Vamos lá ver, se nos entendemos… Mentir sim! mas devagar

Vamos lá ver, se nos entendemos…, antes, porém, permitam-me que vos confesse que estive a pensar em fazer uma pausa no meu REMATE CERTEIRO cujos motivos têm a ver com o cansaço, porque um homem não é de ferro, porque ao contrário do pensamento que é LIVRE, a mentira ainda não é LIVRE e ainda anda por aqui muita rapaziada que vem do longe, e a mim e se calhar a muitos da minha idade, nos custa imenso a morte do PENSAMENTO LIVRE. Tal como nos custa ouvir falar e ler sobre o fascismo, o regime, o Estado Novo, a ditadura e a sua indecifrável marca, de jusante a montante, até perder de vista. O que nos custa e este é o grande erro das Universidades, como se o País, tivesse começado agora e o ALGARVE também, sofre desses males, é o sangrento facto cultural, social e humano, em colocarmos o País, as vilas, as aldeias, as cidades, todas no mesmo saco. Aliás, se hoje existisse a teia do pensamento LIVRE, talvez as assimetrias, as diferenças, as causas de abandono territorial, não fossem tão notórias.


Sim! Acreditem, estive para desistir do meu REMATE CERTEIRO…


Já sabemos que o Estado Novo foi uma coisa terrível, dramática, mas isto só por si, não nos comove, mesmo quando nos dizem, mais patética, que poeticamente, que hoje o ALJUBE, TARRAFAL, PENICHE, etc., deixaram de ser prisões, para se transformarem em CENTROS DE CULTURA, DE CONHECIMENTO e até há quem grite, que em vez do Eusébio e do Joaquim Agostinho, que quem deveria estar no PANTEÃO NACIONAL, era o CAPITÃO SALGUEIRO MAIA. Chama-se a isso ser um IDIOTA… então que culpa têm o Eusébio e o Joaquim Agostinho, por exemplo, que os homens vivos e que ainda mandam nisso, às vezes rotulados de inteligentes e não de incompetentes, que é mesmo aquilo que são, tenham tomado essas opções. Eu também defendo o Salgueiro Maia, mas não quero tirar de lá ninguém. O Panteão Nacional ainda não é um Bairro Social, e talvez melhor fosse e por lá caberiam muitos mais. E foi o mesmo erro que afundou o TITANIC, não por não terem visto o ICIBERGUE, mas sim a base que o arrastava…


Abril, sendo um movimento de Capitães, também teve soldados, mas nunca se fala deles, a não ser poeticamente do RAPAZ DO TANQUE, etc. etc. E até militares que fugiram da Guerra, os chamados heróis fugitivos, ainda hoje têm mais impacto e peso, também pelas honrarias. Que estranho impacto, em contraste com aqueles que lá lutaram até ao fim e hoje ninguém sabe, onde estão sepultados…
Os 50 anos de ABRIL, são uma coisa muito mais séria e ainda que defendamos o PENSAMENTO LIVRE, tem chagas que nunca mais saram, como por exemplo o desejo que CORTARMOS A RAIZ AO PENSAMENTO e é por isso, que hoje, dia 26 de Abril, quando estou a escrever este REMATE CERTEIRO, senti uma vontade enorme de desistir, de fazer uma pausa, de poupar esta página ao Jornal do Algarve, para que fosse investida em publicidade e não nos disparates que semanalmente escrevo, autorizado, pela nossa Directora, Dr.ª Luísa Travassos.


Estou cansado. Sinto-me fustigado por patetices, que são o espaço maior das televisões e dos jornais, porque ainda não chego às páginas cor de rosa, pois quando ouvimos e lemos, pensamentos, que até trazem pronúncios de leis, sobre o que foi o REGIME, anterior e como se vivia, no atropelo mentiroso e vigarista, de se fazer a história, mentindo os factos, acabamos por sentir o porquê da insatisfação e desilusão dos jovens, que tudo absorvem, mesmo aquilo que lhes chega, sem dó, nem piedade.


A SIC no dia 25, e como reportagem, no seu «jornal da noite», fizeram escorregar pelas fraldas da história, assente num contexto global, todo o País no mesmo saco, um saco, como diria Teixeira Gomes semi incompleto e falso. Mesmo por aqui, pelo JA, tem ocasiões que aparecem escritos, que nunca aconteceram, no todo nacional, e é preciso, não continuarmos a eleger a mentira como um facto, porque o que se passava em Arraiolos, não era a mesma coisa que se passava, em Vila Real de Santo António, Olhão ou Portimão. E aquilo que se passava em Armação de Pera, não era a mesma coisa que se passava em Torre de Espada à Cinta ou na Marinha Grande. E é aqui, que os jovens, destes lugares, começam a duvidar do legado deixado pelos seus avós, que não foi um legado, para que adormecessem mais cedo, mas antes a fonte, a vida, o sofrimento, mas também os índices de felicidade, com que venciam e conquistavam cada obstáculo.


Trabalho desde os nove anos e não me cansarei de afirmar, que ainda que tenha a consciência que até morrer vamos sempre aprendendo, a verdade é que já não aceito lições, antes CONSELHOS. E eu bem senti, as reações que tive à minha volta, quando em Vila Real de Santo António, durante a TERTÚLIA, que em certa altura, assumi que estávamos a navegar por um TORTURA, e por «criticar», a matriz que me tinha sido dada para começar a intervir, tendo por pano de fundo, o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Eu não abandonei o poema, antes agarrei-me a uma das suas «tábuas», que defende: E livres habitamos a substância do tempo. Foi essa liberdade que me guiou à minha primeira intervenção, diga-se, reforçada, pela sempre forte e exaustiva frase de Sua Santidade: Não tenham medo…
É que só somos donos da nossa liberdade, se entendemos a liberdade dos outros. Ali, no sítio, olhos nos olhos, não «interMUROS», mesmo que inspirados e aconchegados pelos MUROS, da Susana Helena de Sousa.


Acredito no pensamento livre, por isso, apelo para que sejamos capazes de cultivar este pensamento livre, porque se assim for, a nossa consciência ficará mais livre, com outra sabedoria, com outra capacidade de julgar, sem ferirmos ou decapitarmos a nossa ideologia, o nosso ideário, porque quando assim é, também arranjamos em nós um espaço, para acolhermos as outras ideologias e os outros ideários.


Mas deixem-me voltar à SIC, mas antes deixar um sinal de gratidão ao ZÉ Cruz, o grande Zé Cruz, por me decifrar como o metafórico…Nem levo a mal, antes os dias, são para mim menos enublados…
Sim! a SIC fez uma reportagem, sobre o antes dos 50 anos de Abril. Eu sei que o País não cabe num flash, mas sejamos sérios uns com os outros…Repito, os lugares do País, não eram todos iguais… O mais, é o reflexo do ser humano… como se traduz nas palavras ditas, por exemplo pelo Dr. André Ventura e pelo Professor Marcelo, ou seja, nem tanto ao mar, nem tanto à terra…e agora, como se diz na minha terra. Arranha-te, com a história dos 50 anos, 50 deputados, ou então, que temos que reparar o que fizemos em África e no Brasil, ou então ainda e mesmo em talhe de foice e de martelo, quando o Presidente de Angola, vem a Portugal, defender os Direitos Humanos.


Deixem-me regressar à SIC e ao conhecimento que eu tenho sobretudo, sobre as questões da habitação, da saúde e do trabalho em VRSA.


Saúde, tínhamos três médicos. Raul Folque, Prazeres e o Nunes… Este, último não era nada popular. Enfermeiros/as, tínhamos a D. Paula, D. Guida, Menina Mabel, Senhor Munhoz e também o Senhor Miguel, (que coxeava), no Hospital Marquês de Pombal. E ainda tínhamos uma clínica privada, do Dr. Albano Lencastre… E os médicos e as enfermeiras iam às nossas casas e nem pagávamos nada… E tínhamos a Caixa de Previdência, na avenida da república e um espaço, nos baixos do Hotel Guadiana… onde levei «choques eléctricos…» E tínhamos, pão, com quatro padarias…Raimundo, Bartolomeu (Boieiro), Toledo e o Senhor Castanheira. (Leiam, PELO MAR ADENTRO ALIMENTANDO O FUMO DAS FÁBRICAS), de longe o melhor livro sobre a identidade de Vila Real de Santo António, entre os meus nove e dezanove anos. Não tenham medo de se reverem neste livro. Nesta espécie de MONOGRAFIA vadia. Este sim, é um livro sobre os 50 anos do antes, dos 50 anos de ABRIL. Mas «a gente mora longe…»


E tínhamos o Bairro Operário e Sindicatos. E Olhão, Portimão (aqui até havia a Casa dos Pescadores). Sim éramos pobres, mas éramos uma referência na indústria conserveira, de terras que os sucessivos GOVERNOS foram abandonando, como por exemplo Vila Real de Santo António, que até tem um Comandante do Porto, mas não tem PORTO…


Sejamos sérios, o País não começou no dia 25 de Abril de 1974. E se começou, deixaram muita coisa para trás, que tem que ser contada com verdade, também pelas Universidades, para que os alunos não sejam enganados. Se não sabem perguntem a quem sabe… Não enganem mais os JOVENS, nós que tanto confiamos neles. E se as canções são uma arma, porque é que ao longo de quase 50 anos, não carregaram no gatilho? Não realizaram cada uma das palavras? Em sinal contrário, deram vida a historiadores/as, que nada sabem disto…


Vamos lá ver, se nos entendemos, também nas Universidades… Mentir sim! mas devagar.

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