80% dos 2,2 milhões de votos dizem sim à independência da Catalunha

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Hoje votaram 2.250.000 pessoas na consulta simbólica à independência da Catalunha, segundo a estimativa da Generalitat (governo regional). Com 88,4% dos votos escrutinados tinham votado 2.043.226 pessoas, valor de onde parte o cálculo do Governo catalão, explicou a vice-presidente regional Joanna Ortega, frisando tratar-se de “dados quase definitivos”. Os eleitores que não puderam exercer hoje o voto poderão fazê-lo nos próximos 15 dias.

Destas pessoas, 80,72% (1.649.239) votaram sim em ambas as perguntas (“Quer que a Catalunha seja um Estado?” e, se sim, “Quer que esse Estado seja independente?”. Cerca de 10,11% (206.599 pessoas) preferiram a opção “sim-não”. O “não” obteve 4,55% (92.939 votos) e 19.969 pessoas votaram apenas sim na primeira pergunta, abstendo-se na segunda. Houve 11.443 votos brancos (0,56%) e 63.037 nulos (3,09%). Note-se que a natureza não-legal desta consulta e a proibição por Madrid de um referendo afastaram muitos unionistas das urnas.

Os observadores internacionais, liderados pelo escocês Ian Duncan (que é do Partido Conservador britânico e defendeu o não à independência escocesa), defenderam o processo, realizado “em circunstâncias difíceis”.

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“I-Inde-Independència!”

Os partidos soberanistas somaram 2.100.503 de votos nas últimas eleições regionais (57,5%). Os “sins” de hoje não ultrapassam este valor mas muitos analistas têm realçado que houve medo de problemas com a Justiça, dada a posição de Madrid, apoiada pelo Tribunal Constitucional. E há que ter em conta que o total de eleitores potenciais foi alargada com a redução para 16 anos da idade mínima para votar nesta consulta. Eram, ao todo, mais de seis milhões.

“I-Inde-Independència”, gritou-se no antigo mercado de El Born, agora centro cultural, ainda antes de estes números terem sido anunciados. Foi lá que Carme Forcadell, presidente da Assembleia Nacional Catalã, assegurou que “nada nem ninguém nos fará parar até à vitória final”. Frente a centenas de apoiantes da secessão catalã, a ativista afirmou: “A partir de hoje somos um povo livre e soberano”.

Se é certo que a Catalunha não teve força para fazer Espanha aceitar um referendo vinculativo, também é verdade que Espanha não conseguiu evitar que os catalães fizessem prova de vida. “Não há volta atrás”, sentenciou Muriel Casals, líder da associação Òmnium Cultural, defensora da língua catalã e da independência. “É uma etapa muito importante que nos dá força no caminho para a autodeterminação.”

Eleições antecipadas à vista mas sem união

Artur Mas, presidente da Catalunha e nacionalista, diz que amanhã enviará uma carta ao primeiro-ministro espanhol para pedir a reabertura do diálogo. “Pedimos ao mundo que nos ajude a convencer o Govenro espanhol que a Catalunha merece um referendo legal e vinculativo”, disse o dirigente, que apresentará a sua via para o diálogo na terça-feira, após uma reunião do Governo catalão.

Se, como se espera, o conservador Mariano Rajoy continuar a rejeitar o referendo legal e vinculativo, abre-se a porta a uma antecipação das eleições regionais, que deveriam ser em 2016. Essas eleições ganhariam um caráter plebiscitário, substituindo na prática o referendo, caso os soberanistas se apresentassem em conjunto, com a independência (ou um referendo vinculativo) como único ponto do seu programa.

A confirmar-se essa hipótese, será testada a unidade entre os partidos nacionalistas. É que Artur Mas, da aliança Convergência e União (CiU), está pressionado pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e pela Candidatura de Unidade Popular (CUP), que exigem a proclamação unilateral da independência – e ainda esta noite voltaram a exigi-la – e não o “diálogo” que o presidente catalão diz querer reabrir. Por outro lado, Arur Mas quereria, naturalmente, liderar a lista conjunta, mas Oriol Junqueras (líder da ERC) vê sorrir-lhe o primeiro lugar nas sondagens e preferiria ser ele o primeiro presidente de uma Catalunha independente.

Já dentro da CiU, a divisão pode ser por motivos opostos. A União Democrática da Catalunha, partido aliado à Convergência Democrática da Catalunha (onde milita Mas), não é a favor da secessão, apenas da transferência de mais competências e poderes de Madrid para Barcelona. A porta-voz da UDC, Montserrat Surroca, disse que “amanhã terá de haver uma abertura do Governo espanhol para o diálogo”.

Outro partido favorável ao referendo, o ecologista Iniciativa pela Catalunha Verdes, elogiou a “mobilização que fica para a História”. O seu coordenador, Joan Herrera, frisou a “desautorização do PP na Catalunha”. Herrera defendia o sim na primeira pergunta (“Quer que a Catalunha seja um Estado?”) mas o não na segunda (“Quer que esse Estado seja independente?”).

RE

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