Será que Merkel enunciou “um disparate” que terá “implicação positiva no humor dos portugueses”?

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É a opinião dos peritos portugueses ouvidos pelo Expresso: Angela Merkel, que disse esta terça-feira que Portugal tem licenciados a mais, está enganada. “É um profundo disparate essa afirmação. Se olharmos para as estatísticas da população com ensino superior, verificamos que a percentagem portuguesa está substancialmente abaixo da média da OCDE e da média europeia”, afirma ao Expresso Alberto Amaral, presidente do conselho de administração da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3Es).

Segundo os dados mais recentes do Eurostat, relativos a 2013, Portugal tem 17,6% de licenciados, enquanto a Alemanha regista uma percentagem de 25,1%. No conjunto dos 28 países da União Europeia, a taxa situava-se nos 25,3%.

Questionado sobre as possíveis consequências desta declaração vinda de uma responsável política, Alberto Amaral desvaloriza: “Quanto muito terá uma implicação positiva no humor dos portugueses”, diz Alberto Amaral.

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“Europa tem excesso de líderes que não estão à altura”
Por sua vez, o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Cruz Serra, lamenta o comentário de Angela Merkel, sublinhando que está longe de corresponder aos objetivos da construção europeia.

“Sobre essa declaração da chanceler Merkel, só tenho uma coisa a dizer: a Europa tem excesso de líderes que não estão à altura do projeto europeu”, diz o reitor da UL. “Não tenho mais nada a acrescentar. Acho lamentável.”

A afirmação é “demasiado infeliz”, “muito “descontextualizada” e demonstra um profundo desconhecimento da realidade portuguesa. É assim que Rosário Gamboa, presidente do Instituto Politécnico do Porto (IPP), encara a declaração de Merkel. “Além disso, é muito pouco oportuna” neste momento em que o objetivo do país deve ser alcançar uma “economia da sociedade do conhecimento reforçada”, sustenta.

Caso contrário, defende a presidente do IPP, “devemos partir do princípio de que Portugal não deve aspirar aos mesmos níveis de desenvolvimento e sustentabilidade de outras potências, fazendo do país um retângulo plantado insignificante”. “No fundo, seria a persistência de uma economia da t-shirt e da mão-de-obra barata e desqualificada, de uma economia de sobrevivência e não do conhecimento.”

Rosário Gâmboa sublinha que a atual taxa de licenciados está ainda longe de cumprir a meta de 40% de jovens com formação superior acordada na Agenda 2020, mas que “a melhoria da formação” em Portugal nos últimos 40 anos é “bem visível” nos serviços, indústria, hospitais, cultura e estabilidade democrática.

Já Alberto Amaral lembra que o maior problema em Portugal continua a ser a enorme percentagem de adultos com escolaridade mínima. Em 2012, 62% da população entre os 25 e 64 anos em Portugal tinha a escolaridade mínima, valor que é de 14% na Alemanha e 15% na Finlândia.

Solução é aumentar a formação intermédia

Esta terça-feira, a chanceler alemã causou polémica numa declaração pública em que referiu concretamente o caso de Portugal e Espanha. “Acreditar que os estudos superiores são o caminho de uma carreira de sucesso é uma ideia errada, à qual devemos continuar distantes, senão não conseguiremos convencer países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados, quanto aos benefícios do ensino vocacional”, afirmou a governante, citada pela “Bloomberg”, durante um evento da confederação das associações patronais do país.

Em 2012, o ministro da Educação, Nuno Crato, deslocou-se a Berlim para assinar um acordo com vista ao reforço do sistema dual de formação profissional em Portugal, inspirado no modelo alemão.

A ação implica um maior envolvimento dos politécnicos e das escolas profissionais na formação, com vista à redução do desemprego jovem.

RE

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