Outro dia escrevi sobre modas, instituídas aqui e além e como não podia deixar de ser na língua normalizada dos candidatos, que vão às televisões fazer o que podem para caçar uns votos. E nesta altura, de – relativas – indefinições gerais e, parece, muitos indecisos, nada melhor que duas ou três frases, diferenciadas, como agora se diz, para fazer estrago nos adversários (a melhor/pior de todas foi, até agora de Ventura, que chamou “frouxo” a PNS). A esta altura já encontrei a frase campeã da normalização que é, sem sombra de dúvidas: “a nossa preocupação são as pessoas”. Certo e sabido que, quando alguém fala em reformar a justiça, as pescas ou a criação de galinhas em cativeiro, logo o seu adversário puxa da arma – a cantiga e as palavras são armas, já lá dizia o Grupo de Acção Cultural e, se um pouco de elevação cultural não primar pela ausência, o velho Herodes.
Talvez houvesse que fazer notar a algum dos meus quatro amigos, que o centro da política são sempre as pessoas. A questão é que as pessoas que são centrais para uns pouco existem para outros e vice-versa, mesmo sabendo que a política envolve sempre uma escolha. Eu sei que a frase poderia valer pelo seu poder simbólico, mas não precisa andar-se com uma candeia acesa para perceber que são apenas palavras que ocultam quase sempre outros propósitos, ou na maioria das vezes, falta de argumentos. Quem não se pode queixar de falta de atenção é o líder dos Superdragões, Fernando Madureira, “macaco” para os amigos. Há muito que não vejo aqueles infindáveis programas de debate em que cabeças pensantes, aparentemente com agenda própria, discutem sobre os benefícios de certa imprensa na dignificação do papel dos media. Pois aqui (no processo que conduziu à detenção de Fernando Madureira) está, em minha opinião, um bom exemplo do que se pode intuir como o avanço do populismo junto da imprensa, levado ao colo pelos próprios jornalistas. Se não é disso que se trata, então como se compreende a abertura de noticiários com a prisão de Madureira? Não no primeiro dia que isso ainda era como o outro, mas o primeiro dia foi só a ponta do iceberg. E o iceberg é composto pelas visitas da mulher de Madureira e todo o folclore que sustenta esta tropa fandanga. Não tenho a ideia das notícias como uma questão absolutamente séria, que tirando muitas das imagens de guerra, quiçá populistas, dos políticos em contexto familiar a choramingar agarrados aos filhos, de um populismo dificilmente ultrapassável, pouco sobraria para encher o tempo dos noticiários.
Mas existem prioridades (ou num mundo um pouco melhor, deviam de existir) e de certeza que Madureira não deveria estar na poleposixião. Estou frente à televisão, onde, o prato do dia é a libertação dos arguidos madeirenses que estavam em prisão preventiva. Depois de umas entradas à leão no que parecia uma invasão punitiva à Madeira, uma saída de sendeiro do MP, coisa que infelizmente já não é nova. Se os nossos jornalistas fossem feitos de outra madeira, talvez que se interrogassem, que se o que se passa com os fortes é isto, o que será com as pessoas comuns noutro processos, que não têm este peso mediático? Se calhar, discutir isso, era uma boa maneira de fazer política sem parecer que a fazem.