente de 29 anos, Ismael Omar Mostefai, foi um dos terroristas que lançou o terror e a morte em Paris, nos atentados de novembro do ano passado. Armado com uma Kalashnikov e um cinto de explosivos, entrou no Bataclan com mais dois membros de um comando e participou na chacina, disparando rajadas para matar o maior número possível das pessoas que assistiam ao concerto dos Eagles of The Death Metal naquela sala de espetáculos. Matou 90 pessoas naquela noite na capital francesa.

Mostefai, filho de mãe portuguesa e pai argelino, nasceu na periferia de Paris (em Courcouronnes). Esteve na Síria meses antes do ataque, fazendo parte de um vídeo de propaganda posteriormente revelado pelo Daesh: Mostefai é filmado a treinar e a matar um refém.

A BBC garantiu este sábado que é um dos três atacantes em Paris que surge nestas fichas: Samy Aminour e Foued Mohamed-Aggad também foram referenciados nos formulários da organização terrorista

Dois estrangeiros em Portugal

Abu bilal AlMagribi é o nome de um jiadista marroquino de 23 anos que diz ter passado por Portugal antes de se juntar ao Daesh. Na ficha, revela que é solteiro, tem o ensino secundário, a profissão de ferreiro e que morava em Kasbat Tadla, uma cidade no interior do país, a sul de Casablanca.

Além de Portugal, passou também por Espanha e França. Viajou de barco pelo Mediterrâneo e entrou pela Síria através do porto da cidade de Lataquia, o principal do país.

Notícias ainda não confirmadas dão conta de que o jiadista se terá feito explodir junto a um hospital na Jordânia no final de 2015. Nada que surpreenda muito, já que na ficha indica que se alistou para ser kamikaze.

Nos ficheiros do Daesh há ainda o nome do dinamarquês Abu Ibrahim Asseralyouni, de 29 anos, que veio a Portugal mas também andou por Itália e na Jordânia, segundo os dados que colocou no documento. Na Dinamarca era cozinheiro, profissão que indicou pretender continuar a praticar. Entrou na Síria em julho de 2013.

O Ministério da Administração Interna (MAI) não comenta o assunto, que está nas mãos da Polícia Judiciária (PJ) e dos serviços de informações. A ministra Constança Urbano de Sousa garantiu na semana passada que as autoridades estão a analisar atentamente os milhares de nomes que surgem nestas listas.

Hugo Franco (Rede Expresso)

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