Representantes de embaixadas sul-americanas visitam Loulé para diplomacia económica e cultural

Com um tecido empresarial que conta com 14 mil microempresas, novos negócios começam a afirmar-se no concelho de Loulé

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Numa ação de descentralização diplomática promovida pela Casa da América Latina, durante os dias 31 de março e 1 de abril, representantes das embaixadas em Portugal de onze países latino-americanos trocaram Lisboa por uma visita ao concelho de Loulé.

Panamá, Uruguai, Brasil, Paraguai, Chile, El Salvador, Venezuela, Colômbia, Argentina, Peru e México participaram num périplo que teve nas componentes Economia e Cultura os principais focos, “abrindo espaço a futuros projetos bilaterais, promovendo contactos para potenciais negócios com vista a investimentos ‘no lado de lá e de cá’ e reforço das atividades socioculturais conjuntas”, refere a autarquia em comunicado.

Na manhã de dia 31 de março, a delegação foi recebida no Salão Nobre da Câmara Municipal de Loulé para uma sessão de boas-vindas e uma breve apresentação do concelho. Seguiu-se uma incursão num território que se estende da “serra ao mar”. Primeiro, numa passagem pelo interior, os diplomatas tiveram a oportunidade de descobrir a Quinta do Freixo, empresa familiar de Benafim que aposta em produtos endógenos e numa agricultura regenerativa, no setor da transformação com a produção de compotas e outros produtos, depois comercializados ou destinados ao restaurante e espaço de turismo rural aí existente.

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À noite, foi uma realidade distinta que a comitiva encontrou, num jantar na Marina de Vilamoura que contou com a presença de empresários locais que vieram apresentar-se aos diplomatas, até porque “há empresários portugueses que procuram, cada vez mais, internacionalizar-se”. “Ao nível local temos tido bons exemplos de diplomacia económica com frutos, nomeadamente com África, mas estamos sempre a tempo de inaugurar boas relações de interesse económico entre empresários deste concelho e os países da América Latina”, disse o autarca Vítor Aleixo neste momento de partilha.

Com um tecido empresarial que conta com 14 mil microempresas que se dedicam essencialmente, no setor primário, à agricultura, no secundário à construção civil, e no terciário ao comércio, alojamento e restauração, novos negócios começam a afirmar-se no concelho de Loulé, nomeadamente na área das novas tecnologias ou da investigação científica. Se o Brasil, o México ou a Argentina são já mercados conhecidos dos empresários algarvios, a verdade é que ainda há muito por explorar.

Neste encontro, foram apresentados três projetos empresariais consolidados, com sede no concelho, e que são um exemplo da vitalidade empresarial no Algarve: a GARVETUR, empresa que nasceu há 40 anos, no ramo imobiliário, tendo atualmente diversas áreas de negócio; a Quinta da Tôr, produção vinícola do barrocal algarvio nascida em 2011; e a Algardata, com 33 anos de existência, faz parte de um grupo internacional de software.

No segundo dia de visita, sábado, falou-se sobretudo de cultura e património histórico. No Palácio Gama Lobo, sede do Loulé Criativo, a comitiva de diplomatas ficou a conhecer este projeto singular que aposta na valorização da identidade cultural, através do encontro entre as artes tradicionais e as técnicas inovadoras do design. Curiosamente também estão aqui incubados alguns artesãos provenientes de países como Brasil, Colômbia ou Venezuela.

Os Banhos Islâmicos ou o Mercado Municipal de Loulé fizeram ainda parte da visita que teve mais um momento importante, a passagem pelo Jardim das Comunidades de Almancil, e a deposição de uma coroa de flores junto aos bustos dos dois libertadores sul-americanos, Simón Bolívar e José de San Martín.

 “Uma jornada de trabalho e de visitas muito proveitosa”, que deu a oportunidade aos diplomatas latino-americanos de ficarem a conhecer melhor a realidade do concelho, como explicou o presidente da comissão executiva da Casa da América Latina, Alberto Laplaine Guimarães. “As reações que tenho tido por parte dos senhores embaixadores são muito positivas, um deles acabou de dizer-me que está encantando com Loulé. Penso que esta visita poderá trazer frutos no futuro, nomeadamente no campo cultural e económico”, assegurou. Por outro lado, ressalvou o facto de ser esta uma oportunidade de mostrar uma parte importante do país a uma parte importante do corpo diplomático que vive em Lisboa.

Recorde-se que esta não foi a primeira visita a Loulé promovida pela Casa da América Latina. Também em 2014, em colaboração com a Associação Industrial Portuguesa e com o NERA, um grupo de diplomatas esteve neste concelho para uma aproximação à realidade económica local. Desde então estava prevista uma reedição da iniciativa.

Vítor Aleixo, presidente da autarquia mostrou a sua satisfação por receber uma delegação tão numerosa “de diplomatas de países irmãos” e recordou o passado histórico comum que une a Ibéria e a América Latina, “um capital importante que deve ser cultivado e aproveitado”.

O decano daquele grupo de diplomata acreditados no nosso país, Pablo Garrido Araúz, embaixador do Panamá, chegou a Portugal em 2019 mas esta passagem pelo sul do país foi “uma descoberta surpreendente”. “Loulé é um local inclusivo que tem muito a oferecer ao mundo. As autoridades são muito representativas do seu povo, a população é muito acolhedora, e recebeu-nos de forma muito calorosa. A limpeza é também algo formidável que admiro e tenho que destacar”, notou.

O embaixador garantiu que, a partir de agora, ele e os seus colegas serão também “porta-vozes do Algarve e de Loulé”. “Iremos falar e partilhar o que aprendemos e descobrimos aqui. Esta diversidade que encontrámos tem muito a oferecer, não só a Portugal, mas também ao mundo inteiro”.

Como panamiano, assegurou que irá “procurar nichos no Panamá para fazer encontros de parceiros, pôr em contacto os mesmos clusters, seja nas áreas do turismo, gastronomia, artesanato ou outras, de forma a criar parcerias”.

Uma nota ainda na visita para Mary Flores, a nova embaixadora da Venezuela, acreditada pelo Presidente da República na passada quinta-feira e que teve aqui o seu primeiro ato oficial, um momento carregado de simbolismo já que este á um com uma forte comunidade venezuelana

A realização anual do Ciclo de Cinema da América Latina, a oferta de livros editados pela Casa da América Latina à Biblioteca Municipal de Loulé, a presença de artistas e grupos de teatro, folclore e música de países latino-americanos, a visita de uma delegação da comunidade argentina de Comodoro Rivadavia e atribuição do nome desta localidade, onde estão radicados muitos louletanos, a uma artéria da cidade de Loulé ou ainda a inauguração dos bustos de Bolívar e de San MArtín são algumas das atividades que têm pontuado esta relação entre Loulé e a América Latina e o “cuidado que este Município tem em cultivar uma memória de relacionamento ligada à emigração”.

 “Temos projetos não só os do passado, mas também os futuros”, disse Manuel Júdice, secretária geral da associação que anunciou a realização, em Loulé, no mês de outubro, de uma jornada cultural que incluirá cinema, literatura e política para celebrar o 50.º aniversário do Golpe de Estado no Chile a morte de Salvador Allende.

Por outro lado, prevê-se, na área económica, que o projeto de proximidade com comerciantes e pequenos empreendedores da América Latina, na região de Grande Lisboa, possa ser replicado em Loulé. “É uma iniciativa de enorme sucesso, com centenas de milhares de pessoas”, disse a responsável.

Esta relação com Loulé ficará, de certo, reforçada a partir da próxima assembleia geral da Casa da América Latina, a 18 de abril, com a aprovação de um novo plano de atividades e a integração do autarca Vítor Aleixo na comissão executiva da instituição, como vice-presidente.

A Casa da América Latina é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1998, que desenvolve uma intensa atividade económica, científica, política e cultural, com vista ao reforço dos laços de amizade e cooperação entre Portugal e os países da América Latina. Com uma estrutura assente no Município de Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, nas embaixadas latino-americanas acreditadas em Lisboa e num conjunto de empresas, é “uma casa que promove bons encontros à volta de uma região do Globo tão apaixonante quanto diversa e surpreendente”.

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