A vitória é histórica. Pela primeira vez desde 1974, as eleições gregas não foram ganhas pelos partidos do centro (PASOK e Nova Democracia), mas sim pelo partido de esquerda Syriza, que defende uma renegociação da dívida, num claro sinal à Europa de que os gregos estão fartos da austeridade.
Uma vitória que para Tsipras é “a de todos os povos da Europa que estão a lutar contra a austeridade”, como declarou no seu discurso na noite de domingo, perante milhares de pessoas. “O veredito do povo grego torna a troika uma coisa do passado”, disse o líder do Syriza, que afirmou no entanto estar disponível para negociar.
A noite começou em grande força, com as primeiras sondagens à boca das urnas a colocar o Syriza perto da maioria absoluta: 36% a 39% dos votos, previam as sondagens. Que é como quem diz 149 a 151 deputados, graças ao bónus de 50 assentos parlamentares para o partido mais votado.
Ao passo que a noite foi avançando, a euforia foi acalmando à medida que a maioria absoluta parecia tornar-se mais improvável. Apurados 99,8% dos votos, a coligação de esquerda radical reune 36,3% dos votos, o que equivale a 149 lugares no parlamento, a apenas dois deputados da maioria absoluta.
A Nova Democracia, partido atualmente no poder, não chegou aos 30%, ficando-se pelos 27,8%, o que corresponde a 76 assentos no parlamento grego. Em terceiro lugar, e contra as previsões de algumas sondagens ao longo deste mês, ficou o partido de extrema-direita Alvorada Dourada. Com a maior parte da cúpula do partido detida a aguardar julgamento, entre eles o líder Nikos Michaloliakos, os neo-nazis tiveram uma campanha mais discreta, mas nem por isso menos eficaz, tendo conseguido mais de 6% dos votos e 17 lugares no hemiciclo.
Coligar com quem?
Com o Syriza a rejeitar alianças com a Nova Democracia e com o Alvorada Dourada, as hipóteses que se assumem como mais prováveis para uma coligação que dê ao partido os dois lugares que lhe faltam para formar um Governo são o estreante To Potami e os Gregos Independentes.
O primeiro, que foi a quarta força mais votada (teve 6% dos votos, o que corresponde a 17 deputados), assume-se como a melhor hipótese para formar uma coligação com o Syriza. O seu líder, o jornalista Stavros Theodorakis, declarou durante a noite eleitoral ser ainda “demasiado cedo para esses detalhes” e deixou o aviso de que não tenciona colaborar com “anti-europeus”. Mas a maior moderação do Syriza ao longo dos últimos meses e a declaração de Theodorakis de que está disposto a negociar tornam provável a aliança do Syriza com o partido pró-europeu de centro-esquerda.
Se não chegar a acordo com o To Potami, o Syriza pode ainda contar com os Gregos Independentes, o partido nacionalista e eurocético, mas anti-austeridade, que conquistou 13 assentos no parlamento (4,7%). O seu líder, Panos Kammenos, declarou este domingo que irá “ajudar a estabilizar esta nova realidade política”, o que pode ser um sinal de que está aberto a negociações. Os partidos discordam em várias matérias, mas estão unidos no combate à austeridade europeia e nas críticas a Bruxelas e a Berlim.
De fora parecem ficar coligações com outros dois partidos de esquerda: os socialistas do PASOK, também com 13 deputados, e os comunistas do KKE, quinta força mais votada (5,4%, 15 lugares). Os primeiros, por terem feito parte do Governo cessante e apoiado as medidas de austeridade, são incompatíveis com o programa do Syriza. Os segundos têm reforçado que não se aliarão à coligação de esquerda, que representa uma “falsa esperança”, como declarou o líder comunista Dimitris Koutsoubas na noite eleitoral.
Certo é que o partido mais votado tem apenas três dias para negociar a formação de um novo Governo. Caso falhe, a bola passa para o segundo mais votado, a Nova Democracia. Serão por isso dias de intensas negociações, em Atenas e em Bruxelas, onde o Eurogrupo se reúne esta segunda-feira. Alexis Tsipras sabe-o, razão pela qual foi perentório na noite da vitória: “Hoje celebramos, amanhã começamos o trabalho árduo”.
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