Ainda vale a pena investir em Angola? “Nesta fase, não. Não há dinheiro, nem negócio”

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Esta é a visão desencantada de um industrial português com duas empresas em Angola, no sector da metalomecânica e manutenção industrial. Ainda vale a pena investir no país? “Neste momento não. Não há dinheiro, logo não há negócio”, responde o empresário ao Expresso.

E prossegue: “Há seis anos, quando me instalei, havia divisas com fartura. Era fácil transferir dinheiro para Portugal e pagar aos fornecedores. Nem havia problemas com a transferência dos salários dos expatriados – na realidade, a maior parte deles são emigrantes”.

Com a crise do peróleo tudo mudou. O dólar “já vale 160 kwanzas, quando ainda há bem pouco tempo valia 100”. E das duas uma: “Ou as empresas suportam a diferença cambial nos salários, ou terão que ser os expatriados a suportar”. E “face uma desvalorização tão acentuada do kwanza (20% em relação ao euro), os trabalhadores começam a fazer as contas e hesitam em permanecer no país”.

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Quem está deve continuar

E no caso de empresários já instalados, vale a pena continuar? “Talvez sim. Tem riscos e custos elevados, a menos que o barril de petróleo regresse aos 100 dólares. Mas há muito investimento feito e é uma pena deixar tudo. Porque Angola tem futuro. Só que criar uma economia diversificada e não dependente do petróleo vai demorar pelo menos uma década”, conta o industrial.

O acesso a matérias-primas para manter a base fabril operacional é um problema. “A pouca matéria-prima que se arranja em Angola, importada por armazenistas, está a um custo exorbitante. É natural porque o armazenista suporta os custos do transporte, alfândega, logística e trabalha com uma margem elevada, longe da bitola europeia, de 5 ou 10%”.

A solução “é importar as matérias-primas todas. Mas, neste caso, sofremos com a falta de divisas na banca para fazer os pagamentos aos fornecedores de Portugal”. Os empresários do ramo da metalomecânica “acabam por ter um stock de matéria- prima muito superior ao recomendável, mesmo segundo padrões africanos”.

Em Angola, de acordo com o mesmo empresário contactado pelo Expresso, “todos os fatores de produção são muito caros. A começar pela energia (há seis anos este custo nem era tido em conta, porque um litro de gasóleo custava 25 kwanzas – hoje custa 135), pelos salários (um serralheiro ou soldador angolano custa mais do que o seu congénere em Portugal e não se pode comparar a produtividade)”.

Mas Angola permanece como um país “de muitas riquezas, que precisam de ser aproveitadas”, conclui.

Abílio Ferreira (Rede Expresso)

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