A saúde no Algarve e o novo hospital

Há anos que se vem falando do novo Hospital Central do Algarve.
Há muito foi apresentado um vídeo mostrando a antevisão de um belo edifício a ser construído no Parque das Cidades, local de boas acessibilidades rodoviárias.
Recentemente os Deputados do Partido Socialista até propuseram, e obtiveram, uma alteração ao Orçamento de Estado que contempla a sua construção.
Uma mais valia para a Saúde na Região.
Mas o Mundo gira e grandes transformações céleres se verificam a que a Saúde no Algarve não é alheia, como se tem verificado.
Recentemente e muito louvavelmente foi incluído no SNS o Hospital de S. Gonçalo em Lagos, renomeado de Hospital das Terras do Infante que dispõe de 44 camas de internamento, Bloco Operatório, Consultas Externas, Laboratório de Análises, Serviço de Imagiologia com equipamento diverso moderno e atual e um Serviço de Urgência Básica, permitindo “oferecer mais e melhores cuidados de saúde” e levar “os Cuidados de Saúde diferenciados para perto da População,” como muito bem referiu a Senhora Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), no qual foi integrado. No seu percurso renovador já vai instalar técnicas cirúrgicas modernas, cirurgia robótica, como há poucos dias referia a imprensa regional.
Está de parabéns a população barlaventina, está de parabéns a Saúde no Algarve, está de parabéns o CHUA.
Há um caminho acelerado, necessário e desejado, para a evolução dos Cuidados de Saúde na Região, sendo óbvio que esta evolução resulta da organização da prestação, tal qual mostra bem a integração do Hospital das Terras do Infante no SNS quando se busca a aproximação dos cuidados de saúde às populações, pois não foi o facto de o hospital de Lagos distar 22 Quilómetros do de Portimão que levou a qualquer hesitação em melhorar a acessibilidade aos cuidados médicos diferenciados das populações dos concelhos barlaventinos.
Daqui que ao olharmos para o Algarve no seu todo se constate que os concelhos barlaventinos – Lagos, Aljezur e Vila do Bispo – com uma população de 45.282 habitantes e onde o concelho mais distante ao seu novo hospital é o de Aljezur, que está a 32 Quilómetros e 35 minutos de viagem, beneficiam, e bem, de um Hospital com técnicas modernas e 44 camas para internamento, enquanto os concelhos sotaventinos – Tavira, Castro Marim, Vila Real de Santo António e Alcoutim – com uma população de 55.319 habitantes, mais 10.037, só têm a possibilidade de obter atos médicos mais diferenciados como os realizáveis no Hospital das Terras do Infante no Hospital de Faro, bem mais distante, de acesso mais difícil até por consequência à natureza da sua missão, e onde o concelho mais longínquo, Alcoutim, está a 93 quilómetros e em tempo, parâmetro tão relevante em saúde, a 1 hora e 12 minutos.
Muitas técnicas, até cirúrgicas, são hoje realizáveis em cirurgia ambulatória, dispensando o internamento, tal como a cirurgia das cataratas, só para dar um exemplo.
Tais atos médicos não são exequíveis num Centro de Saúde, mas podem ser executadas em Instalações de Saúde diferentes, pequenos hospitais, como o Hospital das Terras do Infante bem exemplifica, com grande benefício para a população beneficiária.
Se se considerar na programação de uma Unidade deste tipo a instalar no Sotavento a proximidade de Ayamonte, com uma população de 21.510 habitantes e os programas de desenvolvimento transfronteiriço da Comunidade Europeia, poder-se-á ter de perspetivar logo em sede de programa, um Equipamento de saúde ainda mais abrangente.
Ao Barlavento surgiu-lhe a oportunidade que lhe permitiu preencher a necessidade.
Ao Sotavento há que reconhecer a necessidade para que lhe surja a oportunidade.
Provavelmente o Plano de Recuperação Resiliência e viabilizá-lo-ia.
Mas o que tem isto a ver com o novo Hospital Central?
Num tempo em que os Hospitais instalam e anunciam técnicas relevantes, progressivamente mais diferenciadas sem necessidade de internamento, reconhecendo quão importantes são para o bem estar dos cidadãos (ainda muito recentemente foi inaugurado em cerimónia pública um equipamento hospitalar no Hospital de Faro), assim como os Hospitais se envolvem cada vez mais na intervenção domiciliária como o CHUA persegue com programas específicos para Aljezur e São Bartolomeu de Messines, já anunciados, numa concretização do preconizado nos Sistemas Locais de Saúde , ensaiados no Algarve já no longínquo ano de 1998 e plasmados no Decreto Lei 156/99 no ano seguinte, mostra bem quanto o ambulatório tem vindo a ser preocupação dominante.
Já há Programas específicos de Hospitalização Domiciliaria em curso, desenvolvidos e da responsabilidade de alguns Hospitais, noutras Regiões do País.
Quando a cirurgia ambulatória – que o Hospital de Faro há vinte anos acomodou nas suas instalações com duas salas de operações específicas- mais generalizada está, tal qual outras técnicas hoje exequíveis em regime ambulatório, cada vez mais exigentes serão os Programas Funcionais. Há que neles acomodar as exigências emergentes desta nova era.
Por outro lado também é evidente que os doentes tratados no Hospital das Terras do Infante e que logo deixam de recorrer ao Hospital de Portimão, determinam uma descompressão casuística neste conducente a que o Hospital de Portimão possa aumentar a sua capacidade de resposta, sem qualquer aumento físico do seu espaço. Outro tanto acontecerá com o Hospital de Faro se no Sotavento for criada uma estrutura de Saúde equivalente à de Lagos.
Daqui a necessidade de uma avaliação rigorosa de toda a capacidade instalada ou a instalar, a definição programática da missão de cada Unidade Prestadora previamente definida nos respetivos programas funcionais das Unidades a construir, reconverter ou incluir na rede prestadora de Cuidados de Saúde, de forma a obter uma prestação excelente resultante da cooperação organizada e estratificada, a base da componente terapêutica do SNS, garantindo ao doente a sequência diferenciada dos Cuidados médicos que a sua patologia imponha. Daqui a prestação do SNS em rede articulada das suas Instituições, interligadas e diferenciadamente cooperantes, no tratamento daquela ou daquelas doenças do cidadão enfermo.
Em consequência não chega a ambição de ter um hospital novo, é preciso é ter a ambição de ter um hospital com um programa funcional adequado às necessidades da região que serve, enquadrado nas necessidades de Saúde que tenham sido identificadas, e para a qual prévia e atempadamente se perspetivaram soluções articuladas numa rede prestadora, afinal, insistimos, a essência do Serviço Nacional de Saúde.
Estou bem em crer que o Programa funcional do novo Hospital Central, se não actualizado, estará já muito desajustado às exigências do presente e do futuro, tantos anos volvidos, tantas condições alteradas ou perspetivadas (como seria o caso de um Hospital Sotaventino), e no limite, até poderá ser a instalação necessária mas não prioritária, que contribua no imediato para o bem estar da população no seu todo.
Dizer-se, como já ouvi “é preciso é um hospital novo” será só uma afirmação voluntariosa, emotiva talvez, mas despida de uma avaliação acertada que permita a progressiva melhoria da Saúde na Região.

Fernando Esteves Franco

Médico Ortopedista

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