Uma empresa algarvia… de ferro!

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Poucas são as empresas no Algarve que se podem congratular por terem resistido a crises, mudanças, impasses e desafios. A Metalofarense, que comemora o seu 64.º aniversário em fevereiro, é uma das empresas que tem tido um papel essencial na vitalidade da economia algarvia, tendo deixado a sua marca em obras de grande envergadura na região. O JA esteve à conversa com Luís Afonso, o administrador da empresa farense que nos contou o que está por detrás do sucesso de uma empresa que é de ferro. Literalmente

Corria o ano de 1958 quando Abílio Afonso (1915-1977) foi desafiado a fundar a Metalofarense juntamente com outro sócio, após ter passado pela Escola Industrial e Comercial de Faro (à noite) e de anos de experiência no setor do comércio de produtos siderúrgicos do Algarve. A partir da década de 60, a explosão do turismo impulsionou o desenvolvimento económico da região e alavancou o crescimento e a evolução do negócio de compra e venda de metais da família Afonso e seus associados.


As “sementes” estravam lançadas e “por serem boa qualidade”, nas palavras de Luís Afonso, filho de Abílio Afonso, 73 anos, administrador da Metalofarense desde 1974, a empresa aproveitou “os bons ventos e as oportunidades do pós-25 de abril para se consolidar a criar raízes na região”. A integração de Portugal da Comunidade Económica Europeia (CEE) e a ascensão do setor da construção civil no Algarve contribuíram também para o aumento da procura de produtos siderúrgicos numa região que estava em convulsão e prestes a abraçar tempos áureos.

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Por ser o mais velho de três irmãos (entre uma médica e um historiador), após terminar o serviço militar e com a partida precoce do seu pai, Luís Afonso tomou as rédeas da Metalofarense “quase por acidente”, admitindo ainda hoje que não se considera um empresário “no verdadeiro sentido da palavra”, mas sim “uma pessoa com bom senso, seriedade e com os pés bem assentes na terra”. Luís Afonso garante que “o trabalho principal e o legado da empresa” se deve ao pai, o “grande obreiro” do projeto, pelo que ao longo dos anos a sua atuação tem sido no sentido de se limitar “a seguir e a manter um trajeto, com a preocupação de não estragar aquilo que foi feito”, nas suas palavras.


Com sede em Faro desde 1972, a Metalofarense é uma empresa familiar e uma referência no sul do País no setor da comercialização de produtos siderúrgicos para a construção civil. Ao longo dos anos, a empresa alargou a sua oferta, acompanhando a evolução e as necessidades do mercado, comercializando atualmente produtos para construção, serralharia, canalização, sanitários e acabamentos. Na posse total da família Afonso desde 2001 (após a saída de um dos sócios), tem crescido de “modo sólido, contínuo e com prestígio local e nacional”, acompanhando o desenvolvimento da região com um papel de destaque no setor da construção, tal como nos descreveu o administrador da empresa.

Obras estruturantes têm o cunho da empresa


Muitas das obras e infraestruturas das quais usufruímos hoje no Algarve têm o cunho da Metalofarense. Exemplo disso é a Via do Infante, o Hospital de Faro e Portimão, o Estádio Algarve e até a A2, a autoestrada que liga o Algarve a Lisboa. É a partir do seu armazém, inaugurado em 1982 e localizado em Vale da Venda (Faro), que tudo acontece. Este espaço movimenta anualmente dezenas de milhar de toneladas de produtos siderúrgicos que vão integrar projetos das grandes construtoras nacionais e internacionais a operar em Portugal. Contudo, é no Algarve e Alentejo que estão o maior número de clientes, ainda que Luís Afonso reconheça que a empresa “é tão competitiva quanto as empresas de Lisboa”. Quando às exportações, o gestor diz que há “casos residuais para Espanha ou para as antigas colónias”. O complexo da Metalofarense dispõe de mais de 22.000 m2 com armazém, escritórios, parque de materiais e parque para camiões.


Do ponto de vista empreendedor e da inovação tecnológica, Luís espera ainda conseguir “acrescentar mais valor aos produtos que comercializam”. Por enquanto, a aposta tem sido feita no sentido de atualizar a maquinaria e os equipamentos para facilitar os processos de cargas e descargas e diminuir o esforço humano.

Preço da habitação é um entrave à contratação de pessoal


Um dos maiores desafios da Metalofarense (transversal a todos os setores) é a falta de mão de obra. “Os jovens portugueses não procuram estes trabalhos e a base de recrutamento é proporcional à região e acaba por ser insuficiente para colmatar as necessidades de todos”, lamenta Luís Afonso, que ainda assim diz haver pessoas que procuram a empresa para estagiar. Para o empresário, existem “um conjunto de situações que não jogam a favor da economia algarvia” e reconhece que “a habitação acaba por ser um entrave à fixação de pessoas que até viriam de bom grato de Lisboa para trabalhar”. Para Luís, “este não é um trabalho fácil, mas é um trabalho fundamental”, o que faz com que valorize ainda mais todos os seus colaboradores, independentemente do posto de trabalho.


Na Metalofarense, a média de idades dos trabalhadores ronda os 50 anos, sendo esta uma empresa que tem nos seus alicerces a geração “trabalho para a vida”, numa estrutura ainda assim salpicada por alguns jovens entre os 20 e os 30 anos e com um índice de licenciados “consideravelmente alto”.

Luís Afonso, o administrador da Metalofarense desde 1974

Mecenato em parceria com a UAlg


Enquanto “funcionário mais velho”, com 73 anos, Luís Afonso mantém viva a responsabilidade social da empresa e acredita que a formação e a educação são pilares essenciais nas empresas. Neste sentido, a Metalofarense é uma das empresas mecenas parceiras da Universidade do Algarve, que assegura “o pagamento dos estudos aos alunos mais carenciados para que todos tenham a oportunidade de estudar e independentemente da áreas”, o que por vezes resulta na atração de novos talentos para a empresa.


Luís Afonso sente-se um “homem de sorte e um felizardo”, que acredita que o sucesso da Metalofarense se deve sobretudo às pessoas que têm trabalhado na empresa e ao seu pai que “teve a capacidade de fazer acontecer”. Na sua visão, “são as pessoas que fazem as empresas” e, nesse sentido, sabe que tem a seu lado “gente capaz” que tem levado a casa a bom porto. Com cerca de 60 trabalhadores de várias nacionalidades, Luís Afonso garante que se tem limitado “a gerir os recursos” e a “garantir a solidez financeira e a manutenção dos lucros angariados no passado”, o que permitiu que a Metalofarense atravessasse “crises económicas sucessivas, turbulências, cisões no núcleo empresarial, anos complicados e difíceis, principalmente entre 2008 e 2011, não com um sorriso nos lábios, mas com menos dificuldades do que a maioria das empresas”, assegura.


Por não ter sido uma pessoa “de correr grandes riscos” e por ter “seguido a sabor dos mercados instintivamente”, Luís admite que isso lhe trouxe “vantagens, mas também alguns inconvenientes”. Aconselhar-se e tomar decisões com o apoio dos que o rodeiam tem sido também “a chave para que as coisas tenham corrido e corram bem”, confessa. A capacidade de reinvenção é uma necessidade vital identificada por Luís Afonso, que para além do know-how sabe que é imperativo “investir na comercialização e transformação de produtos ligados à atividade principal, ter outras ideias, fazer coisas novas…”.


Para Luís, a imagem positiva deixa-o orgulhoso e reconhece que “quem olha vê uma empresa estável, com prestígio, moderna, sólida, de gente que procura agradar, gente séria e com passado que de nos orgulhamos”, algo que o deixa lisonjeado.

Reconhecimento, salários justos e distribuição de «frutos plantados»


A filosofia deste gestor é simples: “Prefiro ser um empresário pobre dono de um empresa rica do que um empresário rico dentro de uma empresa pobre”. Por isto, Luís Afonso e a sua estrutura empresarial procuram oferecer “salários justos”, mas também outras condições que procuram “reconhecer as pessoas e distribuir os frutos plantados”, entre as quais “o pagamento de 15 meses anuais aos trabalhadores”, “a oferta de um seguro de saúde a todos os funcionários” e “um fundo de pensões numa forma de complemento à reforma para premiar aqueles que dedicaram anos de trabalho à empresa”, enumerou Luís Afonso em tom de gratidão. “Não podemos pensar só em nós. Sozinho, ninguém vai a lado nenhum”, terminou.


Questionado sobre o futuro da empresa, Luís afirma que “a boa da qualidade da semente foi o que fez a diferença nisto, mas tenho a esperança e estou convicto de quem vier a seguir pode fazer melhor e continuar o nome e o legado dos sócios fundadores”, referindo-se à fase de transição progressiva para a terceira geração da empresa, que terá a filha Carolina Afonso e o sobrinho Francisco a tomar conta dos destinos de uma empresa que tem uma enorme vantagem e algo raro nos dias de hoje: a continuidade geracional do negócio. em fevereiro de 2020.

Joana Pinheiro Rodrigues

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